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Da moda à gastronomia, ícones de outros tempos retornam à vida do carioca

Onda nostálgica impulsionada pela busca da sensação de aconchego se intensificou na pandemia, trazendo de volta do ovo de codorna com molho rosé a Pantanal

Por Renata Magalhães
Atualizado em 17 jun 2022, 09h19 - Publicado em 17 jun 2022, 06h00
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  • Ovo de codorna com molho rosé: sim, de volta ao Chanchada Bar -

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    Ovo de codorna com molho rosé: sim, de volta ao Chanchada Bar

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    Exibida há mais de três décadas pela extinta TV Manchete, Pantanal, novela de Benedito Ruy Barbosa, se tornou, no atual remake da trama, um fenômeno que perpassa gerações e classes sociais. A releitura global, assinada pelo neto do autor, Bruno Luperi, vem batendo recorde atrás de recorde de audiência e de engajamento nas redes sociais. Tamanho sucesso fez a emissora colocar no radar a reedição de outro clássico, Xica da Silva, de 1996. O frenesi em torno da lenda de Maria Marruá, a mulher que vira onça, finca raízes em uma tendência mundial que ecoa no Brasil: ícones de outros tempos estão retornando sob o embalo de uma onda nostálgica que aflorou com força na pandemia e persiste depois dela. Do entretenimento ao consumo, passando por gastronomia, moda, música e decoração, percebe-se uma busca pelo conforto proporcionado por aquilo que nos é familiar. “Enquanto a expectativa de mudança em um futuro causa ansiedade, o passado é um terreno conhecido. Por isso, esse olhar para trás nos acompanha, como um eterno vale a pena ver de novo da vida”, explica Carol Fernandes, coordenadora do laboratório de tendências da Casa Firjan.

    Só sucesso: Pantanal bateu recorde de engajamento nas redes sociais
    Só sucesso: Pantanal bateu recorde de engajamento nas redes sociais (./TV Globo)
    Versão disco: hits de 1980 embalam festas como a Carnageralda -
    Versão disco: hits de 1980 embalam festas como a Carnageralda (CARNAGERALDA DISCO/Divulgação)

    Durante o isolamento pandêmico, tal “viagem no tempo” acentuou-se como poucas vezes se viu. E a ciência foi investigar as razões, trazidas à luz em um estudo conduzido por pesquisadores das Universidades de Southampton, na Inglaterra, e de Zhejiang, na China. Ele mostra que a lembrança de vivências que deixaram saudade eleva a sensação de felicidade e suaviza o peso da solidão. Além disso, diferentes gerações, forçadas a conviver sob o mesmo teto, começaram a trocar experiências, o que intensificou o interesse pelo passado. “Pude assistir ao tricampeonato do Ayrton Senna com os meus filhos e essas retrospectivas me inspiraram a resgatar outras memórias”, lembra o produtor Peck Mecenas, pai de dois meninos, de 7 e 14 anos. E assim ele pôs de pé o Rock Brasil 40 Anos, primeiro grande evento-teste no Rio pós-Covid-19, realizado em novembro, com shows de ícones da música nacional dos anos 1980. Depois de rodar o país e retornar para uma segunda etapa na cidade, o projeto provou o apelo do saudosismo ao reunir mais de 365 000 pessoas e ganhará sequência em 2023, com outro festival, batizado de Gangue 90, que vai contemplar a trilha sonora da década seguinte.

