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“Nada mais assusta”, diz Pretinho da Serrinha

Prestes a estrear a nova temporada de sua famosa roda, o sambista conta porque saiu do Jockey e como é trabalhar com as principais estrelas da música brasileira

Por Renata Magalhães
7 nov 2025, 10h23
Pretinho Fernando Young
Pretinho da Serrinha: “Quando começava a pegar fogo, tinha que acabar. Era um balde de água fria. Cansei de fazer música olhando para o relógio” (Fernando Young/Divulgação)
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“Se não fosse o samba, eu não teria o que fazer / Samba que me leva pra tudo quanto é lugar”, escreveu Pretinho da Serrinha em Osso Duro de Roer, música que ganhou a parceria do rapper Black Alien e narra a relação do menino nascido em 1978 no Morro da Serrinha, no Rio de Janeiro, com o gênero que o alçou ao sucesso. “Poderia ter ficado numa coisa mais raiz, mas a mistura que faço cativa as pessoas”, explica.

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O cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor furou a bolha, passou a frequentar cantorias na casa de Paula Lavigne e logo se tornou um dos artistas mais requisitados no meio. Produziu nomes como Xande de Pilares, Martinho da Vila e Maria Rita, com quem levou um Grammy Latino, e canetou canções de Seu Jorge e Marisa Monte.

Depois de dois anos fazendo o Samba do Pretinho na Arena Jockey, lança agora o Batuke do Pretinho na varanda do Vivo Rio, onde baterá ponto de quinta (13), quando receberá Caetano Veloso, até o final do ano. “O jogo estava ganho. Agora, é tudo diferente e vamos conquistar um público ainda mais plural”, celebra em uma entrevista às vésperas da estreia.

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O que motivou as mudanças no projeto este ano? É o mesmo samba, com a mesma essência, só não tem mais aquele clima de surpresa porque os convidados já foram divulgados. A maioria, pelo menos; certamente alguém que estiver no Rio num dos dias de evento vai me pedir para tocar (risos). Tivemos que mudar o nome por uma questão de direitos autorais — e olha que sou Pretinho desde a maternidade e sempre fiz o Samba do Pretinho. Mas paciência… Há males que vêm para o bem.

Por que se despediram da Arena Jockey? Principalmente pela questão do horário. Lá, o encerramento era pontualmente às 22h, sendo que as pessoas pegavam muito trânsito e não conseguiam chegar na hora. Recebia amigos para tocar e ficava fazendo conta para dar tempo de todo mundo subir ao palco. Quando começava a pegar fogo, tinha que acabar. Era um balde de água fria. Cansei de fazer música olhando para o relógio, não estava mais me divertindo. Essa mudança vai trazer um novo público, que vem da Zona Norte e do Centro.

Você tem algum ritual antes de entrar no palco? Abro os shows com a mesma canção desde 2013, quando comecei a minha carreira: Alguém me Avisou, de Dona Ivone Lara. No único dia em que decidi fazer algo diferente, as cortinas do Teatro Rival se abriram e não tinha uma alma viva na plateia por causa de uma chuva que assolou a cidade. Nunca mais!

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Como consegue atrair públicos tão diferentes? Sou um sambista do morro e poderia ter ficado numa coisa mais raiz, mas a mistura que faço cativa. Quem vai aos meus eventos sabe que não vai ouvir só samba. Gosto de tocar com todo mundo e não fico restrito a Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal. Vou me apresentar com a Lauana Prado pela primeira vez em São Paulo, estou me aproximando do sertanejo.

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Quando virou o queridinho do meio artístico? No momento em que me aproximo da Paula Lavigne. As festas na casa dela, que chamávamos de “cantorias”, aproximavam muita gente e renderam muitas amizades. Comecei uma temporada no extinto Miranda, no Lagoon, e me joguei pela Zona Sul. Trouxe algo diferente e fui muito bem recebido, mesmo sem ter olhos verdes e cabelo liso. Tive mais dificuldade de aceitação no subúrbio onde nasci, por parte de uma galera mais nova.

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A Paula faz jus à fama de difícil? Todo mundo fala dela, mas eu sou igualzinho… Percebemos isso logo que nos conhecemos, no DVD do Seu Jorge. Se deixar, a gente trabalha 24 horas por dia. Foi essa dedicação que também me fez ser requisitado por outros artistas. Sou virginiano, muito responsável e organizado ó mesmo que às vezes essa organização esteja só dentro da minha cabeça (risos).

Assim como ela, você também não tem medo de se posicionar… Nunca fiquei em cima do muro. Fiz várias músicas de campanha porque nessa hora eu sou um cidadão brasileiro: pago meus impostos e dependo de saúde e segurança. Preciso cooperar com o meu país e faço isso através da arte. Quem vem de onde eu vim já passou por tudo nessa vida e nada mais assusta.

Como equilibrar tradição e reinvenção no samba?
Desde o Fundo de Quintal, que trouxe uma revolução, ninguém tem direito de mudar o samba. A gente pode dar uma incrementada, botar um azeitinho. Foi o que fiz no disco Xande Canta Caetano, por exemplo. O Mestre Darcy já dizia: o jongo é um movimento de resistência cultural, mas se ficarmos restritos não vamos atingir uma turma nova. Ele então colocou harmonia, cavaco, sopro e orquestra, levou para a Zona Sul, e hoje o jongo está aí.

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Você foi mestre de bateria do Império Serrano com apenas 10 anos de idade. Como uma experiência como essa transforma a infância? Quando penso nessa época, só me lembro da música. Os amigos jogavam bola e eu ficava encostado no poste tocando um repique. Através da música, percebi muito rápido que não precisava seguir o caminho que muitos estavam tomando. Trabalhei vendendo bijuteria em Madureira com o meu tio e, depois disso, minha vida foi só música. Comecei a ganhar meu dinheirinho, com cachês de 25 reais no início dos anos 1990.

Como estão os preparativos do novo álbum? Preciso me dedicar mais ao meu próprio trabalho. Lancei o primeiro logo antes da pandemia, gastei uma grana e não pude fazer divulgação. Daí desanimei, até porque a relação com os discos mudou muito, as plataformas deixaram tudo muito rápido. A galera ouve meia música e já pergunta qual será o próximo. Mas preciso entrar nesse jogo e mostrar também a minha obra. Espero lançar antes do Carnaval.

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Em tempos de algoritmo e consumo rápido, o que o samba ainda tem para ensinar sobre tempo e escuta? Impossível competir com a rapidez da juventude do funk e do trap. Não tenho milhões de seguidores, mas os que me acompanham estão comigo sempre, cantando músicas de décadas atrás. Estamos nas ruas, nas rodas de samba… Cada pessoa tocando numa esquina é um guerreiro do samba, e temos ainda uma nova geração talentosa, como Nego Álvaro e Mosquito. O samba agoniza, mas não morre.

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