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Tony Bellotto comemora 40 anos de Titãs: “Não fazemos disco panfletário”

Carioca honorário, ele estreia no Rio turnê com Branco Mello e Sérgio Britto, além de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos

Por Melina Dalboni
20 abr 2023, 19h00

Um carioca honorário. Assim se define o roqueiro paulistano Tony Bellotto, 62 anos, morador de Ipanema e adepto das corridas ao ar livre. Neste momento, ele se prepara para uma maratona: em 27 de abril, dará início à turnê comemorativa das quatro décadas dos Titãs, ao lado de Branco Mello e Sérgio Britto, na Jeunesse Arena. O projeto vai reunir ainda os ex-integrantes do grupo — Arnaldo Antunes, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos. Não à toa, a estreia será no Rio, cidade que tem papel crucial na consolidação do sucesso nacional da banda, em meados dos anos 1980. “No início, nos diziam que, quando um artista não acontecia no Rio de Janeiro, ele não acontecia no resto do Brasil, o que é até hoje verdade”, diz o guitarrista, que também percorre uma já extensa trajetória literária — é autor de doze livros, entre eles Dom, que inspirou o roteiro da série que acaba de estrear a segunda temporada no Prime Video. Com uma condenação no passado por porte de heroína, ele mantém firme posição a favor da legalização das drogas, embora não seja mais usuário delas. “Não uso mais, mas lutarei até a morte pelo direito de qualquer um poder fazê-lo”, defende Tony, casado há mais de trinta anos com a atriz Malu Mader, pai de três filhos e avô de dois netos que estarão na plateia do novo show.

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O fato de reunir integrantes e ex-integrantes da banda em um show tanto tempo depois é sinal de laços firmes? Sem dúvida. E precisamos festejar. Afinal, é raro uma banda de rock fazer quarenta anos no Brasil. Quando foi se aproximando a data, nós, da formação atual, começamos a pensar na comemoração, que celebra um projeto de juventude que iniciamos sem nenhuma perspectiva de que ia durar. E deu certo, o projeto Titãs vingou.

É duro atravessar tantas épocas e seguir despertando a emoção de novas gerações? É um desafio que vencemos pela qualidade das músicas. Compomos como se fosse uma crônica dos tempos em que vivemos. Nunca fizemos um disco panfletário ou dizendo o que as pessoas devem ou não fazer. Algumas canções, como Comida, têm até hoje versos repetidos como slogans. Contamos com um público grande na faixa dos 50, 60 anos, mas alcançamos até crianças, que adoram Bichos Escrotos. Quando gravamos, em 1986, a música foi censurada. Entrou no disco, mas não podia tocar no rádio. Imagina isso.

Viver no Rio há três décadas o fez carioca? Sou paulistano, mas me considero um carioca honorário. Desde que me mudei para o Rio, me apaixonei pela cidade. E todo ano corro a corrida de São Sebastião, dia 20 de janeiro. No princípio da carreira, quando a gente vinha para cá, o Lobão falava para mim e para o Marcelo Fromer que parecíamos dois cariocas integrantes de uma banda de surfe, e era isso mesmo. Anos depois, realizei o sonho de morar aqui.

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Vários ex-Titãs deixaram a banda para seguir carreira-solo. O seu voo solitário é na literatura? Pode-se dizer que sim. Nunca tive vontade de fazer nada na música fora dos Titãs, me realizo sendo o guitarrista da banda. Escrever é um contraponto. Na banda, se trabalha sempre em conjunto, é barulhento, divertido, prazeroso. Na literatura, é solitário e silencioso, às vezes até angustiante. Equilibro as duas energias me diversificando entre essas duas atividades.

“A legalização das drogas já deveria ter ocorrido há muito tempo. Mas há um moralismo, uma hipocrisia com certos assuntos no Brasil”

Vocês viveram o auge da liberdade dos anos 1980. O mundo encaretou? O mundo encaretou muito desde a época da aids, no fim dos anos 80, em que toda aquela revolução sexual teve de ser revista em razão da prevenção. Mas isso abriu espaço para um moralismo se impor. Na virada do século, fenômenos como o terrorismo islâmico e a força das teocracias e dos países antidemocráticos se acentuaram.

E o Brasil também caminhou para o conservadorismo? O Brasil encaretou muito. A força das bancadas religiosas e as correntes moralizantes e retrógradas, que já existiam, hoje são muito mais sólidas.

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Em 1985, você foi condenado por porte de heroína. É a favor da legalização das drogas? A legalização das drogas já deveria ter ocorrido há muito tempo. Lutarei até a morte pelo direito de qualquer um usar. Os próprios economistas concordam que se trata muito mais de uma questão de saúde pública do que de polícia. Mas há um moralismo, uma hipocrisia com certos assuntos no Brasil, que não se consegue nem discutir. Ainda se cria muita dificuldade por essa postura reacionária, fortalecida nos últimos anos com o governo fascista do Bolsonaro.

Ainda usa drogas? Não mais. Levei um susto tão grande quando fui pego que parei aos poucos. Mas acho que, mesmo que aquilo não tivesse acontecido, eu teria parado. Naquela época, o uso da droga estava ligado à efervescência e ao impulso da juventude. A partir de certo momento, começou a pesar. Fumar maconha me dava mais sono do que uma onda legal. Também deixei de beber na pandemia. Para fazer uma turnê e se manter um roqueiro ativo depois dos 60, ou você entra numa de saúde, ou fica difícil concatenar tudo.

Apesar de roqueiros estarem ligados ao estilo sexo, drogas e rock’n’roll, você é casado com Malu Mader há mais de trinta anos. Ter uma família era um projeto? Como todo jovem roqueiro e questionador, no início da vida adulta rejeitei a ideia tradicional da família, que via como algo careta e obsoleto. É surpreendente que uma atriz de sucesso e sex symbol das novelas e um roqueiro tenham conseguido formar um casal que dure tanto tempo. Estamos juntos e cada vez mais apaixonados um pelo outro, felizes e enfrentando as questões da vida a dois de uma maneira legal.

Vocês optaram por não se casar no papel. Já pediu a Malu em casamento? Estando sóbrio, não me lembro de ter feito o pedido. Alterado pode ser, mas ela não levou a sério. Ainda bem. Deu certo até agora, não vamos mexer nisso.

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