O Homem Primitivo
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Rafael Teixeira
Questões ligadas à secular opressão masculina sobre a mulher norteiam esta inteligente comédia, escrita, dirigida e estrelada pelo casal formado por Graziella Moretto e Pedro Cardoso. Em cena, eles se multiplicam em diversos personagens, costurando histórias derivadas de duas tramas principais que se entrelaçam. Na primeira, uma atriz dá queixa na delegacia de um crime bizarro: ela teria sido de fato violentada durante a filmagem de uma cena de estupro. Em outro momento, no caminho para o cinema, um casal se defronta com a informação de que perderá a empregada doméstica. Usando roupas neutras, sem apelo a nenhum figurino ou acessório cênico (exceto na primeira cena), Graziella e Cardoso desfiam episódios de abuso sexista — desde os quase imperceptíveis, mas nem por isso menos reais, a exemplo do marido que acorda a mulher de madrugada para que ela prepare comida, até os mais escancarados, como os de violência física. Vídeos com pegada um tanto mais didática, explicando a evolução do machismo, pontuam a encenação. A hábil cosedura do texto, o ritmo ágil da montagem e, não menos importante, a enorme desenvoltura da entrosada dupla na construção de tipos impõem aquele humor algo desconcertante, em que o público (mesmo que eventualmente não se dê conta) ri de si mesmo representado em cena.