Marcos Sacramento: “Ser homossexual no mundo do samba nunca foi fácil”
Sambista comemora 65 anos de vida, 40 de carreira e 25 de sobriedade com edição especial de sua roda, na Varanda do MAM

O Samba do Sacramento está sacramentado na agenda carioca. Titular da roda que há um ano entope a Rua do Mercado, no Centro, Marcos Sacramento comemora 65 anos com uma edição inédita neste sábado (26) na Varanda do MAM, com convidados do timbre de Áurea Martins, Marina Íris e Hugo Ojuara. No repertório, o sambista enfileira hinos de Zeca Pagodinho, Toninho Gerais e Jorge Aragão, além de músicas do disco Arco (2024) e clássicos como Odara, de Caetano Veloso.
Nos intervalos e na saideira, quem comanda o baile são os DJs Cabra Guaraná (sucesso de Taguatinga, no Distrito Federal, que vem esquentando as pistas por aqui), Mango Set e o trio de pesquisadores sonoros Juntos Com Certeza.
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O evento marca uma tripla comemoração para o sambista. Além do aniversário, Sacramento completa 40 anos de trajetória e 25 de sobriedade. Em abril dos anos 2000, ele tomou um “boa noite, Cinderela” que mudou de vez a sua relação com as drogas e zerou o seu consumo de álcool. A seguir, confira a entrevista com Marcos Sacramento.
O Samba do Sacramento explodiu em 2024. O que aconteceu para esse reconhecimento vir tão forte agora?
A ideia (visionária) de realizar uma roda de samba na rua foi do meu empresário Phil Baptiste. Eu nunca havia feito isso e o meu repertório sempre foi voltado para os sambas clássicos da era de ouro da Música Brasileira. Acredito que o reconhecimento passa, muito, pela qualidade musical do repertório e dos músicos que me acompanham. Afinal, roda de samba não se faz sozinho.
Que memórias tem do dia em que tomou o “boa noite, Cinderela”? Como era a sua relação com as drogas antes e como foi a virada de chave?
A memória é traumática. A virada foi radical e nunca mais recaí. Alcoolismo é uma doença e a maioria das pessoas pode beber “de boa”. Aliás, o mundo seria uma chatice sem uma cervejinha gelada, né? Mas eu não posso. E vivo bem nessa condição.
Você é um representante autêntico de pautas identitárias. De que forma se afirma no universo do samba?
Ser homossexual no mundo do samba nunca foi fácil. Fiquei invisível por muito tempo. A melhor maneira de enfrentar essas discriminações foi partir para cima e para dentro com minha voz. Hoje, sou um homem com 65 anos, gay, negro e cheio de energia pra ocupar os espaços, que são muitos.
Como será a edição especial do Samba do Sacramento?
Com samba-enredo do Salgueiro, Gonzaguinha, homenagem ao Bira Presidente, entre outras novidades. Os convidados foram escolhidos com o coração. Áurea Martins é amiga de muitos anos, Marina Íris que tanto admiro e já esteve comigo na Rua do Mercado, aprofundando um dos pilares do nosso samba — que é misturar e fazer pontes —, e o jovem Hugo Ojuara, sambista talentoso da nova geração.
Varanda do MAM. Avenida Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo. Sáb. (26), 17h. A partir de R$ 50,00. Ingressos pelo Shotgun.