Continua após publicidade

Coronavírus: ‘Paris sem cafés e sem o D’Orsay é como o Rio sem botequim’

Jornalista radicada na França, Ana Paula Cardoso diz que movimento nos restaurantes parisienses caiu 70%: "Em menos de dez dias o cenário mudou muito"

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 18 mar 2020, 11h25 - Publicado em 18 mar 2020, 11h23
Ana Paula: "Paris não é mais uma festa; não tem como ser, numa cidade onde o esporte preferido é flanar" (Arquivo pessoal/Reprodução)
Continua após publicidade

“Há cerca de uma semana, eu e uma amiga, duas fanáticas por cinema, saímos pra uma sessão às 10h da manhã nas redondezas do Odéon, sexto “arrondissement” parisiense. Duas horas de filme depois, seguimos rumo a um restaurante onde, na minha opinião e de muitos parisienses, serve-se a melhor sopa de cebola de Paris. Já fui logo prevenindo a amiga: “Olha, não reservei, periga não conseguirmos mesa. Esse restaurante é mais cotado que o La Mole em Dia das Mães”. Faço meu comentário com medo de ser démodée, afinal, nem sei mais qual restaurante no Rio hoje faz fila na porta.

Coronavírus: atriz carioca relata ‘cenário de medo e união’ em Portugal

Pois bem, chegamos ao nosso destino e lá me surpreendo. Meia dúzia de gatos pingados, mesas a escolher. No salão, percebia as conversas em inglês, chinês, alemão e as duas brasileiras aqui em português. Outro fato surpreendente num local pouco frequentado por turistas. O garçom nos acolhe com sorriso, pedimos nossa sopa. Aproveito para perguntar a ele : “Nunca vi tão vazio, normalmente não conseguimos almoçar sem reserva, o que houve?”. “Acho que é o medo do coronavírus. Estamos há duas semanas com queda de 70% no movimento”, responde o rapaz.

Carioca que mora em Londres relata sufoco em fim de férias

A amiga me olhou e levantou a questão “Será que estamos muito sem noção?”. Naquele momento na França, o número de infectados e mortos pelo COVID-19 era considerado baixo e atingia apenas a faixa etária acima dos 70 anos. Em menos de 10 dias, todo o cenário mudou. O coronavírus não tá de bobeira, como diríamos à mesa de um bar carioca. Em menos de 10 dias, o cenário de uma Paris que eu cismo em achar parecida com o meu Rio de Janeiro (tem um povinho marrento, paisagens lindíssimas e é muito difícil encontrar pizza boa) descaracterizou-se completamente. Imagina um Rio sem um boteco para um chopp bem tirado? É a Paris sem cafés. Não tem mais a mesinha com cadeirinha de palha na varanda, pronta para receber quem está sedento por um copo de bom vinho nacional e pela distração de ver a vida passar na cidade, onde o esporte preferido é flanar.

Continua após a publicidade

Jornalista sobre Nova York: ‘Até a cidade que nunca dorme parou’

Tardamos a nos dar conta da gravidade do problema? Sim, mas não nos culpe, não estamos sozinhos, estamos todos meio perdidos nesse planeta em meio ao vírus avassalador. Paris não é mais uma festa. Desde 17 de março, só podemos sair para trabalhar, ir a hospital, comprar o essencial em mercados e farmácias ou se exercitar no quarteirão, sozinha ou com o cachorro.

Carioca sobre Covid-19 na Espanha: ‘Todos estão fazendo a sua parte’

Continua após a publicidade

Estamos da janela a ver uma Paris sem café e sem “dorsé”, que é como se pronuncia o nome do meu museu preferido, o D’Orsay, fechado até segunda ordem. E sem poder visitar minha vizinha, Madame Eiffel, envio estas palavras de conforto: fiquem firmes, aos que podem, fiquem em casa. Afinal, depois que tudo isso passar, nós sempre teremos Paris (sempre quis dizer essa frase!)

*Ana Paula Cardoso é jornalista do site https://www.cronicasdeparis.com e do instagram @cronicasdeparis

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.