IA em alta: instituições do Rio criam cursos para preparar novas gerações
Com vagas de emprego em aberto aguardando profissionais versados em inteligência artificial, faculdades criam especializações para preparar essa turma
Antes restrito aos aficionados por tecnologia, o interesse pela inteligência artificial (IA) cresceu exponencialmente quando, em 2022, foi lançado o Chat GPT, ferramenta digital dotada de um algoritmo capaz de responder a questionamentos os mais variados. Ao lado do Bard, do Google, e do Sydney, criado pela Microsoft, esses algoritmos, se bem usados, agilizam processos, contribuem para a solução de problemas e descortinam uma nova fronteira de acesso ao conhecimento.
No Rio, além de já ser empregada nos mais variados serviços, saber se virar no universo da IA se tornou um diferencial aos olhos do mercado de trabalho — basta uma breve pesquisa no LinkedIn para verificar quanto a turma versada no tema é requisitada. Em meados de maio, ao menos 250 postos de emprego na cidade estavam à espera de candidatos com especialização no assunto. Como consequência natural da elevada demanda, maior do que a oferta de talentos, cursos estão sendo abertos em instituições de ensino superior para preparar as novas gerações. “Eles possibilitam uma ampla gama de especializações”, diz Caio Bianchi, gerente de Educação Continuada da ESPM.
Ao longo da última década, a inteligência artificial se consolidou como um campo de estudo dentro da graduação da ciência de dados, até se expandir para diferentes áreas. Hoje, o profissional possui amplo leque de terrenos em que atuar, incluindo empresas de tecnologia da informação, medicina, administração pública, entretenimento, e-commerce, indústria automobilística e o setor de óleo e gás, todos fundamentais à economia fluminense.
Pioneira, a Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV EMAp), que funciona na sede da Praia de Botafogo, criou, em 2020, o curso de graduação em ciência de dados e inteligência artificial, com quatro anos de duração. A FGV conta ainda com MBA e cursos livres dedicados à temática. No caso da graduação, o coordenador Yuri Saporito afirma que os alunos aprendem não só a programar ferramentas, como também a desenvolver uma bem-vinda visão crítica. O ensino em sala é complementado por estágio obrigatório, experiências em pesquisa e mentoria. “Não basta apenas entender de algoritmos, uma vez que o mercado exige que se vá muito além”, enfatiza Saporito.
A inteligência artificial se converteu em uma poderosa ferramenta para gente que deseja atuar no complexo universo corporativo. Voltado para a área, o Ibmec oferece opções de graduação e MBA, criadas em parceria com a Microsoft, no campus da Barra e no do Centro. “Muitas pessoas enxergam a IA como uma ameaça aos empregos. Discordo. Ela será, na verdade, uma oportunidade para sermos muito mais produtivos”, aposta Samuel Barros, reitor do Ibmec, que vem levando a ciência por trás dos algoritmos para diferentes escaninhos do conhecimento.
Os alunos da escola de negócios são expostos ao chamado data driven business, a gestão orientada por dados. Já os matriculados em direito aprendem a discussão ética dessas aplicações, enquanto os inscritos em arquitetura e urbanismo mergulham no conceito de cidade inteligente, em que a mobilidade e a segurança são aperfeiçoadas com a aplicação desses modernos recursos digitais. No Rio, por exemplo, a companhia de tráfego utiliza dados em tempo real do Maps, serviço do Google, para otimizar o funcionamento dos sinais de trânsito. “O carioca é naturalmente aberto às transformações”, afirma Barros. “Grandes empresas de tecnologia, como o IFood, a Movile e a Psafe, nasceram aqui”, lembra.
Especializada em marketing, a ESPM tem expandido o uso da inteligência artificial à economia criativa, conjunto de negócios baseado no capital intelectual e cultural e na criatividade que gera valor econômico, notória força de desenvolvimento do Rio. Seu domínio possibilita ganhos em áreas como a análise do comportamento do consumidor e o marketing digital. “Há grande demanda das empresas cariocas por como usar a IA para potencializar suas campanhas em mídias digitais”, diz o gerente da universidade, Caio Bianchi.
A PUC-Rio, por sua vez, desenvolveu o MBA Business Intelligence Master, que tem como foco o uso da IA na tomada de decisão em negócios, que se estende por 21 semanas. A demanda pelo assunto é tamanha que a instituição da Gávea também disponibiliza versões mais curtas e baratas — entre elas o curso de inteligência artificial e direito, com 34 horas de duração, e o de inteligência artificial I, que se diferencia ao tratar do assunto sem abordar matemática e algoritmos, mais indicado para profissionais de ciências humanas.
“A IA será muito benéfica para quem estudar e se preparar para o futuro”, acredita Augusto Baffa, coordenador da engenharia da computação da PUC-Rio. Opções para os cariocas se especializarem na ciência do futuro — que, aliás, já chegou — é o que não falta.
Ela está entre nós
A aplicação da inteligência artificial em áreas diversas da cidade
> Segurança
Câmeras de vigilância conectadas ao Centro de Comando e Controle da Prefeitura identificam placas de veículos, localizam pessoas pelas características físicas e auxiliam na prisão de suspeitos.
> Mobilidade
Desde 2021, a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) utiliza dados em tempo real do Maps, o serviço do Google, para otimizar o funcionamento dos sinais de trânsito de acordo com os congestionamentos na cidade.
> Justiça
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) reduziu o tempo gasto em investigações utilizando um sistema que consegue coletar, armazenar e analisar grandes volumes de informações, agilizando a solução de processos em andamento.
> Cultura
Os visitantes do Museu do Amanhã contam com uma guia virtual inteligente, a Íris. A ferramenta da Microsoft conversa com o usuário, responde perguntas, explica o que está sendo exibido e sugere novos caminhos.
> Saúde
O Centro de Pesquisa e Inovação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) desenvolveu, em parceria com o grupo Dasa, de medicina diagnóstica, uma ferramenta capaz de ajudar na análise de exames médicos, como a ressonância magnética.
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