“A literatura precisa descer do pedestal”, diz Ana Maria Gonçalves
Autora de Um Defeito de Cor, recém-eleita para a ABL, experimenta a fama e promete que lançará em breve um livro sobre menopausa e maturidade

Primeira mulher negra eleita para a Academia Brasileira de Letras, a escritora Ana Maria Gonçalves vem experimentando o gostinho da fama de imortal.
Na Flip, a fila de fãs ávidos por ouvi-la dobrava a esquina uma hora antes do início do debate que participou em uma das casas parceiras da feira. Dias antes, a autora de Um Defeito de Cor (Editora Record) foi tietada num evento da ABL até pela atriz Malu Mader, que garantiu uma selfie.
Morando no Rio, a mineira, que se diz fã das rodas de samba da cidade, conversou com VEJA RIO.
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O que significa ser a primeira mulher negra na ABL?
É uma alegria, mas precisamos questionar por que isso está acontecendo só agora, 120 anos depois. Acho que um dos meus papéis é batalhar para não ser a única.
Conceição Evaristo tentou em 2018, mas não se elegeu. Você teve receio de a campanha não dar certo? Ela não entrou, mas foi vitoriosa por conseguir mudar a mentalidade da ABL. Isso teve grande impacto agora e na eleição de Gilberto Gil e Aliton Krenak. Ouvi de muitos imortais que meu trabalho precede a minha pessoa, mas não esperava uma votação tão ampla.
Um Defeito de Cor furou bolhas, virou enredo de escola de samba e inspirou uma exposição. Isso é um privilégio num país em que a maioria das pessoas não lê? A literatura sempre foi uma arte elitista, mas é hora de descer do pedestal e se popularizar para atingir um público que, na maioria das vezes, não se vê representado.
Depois de um best-seller, como é a pressão para lançar um novo livro? Enorme. Fiquei quase sete anos sem conseguir terminar nada, aí fui escrever para teatro, mas em breve virá um lançamento. É um relato pessoal sobre a chegada da menopausa e a maturidade.