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A coadjuvante que brilha

Não se deve dimensionar o talento da atriz Ada Chaseliov pelo tamanho de seus personagens. Muitas vezes, ela é bem maior que eles

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h57 - Publicado em 16 jun 2011, 21h26

Gênero teatral cada vez mais consolidado na programação carioca, o musical costuma ser espetáculo grandioso, com cenários imponentes e um elenco numeroso. Entre dezenas de artistas no palco, não é fácil se destacar e merecer elogios à parte. Exceção no meio desse balaio, a atriz Ada Chaseliov chama atenção, a despeito do porte de suas personagens, muitas vezes miúdas e que poderiam perfeitamente passar despercebidas. Em seu atual trabalho, Um Violinista no Telhado, em cartaz no teatro Oi Casa Grande, ela encanta a plateia na pele de Yente, a casamenteira da fictícia cidadezinha russa onde se desenrola a trama. Filha de judeus russos que migraram para o Brasil fugindo de perseguições antissemitas, Ada enriqueceu o papel com o sotaque copiado de uma tia e uma hilariante incontinência verbal. Um Violinista é o oitavo trabalho dela com os diretores Charles Möeller e Claudio Botelho, a mais assídua parceria entre um artista e a dupla que revitalizou os musicais na cidade. “Ela acompanhou todas as nossas fases e virou um talismã”, enfatiza Möeller.

Aos 60 anos de idade e quase quarenta de profissão, Ada se encontrou nesse tipo de espetáculo que alia arte dramática e cantoria. Em cinco das suas oito participações com Möeller e Botelho, fez papéis considerados menores. Além da casamenteira Yente, interpretou uma impagável stripper em Gypsy (2010), a mãe da compositora Chiquinha Gonzaga em O Abre Alas (1998), a prostituta Dóris Pelanca em Ópera do Malandro (2003) e a governanta da casa da família Von Trapp em A Noviça Rebelde (2008). Apesar dos tipos secundários na trama, colheu aplausos de público e crítica. Nas outras três peças, porém, deu vida a personagens relevantes. Esteve no time de frente em As Malvadas (1997), Cole Porter ? Ele Nunca Disse que Me Amava (2000) e Cristal Bacharach (2004), quando foi a protagonista absoluta, por obra do acaso. De supetão, a temporada da montagem foi estendida, mas a titular em cena, Totia Meireles, já havia marcado uma viagem e se viu impossibilitada de prosseguir. Resultado: nessa prorrogação, foi substituída pela experiente atriz, que ensaiou apenas uma semana e estreou “lindamente”, como descreve Möeller.

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Interpretar tipos do segundo escalão tinha tudo para desestimular uma profissional com experiências bem-sucedidas também à frente de grandes produções. Não no caso de Ada, pois quanto menor o papel, maior o desafio. “Certa vez, ouvi da Fernanda Montenegro que é melhor ser coadjuvante em uma boa atração do que protagonista de uma ruim”, diz. Até conhecer Möeller e Botelho, na década de 90, ela focava a carreira no chamado teatrão, encenando clássicos de Molière, Gógol, Ibsen e atuando ao lado de colegas do calibre de Sérgio Britto e Nathalia Timberg. Na televisão, participou de especiais e novelas. Seu último papel de fôlego foi em Belíssima, na qual deu vida a uma caricata mãe judia. Já com o cinema, Ada nutriu uma relação familiar. Foi casada com o ator, diretor e professor Ney Santanna, que, por sua vez, é filho do cineasta Nelson Pereira dos Santos. Atuou em cinco longas, sendo um do ex-marido e dois do ex-sogro. “Minha vida mudou radicalmente quando o Charles me apresentou às canções do Stephen Sondheim”, lembra a atriz, citando o compositor americano. Desde então, passou a se aplicar nas aulas de canto e a se interessar pelo universo dos musicais. Há dois anos, ela viajou pela primeira vez a Nova York, onde, na companhia da dupla de diretores, assistiu a nove espetáculos da Broadway.

Habituada a dividir o palco sempre com muita gente, Ada mora sozinha no Jardim Botânico desde que sua filha única, a publicitária Mila, 29 anos, decidiu se mudar para Israel, em 2010. Por sinal, a mãe da moça se considera uma “judia-ateia”. Ou seja: embora não professe a religião, está impregnada da cultura hebraica, principalmente no que diz respeito a comportamentos e símbolos. Um ritual do qual não abre mão é jantar fora uma vez por semana com o amigo Möeller, geralmente às 7 da noite ? “horário de criança”, segundo o diretor e seu principal confidente. Apesar da intimidade, não há privilégios no trabalho. Como qualquer outro candidato a uma vaga na trupe, ela se submete aos testes de seleção vocal para os musicais. A discrição é tanta que os atores novatos custam a perceber toda a intimidade dela com os diretores. Uma admiração que não deve ser dimensionada pelo tamanho do personagem. “Não adianta cercarmos excelentes protagonistas de coadjuvantes medíocres”, decreta Botelho. Ada Chaseliov mostra que é possível engrandecer a cena dando vida a tipos menores.

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