O texto é a estrela
De volta ao palco, Traição encanta a plateia com a ironia dos diálogos de Harold Pinter
AVALIAÇÃO ✪✪✪
A montagem de 2008 rendeu os prêmios APTR, aos cenários de Marcos Flaksman, e Shell, à direção de Ary Coslov. De volta ao circuito, no Solar de Botafogo, Traição, de Harold Pinter (1930-2008), mantém o trabalho dos dois, assim como a tradução respeitosa de Isio Ghelman e os caprichados figurinos de Rô Nascimento. No elenco, Leonardo Franco também retoma o papel do duplamente traído Robert, agora ao lado de Vanessa Lóes (Emma) e de Pablo Padilla (Jerry).
A engenhosa história do autor inglês, vencedor do Nobel de Literatura em 2005, é contada de trás para a frente. Começa após o fim de um triângulo amoroso que durou sete anos e, supostamente, seguiu guardado em segredo por uma das partes ao longo de quase três décadas. Pivô do adultério, Emma encontra o ex-amante Jerry num bar, em 1977, para contar que a união com Robert chegara ao fim. Ela revela também ao ex-parceiro de infidelidade ? melhor amigo de Robert e padrinho de casamento dos dois ? que o marido já sabia do caso fazia anos. No desenrolar da trama, o espectador acompanha
o comportamento impassível do personagem traído e o efeito corrosivo do sentimento de culpa alimentado pelos amantes. Em cena, as atuações burocráticas de Vanessa e Padilla contrastam com a dedicação de Leonardo Franco. As oito demoradas trocas de cenário também poderiam ter sido evitadas. Nada, no entanto, atrapalha o raro deleite de acompanhar a encenação de um texto brilhante.
Traição (80min). 14 anos. Estreou em 26/09/2008. Solar de Botafogo (180 lugares). Rua General Polidoro, 180, Botafogo, ☎ 2543-5411. → Sexta e sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 40,00 (sex. e dom.) e R$ 50,00 (sáb.). Bilheteria: a partir das 16h (sex. a dom.). IC. Até 13 de maio.