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Novo álbum, show, trilha na Broadway: as novidades de Carlinhos Brown

Aos 60 anos recém-completos, Brown lançou três álbuns neste ano e chega ao Rio em fevereiro com apresentação que reunirá Duda Beat e Margareth Menezes

Por Melina Dalboni
16 dez 2022, 06h00

O ano de 2023 nem começou, e Carlinhos Brown já trabalha duro mirando lá na frente. Ele está debruçado sobre a trilha sonora, em parceria com a americana Siedah Garret, de Orfeu Negro, o primeiro musical brasileiro a ser montado na Broadway, inspirado no texto de Vinicius de Moraes. “Temos muito a agradecer ao diplomata Vinicius, que continua ativo por meio de sua obra”, elogia.

Aos 60 anos recém-completos, Brown lançou por seu selo, o Candyall Music, três álbuns neste ano — o mais recente, Mar Revolto, de rock. Em janeiro, sai mais um disco, Pop Xirê, e ele também se prepara para celebrar três décadas de criação do Timbalada, com a retomada da formação original. O próximo show no Rio, Ensaio du Brown, é em 4 de fevereiro, com participação de Duda Beat e Margareth Menezes.

Indicado ao Oscar e vencedor de dois Grammys Latinos e de um Prêmio Goya, Brown é autor de 908 canções, segundo levantamento recente. Destas, onze trazem o Rio no título: “A cidade sempre foi um sonho de conquista e eu a homenageio pelo abraço que sempre me deu”.

Pai de oito filhos, dois deles músicos, Chico e Miguel, e de uma cantora e atriz, Clara, confessa que aprendeu a ser um pai melhor com as filhas meninas. “Elas são donas de uma inteligência feminina inalcançável e, sempre que penso, vejo que têm razão”, explica nesta entrevista a VEJA RIO direto de Salvador.

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Como é a experiência de fazer um musical para a Broadway? Fazer um musical do Brasil na Broadway que foi pensado para ficar 25 anos em cartaz é uma grande oportunidade na minha vida. O trabalho, aliás, está indo muito bem. Temos muito a agradecer a Vinicius de Moraes.

Depois de compor o samba-enredo da Mocidade, em 2021, tem planos de participar do próximo desfile? Neste ano, a Mangueira (cujo enredo é As Áfricas que a Bahia Canta) veio a Salvador para pesquisar e tivemos muitas conversas. Isso já é uma colaboração minha para a escola. Vejo o Carnaval como o grande olimpo da cultura brasileira.

Seus laços com o Rio são fortes? Sou neto de um carioca, Renato Teixeira de Freitas, e o avô dele, Augusto Teixeira de Freitas, que saiu da Bahia e foi para o Rio de Janeiro, escreveu o Código Civil do Brasil. E ainda tenho um padrinho que veio da Mangueira.

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Você incluiu o Rio no título de mais de dez canções. Por que a constante homenagem? O Rio sempre foi um sonho de conquista e eu o homenageio pelo abraço que a cidade sempre me deu. Tinha até apelido aí por causa do meu nariz — me chamavam de Dois Irmãos e eu adorava. Minha relação com a cidade também ficou muito mais forte depois de meu encontro com Helena (Buarque, sua ex-mulher, filha de Chico Buarque e Marieta Severo) e dos meus filhos.

Qual a influência da Marieta Severo, sua ex-sogra, em sua vida? Marieta é uma mestra na minha vida. Tenho muito amor por ela, que nunca deixou que o amor, o carinho e o respeito dessa família se perdessem. É aí que está a força do matriarcado.

E com Chico, troca ideias sobre música? Muito. O tempo inteiro. Chico evoluiu demais, aprendo muito com ele.

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“Existem inúmeros tipos de preconceito. O maior deles é com a figura do negro bem-sucedido, como se isso não fosse possível”

Você entendeu que estava falando de Chico Brown, seu filho, mas me referia a Chico Buarque. Ah, Chicão é incrível. É meu ídolo, alguém que até hoje me faz tremer quando chego perto. Numa conversa, uma vez, lhe disse que o primeiro acorde de sétima maior que aprendi foi com uma música dele, Trocando em Miúdos. Aí ele respondeu, bem a seu jeito: “Essa música não é minha, é de Francis Hime, eu só botei a letra”.

Como foi tocar com o gênio da bossa nova João Gilberto? Me vem à mente a imagem dele assustando Paulinha (Lavigne) e Caetano em um hotel medieval em Carcassonne, no sul da França. Ele tinha um jeito muito moleque e teve a ideia de dar um susto neles. Também sempre pedia cordas velhas e me dava as novas, pedindo que eu as usasse bastante e lhe doasse depois. Chico, meu filho, ficou amigo de João no fim da vida dele.

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Como avalia a nova geração de músicos? São austeros, responsáveis e extremamente ligados à música. Temos uma geração pulsante e importante em várias vertentes, como o Atocha, a Duda Beat e vários outros. Eles são uma garantia de que a música brasileira está viva.

Você é um artista múltiplo, mas qual considera sua maior contribuição para a cultura? A percussão é meu maior legado. Através dos ensinamentos do Mestre Pintado do Bongô e da criação do Timbalada, consegui criar instrumentos, levar a percussão a outros espaços, ir ao mundo e falar do país que amo.

Você foi alvo de preconceito vinte anos atrás, durante um show no Rock in Rio, quando arremessaram garrafas em sua direção. Sua atitude foi de dizer “nada me atinge” e seguir cantando. Hoje faria igual? Sim, claro. Existem inúmeros tipos de preconceito e racismo. O maior deles é com a figura do negro bem-sucedido, como se isso não fosse possível. Muitos disseram que eu estava no dia errado, mas não. No final das contas, sou agradecido pelo que aconteceu.

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Por quê? O que, afinal, venceu: o preconceito ou a exposição do problema? A exposição, sem dúvida. Foi ela que me pôs a refletir, nos fez discutir, me jogou no mundo e me tornou o maior detentor de direitos autorais daquele ano, com A Namorada, justamente a música que cantava enquanto jogavam as garrafas em mim. Eu não estava sozinho no palco, tinha Brasil demais junto comigo, e houve um choque. Isso também influenciou o Rock in Rio, que hoje é muito mais brasileiro do que era.

Do que tem medo? De voltar à pobreza, e é por isso que acordo todo dia para trabalhar. No meu celular tem 3 568 músicas inéditas.

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