Ainda Estou Aqui: quem foi Eunice Paiva, a personagem de Fernanda Torres
Mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva, ela lutou para que a ditadura militar reconhecesse o assassinato de seu marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva
Premiado nos festivais de Cannes e Veneza e cotado para o Oscar, o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e na história da família do escritor: seu pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, desapareceu durante a ditadura militar, e sua mãe, Eunice Paiva, nunca desistiu de buscar respostas sobre o paradeiro do marido.
O longa mostra os momentos que antecedem o sequestro de Rubens – que havia tido o mandato cassado em 1964 – pelos militares, no dia 20 de janeiro de 1971. O engenheiro e político foi levado de seu apartamento, no Leblon, para ser interrogado, e nunca mais foi visto pela família. Eunice foi também detida, junto à filha Eliana, então com 15 anos, e conduzida também às dependências do DOI-CODI, no Rio.
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Eliana ficou presa por 24 horas no local, e Eunice por 12 dias, sendo interrogada. Quando foi libertada, passou a exigir respostas sobre o que havia acontecido com o marido. Ao saber que ele havia sido assassinato, reivindicou o reconhecimento de sua morte e a revelação de onde o corpo estaria enterrado, para que ele pudesse receber as honras fúnebres.
De família italiana, Maria Lucrécia Eunice Facciolla cresceu no bairro do Brás, em São Paulo. Precisou brigar com o pai para continuar seus estudos, e passou em primeiro lugar no vestibular para Letras na tradicional universidade Mackenzie, aos 18 anos.
Ao se casar com Rubens, acrescentou o sobrenome do marido ao seu. Eles tiveram cinco filhos: Marcelo Rubens Paiva, escritor e jornalista; Vera Sílvia Facciolla Paiva, psicóloga e professora; Maria Eliana Facciolla Paiva, jornalista, editora de arte e professora; Ana Lúcia Facciolla Paiva, matemática e empresária; e Maria Beatriz Facciolla Paiva, psicóloga e professora.
Depois de ficar viúva, Eunice se formou em Direito e se tornou uma advogada respeitada. Combateu a política indigenista do regime militar até o final da ditadura, e se transformou em uma das poucas especialistas em direito indígena do país.
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Ao lado de amigos, fundou o Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (Iama), ONG que atuou de 1987 até 2001 na defesa dos povos indígenas.
Foi uma das ativistas responsáveis por conseguir a promulgação da Lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar. Em 1996, após 25 anos de luta, Eunice conseguiu que o Estado brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva.
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Somente em fevereiro de 2014 a Comissão da Verdade revelou detalhes da tortura e morte do político. O assassino foi o ex-tenente do exército Antônio Fernando Hughes de Carvalho, oficial do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) ligado ao Cisa (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica).
No mês seguinte, o jornal O Globo trouxe mais informações, a partir de depoimentos anônimos de militares envolvidos no caso. O corpo da vítima teria sido enterrado em um lugar ermo do Alto da Boa Vista. Mais tarde, os restos foram transferidos para a Praia do Recreio (então pouco frequentada) e, dois anos depois, levados até o Iate Clube e, de lá, lançados em alto mar.
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Símbolo da luta contra a ditadura militar no Brasil, Eunice faleceu aos 86 anos, no dia 13 de dezembro de 2018, em São Paulo. Coincidentemente, sua partida aconteceu no dia em que a promulgação do AI-5, que endureceu ainda mais o regime, completou 50 anos. Ela convivia havia 14 anos com o Alzheimer.
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