Cinema: Lázaro Ramos é eleito carioca do ano na categoria
Ator dirigiu seu primeiro filme — a produção nacional que ficou mais tempo em exibição no ano —, atraindo 500 000 espectadores, e atuou em três películas
Maior porta de entrada de africanos escravizados nas Américas, a Zona Portuária do Rio foi escolhida como o principal cenário de Medida Provisória, filme que superou 500 000 espectadores após quatro lançamentos adiados em meio à pandemia e aos labirintos burocráticos da Ancine — neste caso sem qualquer explicação. A obra trata do racismo, apresentando ao público um thriller político eletrizante que marcou a estreia de Lázaro Ramos no papel de cineasta. A sinopse dá uma boa provinha da ousadia do enredo: em um Brasil do futuro, o governo aprova uma medida que obriga cidadãos negros a se mudar para a África na intenção de retomar suas origens em uma descabida reparação histórica. “É uma trama que, de repente, se tornou um espelho da nossa sociedade”, aponta o diretor, feliz com a bem-sucedida trajetória da película em um momento tão desafiador para a sétima arte.
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O filme rodou mais de vinte festivais mundo afora e, em breve, entra em cartaz nos Estados Unidos, em Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde. “Um feito e tanto para uma produção nacional, com a maioria da equipe formada por pessoas negras”, diz o baiano de 44 anos, nascido em Salvador e “carioca de coração” há mais de duas décadas.
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Na frente das câmeras, Lázaro também brilhou em diversas modalidades. Foi da comédia com Paolla Oliveira em Papai É Pop ao drama em As Verdades, e ainda filmou a aguardada sequência de Ó Paí Ó, comédia musical com atores do Bando de Teatro Olodum, cujo sucesso deu origem a uma série da TV Globo. A emissora deixou de ser a casa de Lázaro em 2021, quando ele assinou contrato com a Amazon Prime Video, indo atrás de novos horizontes e linguagens. “O jogo do streaming está sendo jogado e vivemos um período de aprendizado, em que muitas janelas se abrem”, aposta. Uma delas se anuncia logo para o primeiro semestre de 2023, o filme Um Ano Inesquecível, voltado para jovens — público com quem o artista já se conecta na seara da literatura. “Não importa a plataforma, o que eu busco é estabelecer uma comunicação direta e verdadeira com as pessoas”, conta ele, que também já dirigiu uma peça, O Topo da Montanha, na qual contracenava com a esposa, Taís Araújo. Ela, aliás, é protagonista de Medida Provisória ao lado de Seu Jorge e do ator americano Alfred Enoch, que, em uma das primeiras cenas, questiona: “Será que a gente nota quando a história está acontecendo?”. Para Lázaro, a resposta é sim.