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Gregorio Duvivier: “Eu me exponho demais”

Sucesso com O Céu da Língua, visto por quase 150 000 pessoas, o ator fala sobre poesia, o impacto da paternidade e as mudanças no canal Porta dos Fundos

Por Renata Magalhães
Atualizado em 10 out 2025, 09h51 - Publicado em 10 out 2025, 09h22
Gregorio Duvivier, do Porta dos FundosCrédito: Leo Lemos
Gregorio Duvivier: “Agora somos apenas três sócios, mas isso nos deu de volta o controle criativo”  (Leo Lemos/Veja Rio)
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No final dos anos 1950, na União Soviética, milhares de pessoas iam aos estádios não para assistir a jogos de futebol, mas para escutar seus poetas preferidos. O cenário parece utópico em tempos de redes sociais e lazer interativo, mas nem tanto. Pelas bandas de cá, Gregorio Duvivier vem lotando plateias com O Céu da Língua, solo sobre a presença invisível da poesia no nosso cotidiano, que volta de 23 a 27 de outubro no Teatro Riachuelo.

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Desde a estreia no início deste ano, foram quase 150 000 espectadores em quarenta cidades do Brasil e de Portugal. Na véspera de uma viagem para Porto Alegre, o ator, escritor e roteirista, que iniciou carreira em 2003, conversou com VEJA RIO sobre o retorno que vem recebendo do público, inclusive daqueles que discordam do seu posicionamento político. Sócio do Porta dos Fundos ao lado de Fabio Porchat e João Vicente de Castro — com quem apresenta o videocast Não Importa, que está entre os dez mais ouvidos do Spotify — Gregório falou ainda sobre o novo momento do canal e como a paternidade vem influenciando as suas criações.

Como uma peça sobre poesia causou tanta identificação? Foi surpreendente, porque esse é o assunto menos popular do mundo. É um paradoxo. A poesia é difícil de ser encaixada no dia a dia, mas, ao mesmo tempo, a gente não consegue viver sem ela. É a primeira vez que a renda do meu ano inteiro vem do teatro.

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O que mais te surpreendeu no retorno das plateias? Descobri que existem mais maníacos pela palavra do que pensava, achava que era um fetiche muito específico. Os comentários transformam o texto o tempo todo. Foi Caetano quem me contou que “minete”, usada em Portugal para se referir ao sexo oral em mulheres, existia aqui em sua juventude. A pergunta é: o que houve com as novas gerações para que esse termo tenha se perdido?

Você alcançou um novo público com o espetáculo? Venho de um humor diretamente mais político com o Greg News e as colunas para a Folha de S. Paulo, e ali eu falava para os convertidos ajudei as pessoas do nosso campo a suportarem a solidão de um regime francamente autoritário e corrupto, mas não criei muitas pontes. Com a peça, cheguei a diferentes espectros e interesses. Nunca tive um público mais velho, como na temporada no Teatro Casa Grande. Outro dia, uma senhora do Country Club me disse que não concordava com nada do que eu dizia na TV e na internet, mas que estava assistindo à peça pela terceira vez. A poesia tem uma vocação popular.

Sente falta de trabalhar temáticas mais densas? Não. No governo Bolsonaro, fui obrigado a falar de política de uma forma mais direta. Hoje, o programa Calma Urgente supre esse lugar. Tenho saudade da redação do Greg News. Tínhamos dez roteiristas, redatores, repórteres, editores, produtora e checadora, atingindo um nível de texto muito seguro. Sofremos vários processos, da Jovem Pan a uma coach equina, mas ganhamos todos.

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O videocast Não Importa também está fazendo muito sucesso, por mais que os temas não sejam relevantes. É estranho ter as pessoas na rua sabendo da sua intimidade, como suas questões com a calvície, que são abordadas ali? Esqueço que tem uma câmera ligada e me exponho demais, daí criam uma liberdade, mas fui eu mesmo que abri essa porteira. Chegam até mim e dizem “Até que você não é tão baixinho” ou metem a mão para ver como estão as minhas entradas. Outro dia, na peça, várias meninas levaram cartazes dizendo “Greg, não implanta”. Criou-se um lobby (risos). A identificação vem dessa ode ao supérfluo, que a peça também faz. O que faz a vida valer a pena são as coisas irrelevantes.

O Porta dos Fundos ainda é lucrativo? Foi um ano de muitas mudanças e agora somos apenas três sócios, mas isso nos deu de volta o controle criativo. Ganhamos agilidade para lançar vídeos e poder testar novos formatos. Temos doze anos e ainda tentamos entender o modelo de negócio, pois não existe outra empresa igual. Somos um canal de YouTube, uma produtora de conteúdo, uma agência de publicidade, uma produtora de eventos e já até vendemos merchandising. O que nos paga hoje são as marcas, mas sonho com outro modelo que ainda não sei qual é.

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Você fala muito sobre as mudanças trazidas pela paternidade. Nasceu um novo Gregorio depois das suas filhas? Sim, mudei radicalmente. O Céu da Língua também é filho das minhas filhas, porque a relação delas com a linguagem é muito poética. É algo que toda criança tem e que vai se perdendo. Passamos a usar as palavras de forma utilitária. Dia desses, a Celeste pediu: “Papai, me desmolha” querendo que eu a secasse. Todos temos um poeta adormecido, mas na molecada ele está sempre acordado.

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Já teve algum momento em que não se sentiu um pai tão legal? Quando Marieta, de 7 anos, deu uma festa do pijama, preparei várias atividades. Percebi que ela estava um pouco constrangida e perguntei o que tinha acontecido, ao que ela me chama num canto e diz: “Pai, tenta não ser o centro das atenções”. Foi puro narcisismo meu. Não queria necessariamente melhorar a noite das meninas, mas sim que elas me achassem legal. É um erro clássico dos pais, mais do que das mães. Minha audiossérie O Pai Tá Onde? vem desse lugar, porque muito se fala sobre o pai ausente, mas não sobre o pai presente.

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Você sempre foi aberto em relação ao uso de maconha. Como vai ser a sua postura com elas em relação a isso? Sou bem careta com o uso de drogas na adolescência. Não tem nenhum dado que diga que a maconha vai te viciar, causar perda de memória ou levar para outras drogas. A única coisa em que a ciência é categórica é que esse é um período em que o cérebro ainda está em desenvolvimento. É o único ponto em que vou ser chato, vai ser só depois dos 20 anos — mas é claro que não vou conseguir.

Você é ateu e recentemente disse não crer em alergias e em homeopatia. Acredita em alguma coisa? Não acredito em Deus como uma entidade que criou a todos, mas existe uma fagulha divina que nos faz ser capazes de amar incondicionalmente. Acredito na comunhão do teatro, com aquelas mil pessoas que não se conhecem vivendo uma experiência conjunta. E sou supersticioso: não assobio em cima do palco, entro sempre com o pé direito, não passo debaixo de escada… Acho um absurdo humoristas que fazem stand-up comedy com camisa de time, coçando o saco e falando como se estivesse na sala de casa. O palco deve ser sagrado.

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Ainda prefere Brahma a Heineken? Sempre! Estou do lado da maioria da população brasileira, sou contra essa colonização do paladar. Mas sabe o que estou tomando ultimamente? Kombucha. Não consigo mais beber muito, fico inútil dois dias. Ainda bem, porque a única coisa que me distancia da cirrose é a ressaca.

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