A música transforma: ONG Favela Brass impulsiona mais de 250 crianças
Criado pelo trompetista inglês Tom Ashe, o projeto iniciado em 2014 torna instrumentos acessíveis a crianças em escolas públicas e comunidades
Na tarde da última Quarta-Feira de Cinzas, a favela Pereira da Silva, em Laranjeiras, não chorava pelo fim do Carnaval. Muito pelo contrário. Um cortejo nas ruas contagiava os moradores, que já conhecem bem a figura por trás daquela folia — um inglês que, por meio da música, mudou a história da criançada da região.
Em 2008, o trompetista Tom Ashe fez uma viagem só de vinda para o Rio. Apaixonado pelos ritmos brasileiros, queria conhecer mais de perto a cultura local. “Descobri as rodas de samba, os blocos de rua, e senti que finalmente havia me encontrado”, lembra. Sem dominar o idioma, adotou a linguagem universal da arte para se comunicar.
Logo começou a participar das rodas de samba na Pedra do Sal e dos cortejos com os músicos do Cordão do Boitatá, mas, com o passar do tempo, deparou com uma questão social: crianças de famílias pobres não tinham a oportunidade de aprender a tocar instrumentos, especialmente os de sopro, devido aos altos preços e à falta de acesso. Foi então que ele decidiu se mudar de Santa Teresa, aportou na comunidade da Zona Sul, e fundou a ONG Favela Brass.
“Um trompete no Rio chega a ser três vezes mais caro do que em Londres. Isso está completamente fora do alcance de quem mora na favela”
Os trabalhos começaram em 2014, com apenas quatro crianças, e as aulas aconteciam na própria casa de Tom. Um ano mais tarde, já eram trinta alunos. Outros músicos se interessaram em ajudar, como o percussionista Mangueirinha São Vicente, da Vila Isabel, além de nomes internacionais que se hospedavam na casa do neocarioca.
Para manter o projeto, ele vendeu comida indiana e amealhou doações de instrumentos: “Um trompete no Brasil chega a ser três vezes mais caro do que em Londres, o que está completamente fora do alcance de quem mora na favela”.
Em 2019 alcançou outro sonho: expandir as aulas para escolas públicas. Atualmente, mais de 250 crianças e jovens são beneficiados pela Favela Brass — e muitos antigos alunos se tornaram professores. “Ver pessoas que começaram com a gente ensinando a garotada de suas comunidades é o meu maior orgulho.”
A banda conta com dez músicos e faz apresentações em espaços públicos — no ano passado, embarcou em sua primeira viagem e chegou ao Bourbon Festival Paraty, prestigiado evento de jazz. Agora, depois de dois sofridos anos, foi hora de matar a saudade do Carnaval de rua, onde tudo começou.
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