Teatro Serrador reabre com show de Bibi Ferreira
Espetáculo com a atriz e cantora é fechado para convidados. Programação aberta ao público começa na semana seguinte, com ocupação da Aquela Cia de Teatro
Se existe alguma verdade na mística em torno dos chamados deuses do teatro, tão evocados pelos profissionais da área, eles certamente têm participação em uma grande coincidência na história do Teatro Serrador. Inaugurado em março de 1940, o espaço recebeu, já em sua primeira sessão, uma comédia encenada pela companhia de Procópio Ferreira (1898-1979), um gigante das artes cênicas no país. Na quinta (7), mais de sete décadas transcorridas e após um período de três anos fechado, o palco será reinaugurado sob as bênçãos de ninguém menos que Bibi Ferreira, filha de Procópio e ela própria, hoje em dia, uma das divas do teatro nacional. Aos 93 anos, a atriz e cantora faz o show de abertura do teatro, apenas para convidados
A obra que revitalizou o teatro levou seis meses e consumiu 600 000 reais. Não se tratou apenas de um banho de loja, mas de uma reforma completa que transformou palco, poltronas, banheiros, piso e camarins. A infraestrutura também sofreu melhorias, com a impermeabilização da laje e a modernização da parte elétrica. “Vamos devolver aos cariocas um patrimônio cultural da cidade do jeito que ela merece”, festeja Marcelo Calero, secretário municipal de Cultura. A programação aberta ao público começa mesmo na semana que vem, com as reestreias de dois espetáculos da Aquela Cia de Teatro: os elogiados Laio e Crísipo e Caranguejo Overdrive (na foto abaixo). A primeira estreia no dia 15 e fica em cartaz às sextas e sábados, às 20h (R$ 40,00, classificação 16 anos); a outra volta no dia 19 e tem sessões de terça a quinta, às 19h30 (R$ 40,00, classificação 16 anos).
A construção do Teatro Serrador é um dos últimos atos da trajetória empresarial de Francisco Serrador (1872-1941), espanhol radicado a partir de 1907 em São Paulo, onde passou a se dedicar ao mercado de entretenimento, notadamente o de exibição de filmes. Em seu terceiro ano de atividade no ramo, ele já controlava aproximadamente 5000 assentos em salas da cidade, enquanto seus mais próximos concorrentes tinham no máximo 750.
No princípio dos anos 1910, Serrador começou a expandir seus negócios no Rio, inicialmente com a compra de cinemas na Avenida Central e depois com um projeto que seria o embrião da Cinelândia. Inaugurado perto dali, na Rua Senador Dantas, com a comédia Maria Cachucha, de Joracy Camargo, o Teatro Serrador foi palco de importantes momentos das artes cênicas. Por lá passaram a companhia da atriz Eva Todor, e montagens clássicas como a primeira de Valsa Nº 6, de Nelson Rodrigues. A própria Bibi, que agora reinaugura a sala, foi presença constante. Comprado em 1984 pela atriz Brigitte Blair, porém, o teatro viveu os seus últimos anos em decadência. Quadro que agora promete voltar aos tempos de glória de Procópio.