“Todo mundo está um pouco solitário”, diz Ary Fontoura

Aos 92 anos, o ator fala sobre a volta às novelas, a sua rotina como influenciador digital e o amor na terceira idade

Por Renata Magalhães
Atualizado em 18 jul 2025, 09h33 - Publicado em 18 jul 2025, 09h20
Ary_Fontoura
Ary Fontoura: “Tenho sete milhões de seguidores. São cem estádios do Maracanã cheios de gente querendo ver as minhas bobagens” (Léo Rosário/TV Globo)
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Vários personagens queridos voltaram à telinha da Globo em Êta Mundo Melhor!, novela das 6 que dá seguimento a Êta Mundo Bom!, sucesso de Walcyr Carrasco de quase uma década atrás. Com os novos capítulos, Ary Fontoura matou as saudades de Quinzinho, dono do sítio onde se concentra o núcleo cômico da trama.

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Aos 92 anos e com impressionante vitalidade, o ator vem se destacando nas redes sociais desde a pandemia e já acumula mais de sete milhões de seguidores no Instagram, onde publica vídeos bem-humorados de sua rotina e entra nas principais trends, com a ajuda de uma equipe. “São cem estádios do Maracanã querendo ver as minhas bobagens”, diverte-se o curitibano, que chega a sua 52ª produção para a TV ó onde também estrelou clássicos como Roque Santeiro, Tieta e A Indomada ó, além de trazer no currículo mais de quarenta peças e 25 filmes.

Em ritmo intenso de gravações, Ary aproveitou um dia de folga em sua casa no Recreio dos Bandeirantes, onde gosta de plantar árvores, para conversar com VEJA RIO sobre a recuperação após um sério edema nas cordas vocais no início do ano e o lado tóxico da internet, com as fake news, das quais já foi vítima.

Repetir uma história de sucesso é mais desafiador do que fazer algo inédito? Não se trata exatamente de uma continuação. São alguns dos mesmos papéis, inseridos em novas situações, aproveitando o que melhor funcionou lá atrás. Gosto muito desse trabalho, que segue leve e tem o entretenimento como principal objetivo. Temos um elenco entrosado e estamos com muita vontade de brincar com o público.

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Como foi o reencontro com o Quinzinho quase dez anos depois? Novela é um mergulho no escuro, surpreende a cada semana. O personagem tem o mesmo tom, mas esse reencontro vai se renovar pelos próximos dez meses, serão mais de duzentos capítulos. Nós, atores, ficamos na mesma situação que os espectadores, querendo saber o que estão preparando para cada núcleo.

Com mais de setenta anos de carreira, ainda sente frio na barriga antes de estrear? Sempre ficamos na expectativa sobre como tudo será recebido, afinal, são meses de preparação. Dependemos totalmente da opinião da audiência e os autores mais espertos captam isso e colocam na obra.

Como desenvolveu o seu lado influenciador? São quatro anos criando “conteúdo” e confesso que essa palavra ainda me assusta um pouco. Minha página nasceu na pandemia e fez sucesso porque se comunicou com todos que estavam — assim como eu — muito desesperados no isolamento. Fiquei preso em São Paulo, sem poder voltar para minha casa no Rio, e percebi que podia ajudar de alguma forma. Houve um interesse em acessar a minha intimidade e a coisa cresceu de forma espantosa. Todo mundo está um pouco solitário, é um mundo muito difícil para a maioria.

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O que a gente vê é mesmo o Ary ou um personagem? As pessoas querem saber quem sou de verdade e não tenho nada para esconder. Quanto mais abertos, mais felizes seremos. Na rua, recebo elogios e abraços, é até difícil ir em alguns lugares. Tenho sete milhões de seguidores, são cem estádios do Maracanã cheios de gente querendo ver as minhas bobagens (risos).

Ganha mais com internet ou com novela? Fazer dinheiro na internet é algo instável, que reflete a situação nacional. Quando as coisas estão mais incertas, não há tanto investimento em publicidade. Consigo monetizar apenas um quarto da minha página. Mas acabei de ganhar contrato vitalício na Globo, então não preciso correr tanto atrás disso.

Qual o seu papel mais inesquecível? O Baltazar, da novela O Espigão, do meu saudoso Dias Gomes. Ele era um professor de biologia tarado, que gostava de cabelo de mulher. Vivia com uma tesourinha no bolso, cortando mechas por aí. Tinha tudo para ser ruim, mas foi um trabalho ousado, no auge da censura.

Você foi internado em fevereiro com edema nas cordas vocais. Como são os seus cuidados com a saúde hoje? Foi um susto muito grande, que me fez voltar aos primórdios da profissão, com exercícios vocais. É difícil achar peça nova para máquina velha, então estou atento a qualquer sinal. Sempre joguei futebol, faço academia há vinte anos e estou inteirinho, sem depender de ninguém. Não me importo com mesquinharia e me mantenho otimista.

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A comicidade é onde se sente mais confortável? Meu humor é uma herança familiar: a gente sempre debochou das situações difíceis. Meu pai era professor, ganhava pouquinho, mas me ensinou que não dá para se aborrecer a cada revés. Por isso digo que a comédia é a tragédia dos outros. Também sei fazer chorar, mas prefiro que riam junto comigo.

O que te faz perder o bom humor? Não sou um robô, não tem como ser feliz 24 horas por dia. O que me deixa bastante chateado é a infinidade de maneiras que tentam interferir no desejo das pessoas. O ser humano tem todo o direito de viver como acha que deve.

Você já foi vítima de fake news, quando publicaram que estaria namorando um rapaz mais jovem. Ficou chateado? Foi uma invasão desnecessária. Nunca interferi na vida de ninguém e quiseram me desmoralizar, a troco de nada. Um rapaz me pediu uma foto para mostrar para a mãe, que era minha fã, e por isso sentou ao meu lado, como já aconteceu incontáveis vezes. Mas o troco veio no mesmo dia. O restaurante onde tudo aconteceu me chamou para uma campanha. Ainda ganhei uma graninha boa.

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Está namorando no momento? Já tive todos os relacionamentos possíveis e imagináveis. Cumpri minha tarefa. Meu amor hoje é mais no imaginário, mas estou vivo, então de vez em quando dou uma olhadinha para o lado e penso: ah, se eu tivesse meus 29 anos (risos).

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