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    Está na moda: o shortinho de lycra da Bad Boy viralizou após clipe -
    Está na moda: o shortinho de lycra da Bad Boy viralizou após clipe – (Reprodução/Instagram)

    Foi uma banda das antigas, aliás, que despertou a veia nostálgica do restaurateur carioca Eduardo Araújo. Quando uma amiga na casa dos 20 e poucos anos começou a ouvir o grupo Depeche Mode, formado em 1980 na Inglaterra, ele resolveu pesquisar e descobriu um movimento nascido na Coreia do Sul chamado “newtro” (mistura da palavra “novo”, em inglês, com retrô), baseado na repaginação das ondas do passado. “Tinha tudo a ver com a proposta de resgate que eu busco para os meus bares, sempre com um olhar renovado”, conta ele, à frente de quatro espaços na cidade invariavelmente lotados. No Chanchada, em Botafogo, ele introduziu há pouco o ovo de codorna com molho rosé — agora marinado no shoyu. Mesmo trivial, virou um dos petiscos mais vendidos da casa. O sucesso de clássicos que atravessam as décadas se repete em seus outros negócios. Próximo dali, no Quartinho Bar dá para pedir um dry martini servido com azeitona na taça cupê, à la James Bond. No Café 18 do Forte, em Copacabana, o bloody mary vem com um enorme camarão, como nos coquetéis de outrora, enquanto o gastrobar Pope, em Ipanema, dispõe de carta só de negroni — drinque muito apreciado lá atrás que se tornou o mais pedido no mundo em 2021, segundo a publicação britânica Drinks International.

    Nos embalos dos anos 80: a Blitz foi atração do festival Rock Brasil 40 Anos -
    Nos embalos dos anos 80: a Blitz foi atração do festival Rock Brasil 40 Anos – (Ricardo Nunes/Divulgação)

    Uma busca nos sites de comércio eletrônico fornece mais evidências de que produtos que até há pouco pareciam restritos ao universo dos colecionadores atraem renovada atenção. Após o início da pandemia, o Buscapé registrou um aumento de 139% no interesse por ofertas de vitrola e toca-discos. “Eu gosto do ritual que envolve um vinil, ouvir música vira uma experiência e a qualidade sonora nos transporta para outros tempos”, diz Daniel Martins, ex-baterista da banda Medulla e novo assinante do Noize Record Club, um clube de assinatura de vinis que viu aumentar em 200% o número de inscritos desde o início da pandemia. Letreiros de neon em alta na decoração, câmeras analógicas a tiracolo e noitadas com repertórios temáticos de distintas gerações são mais alguns exemplos da mania nostálgica que se espraia pela cidade. “Tem uma trinca que sempre deixa a pista cheia: Donna Summer, Thelma Houston e Sister Sledge”, lista Rosana Rodini, uma das sócias da festa Carnageralda, que já teve duas edições disco, com frequentadores que chegam montados a caráter com looks dos anos 1980. “Existe uma memória afetiva em torno desse tempo que faz o público se conectar”, acredita.

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    Mania nostálgica: Daniel Martins virou assinante de clube de discos de vinil -
    Mania nostálgica: Daniel Martins virou assinante de clube de discos de vinil – (Leo Lemos/Divulgação)

    Atire o primeiro chinelo Kenner o trintão que não teve suas memórias atiçadas pelo vídeo compartilhado nas redes das dançarinas Aline Maia e Juliete rebolando em Madureira ao som de Tati Quebra Barraco e DJ Marlboro. Hoje com mais de 3 milhões de visualizações, a gravação foi feita com o funk Montagem Guerreira, que alcançou a fama no início dos anos 2000. A dupla ainda vestia o shortinho de lycra inspirado na marca Bad Boy, clássico incontestável de quem viveu naquela época, usado também pela cantora Anitta em sua última festa de aniversário, em Los Angeles.

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    “Nosso cérebro tende a registrar mais as coisas boas, por isso algumas memórias são até um pouco distorcidas da realidade. A nostalgia vem como uma descarga de dopamina que nos dá a oportunidade de reviver as coisas boas do passado”, esclarece a psiquiatra Analice Gigliotti. “É o que acontece quando colegas de turma se reúnem ou sentimos um cheiro de que gostávamos muito”, acrescenta. Isso ajuda a explicar o burburinho que o retorno de outros xodós do carioca, como o Tivoli Park e a loja de departamento Mesbla, provocou nas redes sociais. Recordar também é viver.

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