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‘Se saio desarrumado, acham que sou pedinte’, diz ator e roteirista negro

No Dia da Abolição da Escravatura, Silvio Guindane, um dos mais requisitados profissionais de sua geração, fala sobre o racismo que sempre sofreu

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 13 Maio 2020, 12h54 - Publicado em 13 Maio 2020, 12h00

Diretor, roteirista e ator, Silvio Guindane vai interpretar um inspetor no filme “A vida de cada um”, de Murilo Salles. O roteiro é inspirado no romance policial “Na Multidão”, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, morto em abril. A história de uma série de crimes no bairro de Copacabana é contada pela perspectiva de Weber, personagem de Silvio.

Hoje, aos 36, ele dirige “O Dono do Lar”, no Multishow; protagoniza a série “A Divisão”, da Globoplay,  e está no elenco principal da série “Segunda Chamada”, da Globo. No teatro, vai dirigir Caco Ciocler e Thiago Lacerda na peça “Tempo de Despertar” e começa os ensaios com eles em agosto (se a pandemia deixar). Silvio também escreveu o roteiro de um filme que promete: a cinebiografia de Eike Batista. Produzido por Mariza Leão, o longa será rodado em 2021. Se hoje é um profissional respeitado e requisitado, ele conta que, ainda na infância, aprendeu uma dura lição com a mãe. No dia da Abolição da Escravatura, Silvio conversou com VEJA RIO e deixou claro que, no Brasil, negros como ele ainda têm que lidar com o racismo desde pequenos.

Quando você percebeu que negros e brancos são tratados de forma diferente no país?

Desde bem pequeno. Outro dia eu entendi porque raramente saio de casa de bermuda e chinelo. Minha mãe não ia nem à padaria sem estar arrumada e isso pra mim sempre foi automático. Conversando com uma amiga negra que está morando na Dinamarca, ela comentou que uma das melhores coisas era não precisar trabalhar toda arrumada. No Brasil ela só usava tailleur.

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Em 2017, um jornalista negro americano fez uma experiência para provar que a roupa que vestia influenciava diretamente no modo como era tratado nas ruas de Los Angeles. Ele alternou dias em que saía arrumadinho, com roupas de grife, com outros em que usava peças mais descontraídas e informais. Em seu relato, ele conta que a diferença de tratamento era gritante e assustadora. Juntando isso à lembrança da lição dada pela sua mãe, dá para dizer que isso ainda acontece com você?   

Claro. E acontece muito. Se eu estou no meu trabalho ou andando em Ipanema, onde moro, vestido de camisa de botão, calça bacana, posso até passar despercebido, ou mesmo gerar um leve susto naquele núcleo de pessoas, por um negro ocupar o mesmo lugar que elas. Agora… Quando eu estou na praia, de sunga, todas as associações são feitas diretamente: posso ser um vendedor ambulante, um pedinte, ou apenas um jovem negro de qualquer comunidade vizinha, que está ali se banhando no mar… as pessoas olham pra mim de uma forma completamente diferente, forma esta que a maioria dos jovens negros são olhados todos os dias. Aqui a pobreza tem cor. A população de negros e pobres, em sua maioria esmagadora, se mistura em uma só. É triste, é sério e fruto de uma desigualdade historicamente acumulada, por isso, necessita de uma urgente correção.

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