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Cauã Reymond: ‘Ainda brigo com a ansiedade’

Ator e produtor fala sobre psicanálise, inseguranças, novos trabalhos e também sobre a pressão que artistas sofrem para que se posicionem ideologicamente

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 16 out 2020, 13h31 - Publicado em 16 out 2020, 07h00
Cauã Reymond: pandemia fez com que dobrasse a frequência das sessões de terapia a que se submete há 26 anos ininterruptos (Cristiano Madureira/Divulgação)
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Não que Cauã Reymond faça pouco caso de sua carreira de ator – no mês que vem, inclusive, volta a gravar uma novela das 9. Mas ele não esconde que, agora quarentão, anda encantado pelo trabalho nos bastidores. Prestes a lançar um filme sobre o imperador dom Pedro I, em que atuou e produziu, e escrevendo sua primeira série, que tem como foco os bastidores do futebol, Cauã se reconhece uma pessoa “naturalmente insegura”, mesmo sendo um dos rostos mais conhecidos e bem pagos de sua geração. “Faço terapia há 26 anos para encontrar ferramentas que me ajudem a lidar com os meus problemas, que não são poucos”, assume.

Por telefone, ele falou ainda a VEJA RIO sobre como encara a superexposição nas redes sociais (contabiliza 11 milhões de seguidores só no Instagram), por que evita tratar de política publicamente e como a meditação o auxiliou no controle da ansiedade.

Você virou um fenômeno das redes. Empenhou-se para isso? Na verdade, ainda estou aprendendo a usar a ferramenta do jeito que me interessa e tenho uma equipe que me ajuda a pesquisar certos conteúdos. É tentador, mas evito postar só o que vai bombar.

E o que costuma bombar? Sei que se postar fotos do dia a dia com a minha filha, junto com a Mariana, minha mulher, ou sem camisa vai gerar engajamento. Mas tento não cair nessa armadilha. Procuro reproduzir postagens de pessoas e instituições que admiro, além de falar de assuntos que tenham a ver comigo e com o meu estilo de vida.

Passa muito tempo nas redes? Eu me esforço para não ficar mais de uma hora por dia no Instagram, até porque sou muito preocupado com a manipulação das minhas informações. A gente sabe como os Estados Unidos e o Brasil fizeram uso de dados colhidos no Facebook para influenciar as eleições. Eu não estou falando sobre esquerda ou direita. Aliás, evito me estender sobre isso.

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Por quê? Respeito os colegas que se posicionam de uma forma mais direta, mais aguda, mas tenho o direito de ter minhas opiniões e não falar sobre elas.

O embate não lhe interessa? Sempre tive uma postura de não partir para o confronto. Se tem uma bandeira que sempre levantei foi a da tolerância.

Como você escolhe as produções em que vai atuar? O que me interessa são personagens que me desafiem, como o Sandro (do longa Piedade, dirigido por Claudio Assis), um homossexual dono de um cinema pornô. É o tipo de papel que me instiga, me tira da zona de conforto. Seria muito mais fácil interpretar um hétero, por exemplo.

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Você foi coprodutor de vários longas dos quais participou e montou uma produtora de cinema. Cansou da TV? Não, nem poderia. Volto a gravar uma novela agora. Tenho um ano de trabalho intenso pela frente. Mas sempre tive essa vontade de ir além do trabalho de ator.

Está valendo investir na carreira de produtor? Sim. Nunca gostei de emitir opiniões demais sobre assuntos dos quais não entendia, então fui começando aos poucos, dando palpite no elenco, participando do roteiro. Fazia de tudo um pouco. Mas a palavra final não é minha. Não tenho essa vaidade de ser controlador dos meus projetos.

Como a pandemia afetou a indústria do cinema? Ela foi extremamente afetada e ainda está sendo, até porque o Brasil passa por um momento delicado na economia. Isso sem falar que a gente vive uma fase em que a maneira como as pessoas consomem entretenimento está mudando, com as novas plataformas, as séries. Tudo isso acirra a crise.

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Teatro não o atrai? Fiz duas peças, mas sempre fui apaixonado por cinema. Aconteceu com frequência de eu terminar uma novela e alguém me chamar para fazer um filme. A vida acabou sendo assim. Os convites para TV e cinema foram mais constantes.

Você só conviveu com seu pai depois de adolescente e foi criado por três mulheres — mãe, tia e avó. Isso influencia sua forma de exercer a paternidade com sua filha, Sofia, de 8 anos (fruto do casamento com Grazi Massafera)? Não tive pai presente e sei que faz muita falta. Tento ser amoroso, mas brigo quando é preciso. E dou exemplos. Ela vê o pai praticando esporte, tentando ter uma alimentação saudável, meditando. A verdade é que não tem nada que me deixe mais indignado do que quando uma mulher separada me conta que o ex-marido só fica com o filho duas vezes por mês e não dá atenção. Isso me mata.

Como aprendeu a lidar com a ansiedade? A meditação me fez muito bem nesse sentido. Sempre fui muito ansioso e continuo sendo. Várias vezes por dia me pego pensando em coisas que deveria ter feito ou estar fazendo. E essa ansiedade veio com tudo agora, com a volta às novelas e com o processo de produção da minha primeira série.

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Ainda bate insegurança em uma estreia? É claro que quero que a novela seja bem recebida, torço para que gostem do meu trabalho. Então a insegurança é comum. Até a Fernanda Montenegro disse que sente isso. Aí respiro fundo duas vezes e tudo melhora. Um amigo diz que vale por um Lexotan.

Continua na análise? Faço desde os 14 anos. Agora, na pandemia, dobrei a carga horária, para duas vezes por semana. A análise é um lugar de conversa neutra importantíssimo para mim. Não quero um terapeuta que me dê razão, mas que me ajude a encontrar ferramentas para lidar com meus problemas, que não são poucos. Não acredito nessa história de síndrome do coitadinho e não quero que passem a mão na minha cabeça.

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