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“Minha imagem ficou manchada”, diz Bebel Gilberto sobre fim da vida do pai

De volta ao Rio após três décadas vivendo em Nova York, cantora planeja turnê do disco João no Brasil e reflete sobre imbróglio familiar

Por Kamille Viola
Atualizado em 26 fev 2024, 17h26 - Publicado em 16 fev 2024, 06h00

Voltei ao Rio de vez. Desfiz praticamente todos os meus laços com os Estados Unidos e agora moro no Leblon, no mesmo prédio onde o meu pai e minha mãe viveram. Estou feliz, aproveitando para descansar da turnê do disco João, lançada em agosto. Foi uma loucura. Em três meses, a gente rodou 25 países com 36 apresentações. Neste ano, quero me dedicar a fazer a turnê no Brasil, para apresentar esse show tão lindo sobre a música de meu pai.

O pior período da mudança para o Rio já passou. Eu me sinto em paz com o estilo de vida que levo aqui. É como se eu morasse numa casa de campo. Durmo cedo, não tem muita coisa para fazer. Com a própria idade, a gente já não quer mais sair tanto, né? O pessoal está todo mais cansado, eu principalmente. Aí vou à praia, faço minha ginástica, essa rotina. E tenho minha cachorra. Agora sou mãe de pet.

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As pessoas me perguntam sobre o processo contra a EMI (hoje representada pela Universal), mas nós, a família, não temos mais praticamente nenhum direito. Foi uma luta ganha pelo meu pai, que entrou nessa batalha para reaver os direitos sobre quatro discos que lançou pela gravadora. A questão é que ele vendeu 60% dos direitos ao Banco Opportunity, caso ganhasse a disputa judicial (em 2013, o banco pagou a João Gilberto 10 milhões de reais*; em 2023, foi fixada uma indenização contra a gravadora no valor de 150 milhões de reais).

Com os custos, advogados, peritos e outros gastos, os 30% que sobram, divididos por quatro pessoas, não dão muito. É uma injustiça. Nós tentamos contestar o acordo, mas três filhos lutarem contra uma potência como o Opportunity é uma luta quase perdida.

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Quem acabou se dando mal mesmo com essa situação no fim da vida do meu pai fui eu. Quando resolvi cuidar dele, a abordagem em torno do caso foi machista e desonesta. Como se não bastasse a fama de maluca, por ser amiga do Cazuza e tal, minha imagem ficou manchada. É difícil as pessoas acreditarem que eu realmente queria estar com ele, que eu não estava interessada no dinheiro. Até porque não tinha dinheiro. Eu estava praticamente pagando do meu bolso as despesas, para poder dar conforto a ele e contratar uma pessoa para ter certeza de que estava sendo bem cuidado.

Foi uma dupla dor. Seis meses antes tinha perdido a minha mãe (a cantora Miúcha, irmã de Chico Buarque). Mas a mamãe estava muito bem assessorada, minha família foi maravilhosa, todo mundo deu uma assistência maior — que, no caso do papai, não havia. A única que estava cuidando dele era eu, que dei minha cara a tapa e resolvi interditar. Minha consciência está tranquila. Às vezes, eu chegava lá na casa dele e não tinha nem luz. Estava desligada por falta de pagamento. Ele descansou no maior conforto que eu pude dar a ele.

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Há momentos em que me arrependo de ter comprado essa briga. Tenho mixed feelings, como falam os americanos, sentimentos ambíguos. E se eu não fizesse nada? Ia abandonar meu pai? Talvez eu me arrependa da forma como as coisas foram feitas. E essa situação toda ainda ainda deixou outras marcas. Eu e meu irmão (João Marcelo Gilberto, o mais velho, filho do casamento de João com a cantora Astrud Gilberto) nunca mais vamos nos falar. Ele disse que minha mãe cometeu abusos contra ele, isso três meses depois que ela morreu. Ele foi condenado, inclusive (Bebel entrou na Justiça contra o irmão, que também a chamou de sociopata). Não precisava, né?

Já com a minha irmã (Luisa Carolina, a caçula, filha de Claudia Faissol), me dou bem. Mulher sempre gosta de ter irmã e eu, em certa altura da vida, ganhei essa irmãzinha. Tento olhar isso da melhor forma possível, sem botar qualquer problema ou empecilho pessoal no meio da nossa relação. A Lulu está com 20 anos, se parece muito com ele, é uma pessoa linda.

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Além de conviver mais com a família e amigos, estou animada com o que a mudança para o Rio pode me trazer musicalmente. E sempre aparece um trabalhinho lá fora. Daqui a pouco, vou a Londres e, depois, Nova York. Mas estou muito feliz com a possibilidade de estar cada vez mais presente na cena musical brasileira e de poder apresentar esse disco que eu fiz para meu pai. Emocionalmente, foi muito difícil.

Em depoimento a Kamille Viola

* O escritório Leonardo Amarante, que representa Luisa, filha e uma das herdeiras do cantor e autor João Gilberto, afirma que, em 2013, o artista não recebeu os 10 milhões de reais do Banco Opportunity, e sim, metade desse valor, 5 milhões, e que a quantia paga foi a título de empréstimo.

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