Gabriel e a Montanha
Resenha por Miguel Barbieri Jr
Gabriel e a Montanha é um trabalho atípico na cinematografia nacional — não por acaso, a aventura da produção do longa foi assunto de matéria de capa em edição recente de VEJA RIO (“Uma aventura africana”, 1º de novembro). Trata-se da cinebiografia de um brasileiro, falada em boa parte em inglês, rodada na África e com nativos “representando” seus personagens.
A jornada é a do economista carioca Gabriel Buchmann, que, em 2009, partiu para o continente africano antes de começar seu doutorado em Los Angeles. Lá, quis entrar em contato com a realidade local e, longe dos pontos turísticos, hospedou-se em casas humildes. Em troca de cama e comida, Gabriel, interpretado com vigor e simpatia por João Pedro Zappa (foto), pagava os moradores com o (pouco) dinheiro da viagem. Entre outras façanhas, subiu ao topo do Monte Kilimanjaro, mas foi numa montanha do Malaui que a tragédia ocorreu. O diretor Fellipe Barbosa (do também inquietante Casa Grande) era amigo de infância de Gabriel e não economizou tempo nem energia para fazer um recorte da vida do colega. A trama reconstitui os setenta dias da estada do protagonista na África, onde ele visitou Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malaui. Além de percorrerem o mesmo caminho de Gabriel, Barbosa e sua equipe localizaram as pessoas com quem ele cruzou — e alguns depoimentos em off são de partir o coração. Um drama verídico com pegada documental ou uma honrosa homenagem a um brasileiro desconhecido. Por qualquer ângulo, o filme transborda verdade, empenho, afeto e coragem. Direção: Fellipe Barbosa (Brasil/França, 2017, 131min). 14 anos.