Rumo a Nova York: Carandaí 25, turbinado, leva moda autoral para além do Rio
Feira que virou festival juntando marcas com gastronomia e shows tornou-se o maior da América Latina e mira mercado internacional
Até 2013, o número 25 da pacata Rua Visconde de Carandaí, no Jardim Botânico, era o endereço de Tatiana Accioli e sua família. Formada em moda e filha de empresários de varejo do setor, ela trabalhava com marketing e decidiu abrir espaço na sala de casa para as araras de roupas de dez estilistas amigas, em uma espécie de bazar. Lá estavam Andrea Marques, Patricia Viera, a rainha do couro, e Roberta Damasceno, da Dona Coisa. “Fiz algumas edições na minha casa, o negócio foi crescendo, até que meu marido falou: ‘Tati, acabou a brincadeira’”, relembra. Sem o título de nobreza, o então despretensioso Carandaí 25 virou uma feira de moda itinerante de pequenas marcas cariocas com grande potencial. Após vários pousos e crescendo a passos largos, desde o segundo semestre de 2023 ela aterrissa de duas a três vezes por ano em 7 000 metros quadrados do Jockey, com mais de 300 marcas, agora também de beleza, decoração, bem-estar e artes plásticas, fora gastronomia e shows. A última edição aconteceu em maio e reuniu mais de 32 000 pessoas em quatro dias, totalizando 4 milhões de reais em negócios.
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A brincadeira acabou mesmo, e de 5 a 8 de setembro tem mais no Jockey: “A gente se apresenta como um festival hoje, o maior festival de moda autoral da América Latina”, orgulha-se Tati, que atualmente reserva 40% dos estandes para marcas de outros estados e já alçou voo com o Carandaí 25 para além das divisas do estado, passando com o festival por Recife, Goiânia e Salvador. Tem mais: recentemente abriu em São Paulo uma loja fixa no Shopping VillaLobos — nos moldes da que funciona aqui no Shopping Leblon, com cerca de trinta grifes. E até o fim do ano tem agendadas pelo menos mais três escalas em seu fashion show: Belo Horizonte em outubro, Campinas em novembro e um festival de verão em Salvador, no mesmo mês. Também está nos planos extrapolar as fronteiras do país. Depois de uma loja temporária em Paris, em 2018, o foco agora é chegar a Nova York. “Não queremos ter uma rede de lojas, o varejo não é nosso business. O Carandaí 25 existe para dar visibilidade a novos talentos, movimentar a economia criativa e gerar networking para o setor”, diz Tati.
Exportar modas e modismos é a cara do Rio, mas exige alinhavos. Desde maio, o Carandaí 25 tornou-se um dos primeiros projetos de moda a se enquadrar na chancela da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio, o que promete alavancar ainda mais o trabalho realizado pelo coletivo. Além disso, em junho, a marca passou a contar com o empresário Paulo Marinho como sócio investidor. Presidente do Instituto Brando Barbosa — o palacete da Rua Lopes Quintas, no Jardim Botânico, sede das últimas edições da CASACOR —, no ano passado ele abriu as portas do casarão de 12 000 metros quadrados para o festival, que não conhecia. “Fiquei encantado e impressionado com o negócio, que tem grande potencial de ser levado para fora do Brasil”, diz Marinho, que trabalha com Tati para desenhar um modelo de negócio para exportação e busca parceiros internacionais.
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O impulso que turbina o Carandaí 25 leva consigo novíssimas marcas e outras que já se tornaram queridinhas da cidade, como Wasabi, Be Denim, Annaka, Barbarah, Esc e Ylla. “A Tati sempre teve faro. Olha a marca e vê que tem borogodó. Além de fazer uma boa curadoria, sabe criar um bom mix”, avalia Ana Wambier, da Wasabi, que com a sócia Daniela Sabbag expôs seus primeiros looks nas araras da casa de Tati, há doze anos, chamando a atenção de cariocas cheias de estilo que desde aquela época lotavam o Carandaí 25. Hoje, apesar de já ter pontos de venda próprios no Rio, a estilista continua marcando presença em algumas edições do festival e tem suas roupas, conhecidas por combinações originais de modelagens e estampas, à venda na loja do coletivo no VillaLobos, em São Paulo. “É uma porta de entrada privilegiada para marcas pequenas de design autoral, sem tanto fôlego financeiro, que ganham estrutura para receber um público qualificado. Sozinho é mais difícil de remar”, diz Ana. De vento em popa, o coletivo avança.