Continua após publicidade

Freixo: “Bolsonaro está blindando o filho no caso do Adriano”

Deputado afirma que a chave na investigação sobre a morte do miliciano são seus bens: 'Ele não falaria nada importante ao telefone'

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 19 fev 2020, 14h59 - Publicado em 19 fev 2020, 13h40
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) diz que a arma para enfrentar o governo Bolsonaro é a inteligência. “Não vou abrir mão de ser inteligente neste combate”, afirma o político, que, apesar de ter seu reduto eleitoral na Zona Sul, gosta de frisar que nem sempre teve o nome ligado à classe média. “Tenho essa cara de Cosme Velho mas sou da periferia”. Presidente da CPI das Milícias, que há 12 anos levou à prisão mais de 240 milicianos, Freixo acompanha de perto as investigações da execução da vereadora Marielle Franco, e afirma que a morte do CEO das milícias cariocas, Adriano da Nóbrega, não terá tanto impacto na resolução do caso. “Ele e Ronnie Lessa (policial reformado, atualmente preso, acusado do assassinato da vereadora) se conheciam mas não trabalhavam juntos, tinham até conflitos”.

    Publicidade

    Morto no último dia 9, Adriano da Nóbrega poderia ajudar a esclarecer o esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e também a entender uma possível ligação da família do presidente com as milícias? A relação do Flavio e do Jair com o Adriano é muito evidente. Eles têm uma relação com as milícias que vem desde a proposição da legalização das milícias até um envolvimento territorial feito através do Queiroz. Porque o Queiroz é o elo entre a família e os grupos milicianos que dominam o território para que as campanhas da família sejam feitas em áreas de milícia, então há um acordo eleitoral com as milícias, não é só um apoio ideológico.

    Publicidade

    E a relação com o Adriano? Todo mundo sabe que parentes do Adriano trabalharam no gabinete do Flávio, ele foi condecorado pelo deputado, tem de tudo ali. Por isso que o Jair está tentando reagir o mais rápido possível, diz que a culpa é dele e não do Flávio. É para proteger o filho, blindar o Flávio, porque ele é mais frágil, já tem envolvimento com a rachadinha, já tem uma ação em cima dele, então o Jair tenta deslocar isso, misturar com outros casos, tenta acusar o governo baiano.

    A morte do Adriano pode atrasar ainda mais as investigações sobre a morte da Marielle? As investigações da Marielle não apontam para o Adriano, e sim para o Ronnie Lessa, que está preso. As informações são que eles se conheciam mas não trabalhavam juntos, tinham até conflitos.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Você concorda com a teoria de que se tratou de uma queima de arquivo? Antes de tudo, eu lamento que qualquer operação policial termine em morte, mantenho coerência, ao contrário do Bolsonaro. Mas o Adriano, sem dúvida alguma, tinha muito o que dizer, por mais que eu ache que ele não diria. Eu acho que as investigações sobre os bens dele podem dizer muita coisa, mais do que o seu telefone. O caminho certamente é esse: investigar os bens. Experiente como ele era, dificilmente diria alguma coisa forte no telefone. Mas ele movia um dinheiro muito alto por mês. Dinheiro todo da contravenção, do crime. E é esse cara que o presidente do Brasil chama de herói. Uma pessoa que ficou milionária com o crime. Não ficou milionário com o salário da polícia, e sim com o dinheiro do crime.

    A milícia já chegou à Zona Sul? Não. Que eu saiba, não. Mas dos 160 bairros do Rio, oficialmente 51 estão nas mãos das milícias.  E a milícia domina transporte, gás, internet, faz especulação imobiliária, faz o tráfico. É importante que as pessoas saibam que a milícia faz tráfico porque muita gente diz: “a milícia é melhor que o tráfico porque acha que ‘pelo menos aqui não tem bagunça’. E não é verdade. Ela hoje domina áreas com tráfico, e ganha dinheiro com isso. O tráfico é um crime violento, brutal, mas bem menos organizado. Tanto é que a milícia elege gente e o tráfico nunca elegeu. O tráfico não tem cabeça de poder, a milícia tem. Essa é uma diferença abissal.

    Publicidade

    Apesar das diferenças ideológicas, você e o senador Flávio Bolsonaro sempre tiveram um relacionamento cordial, não? Quando o Bolsonaro tomou a facada, eu mandei mensagem para o Flávio imediatamente. Convivi com ele por 12 anos na Assembleia Legislativa, sempre tive diálogo. Me surpreendeu o envolvimento dele com milicianos e com assassinos dentro do gabinete. Eu penso tudo diferente dele. Tem uma diferença abissal entre a gente. Mas não tinha por que ele ser meu inimigo pessoal, até porque eu não sabia que ele tinha essas ligações. Mas agora a gente não se fala mais. Estivemos juntos no avião, inclusive, e não nos falamos. Ele me olha mas não tem cumprimento. Não tem mais condições. Não dá para eu desconsiderar o que o Flávio Bolsonaro representa hoje, inclusive em relação às milícias. É muito grave ter envolvimento com o escritório do crime. Estamos falando de matadores, não tem a ver com pensamento político. Violência e agressão não podem ser métodos nem da esquerda para a direita, nem da direita para a esquerda. Eu tenho um diálogo muito grande dentro do parlamento, me relaciono muito bem com as pessoas inimagináveis, e já fui criticado por isso, tanto pela direita quanto pela esquerda.

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.