Passarinhando: como praticar birdwatching no Rio de Janeiro
Praticantes de birdwatching contam como se reconectam com a cidade por meio da atividade
No dia 21 de novembro de 2017, Cláudio Martins comemorou três anos de aposentadoria e do início de uma nova fase em sua vida. Pouco antes de deixar a carreira de engenheiro, ele havia lido sobre a observação de pássaros num artigo de jornal. “Foi uma revelação para mim, não fazia ideia que existia essa atividade”, lembra. A partir daí, Cláudio entrou num universo que está ao alcance de qualquer carioca, mas no qual poucos prestam atenção.
A observação de pássaros – ou o birdwatching – é uma atividade que vem conquistando adeptos no Brasil e é uma ótima forma de descobrir as belezas menos óbvias da metrópole – um dos propósitos do #hellocidades, o projeto da Motorola que intenciona inspirar novos olhares sobre nossas cidades.
O Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos reconhece 1 692 espécies de aves do Brasil. Só na cidade do Rio, já foram catalogadas 417 espécies no Wikiaves, uma enciclopédia digital colaborativa dedicada aos pássaros brasileiros. No estado todo, foram 675 registros – número que o posicionaria, sozinho, entre os 50 países com a maior diversidade de pássaros do mundo, pelos dados da organização Birdlife International.
Qualquer um pode participar da Wikiaves e contribuir com fotografias e gravações de áudio de pássaros. Na cidade do Rio, 1 326 pessoas já postaram seus registros. E não é preciso muito para se tornar um passarinheiro – como são hoje conhecidos os adeptos.
Não importa se você sai sozinho ou se participa de excursões. Nem se gosta de observar aves entre os prédios ou nos parques da cidade. Nem mesmo se tem uma câmera profissional ou se usa o celular. O que conta é ter paciência e disposição para acordar, literalmente, antes dos passarinhos. Pelas seis da manhã, muitos observadores já estão a postos esperando os alvissareiros começarem a despertar e buscar alimento.
“O Rio é privilegiado porque engloba espécies de diferentes biomas, que vêm do Sul da Bahia, da Amazônia e da região Sul”, afirma o biólogo Igor Camacho, que organiza passeios pela sua empresa de ecoturismo Canindé, especializada na observação de aves.
Para os iniciantes, Camacho recomenda o Jardim Botânico, local de mais fácil acesso e onde já é possível ter um aperitivo das aves da Mata Atlântica, como o saíra-galega, tucano-de-bico-preto e jacupemba. A Floresta da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca são outros locais atraentes. Para aqueles que vão pegando o gosto e querem aumentar a sua lista de observações, as excursões de fins de semana à Serra dos Órgãos são as mais indicadas.
Como o Wikiaves permite que cada observador registre suas imagens e áudios na plataforma, a atividade ganhou um quê de competição. “Eu tenho 549 espécies cadastradas. Se contar os registros de vocalizações, são 560”, diz, com precisão, o programador Eduardo Ferreira. “Quando eu comecei, há quatro anos, aumentar a lista de espécies era o que mais me motivava. Mas com a prática, meu conceito foi mudando. Agora eu busco contribuir para a preservação das espécies”, diz.
Ele conta que, em 2014, na praia de Sepetiba, na Zona Oeste, fez o primeiro registro documentado na região Sudeste do trinta-réis-miúdo, uma espécie da América do Norte que migra para as Américas Central e do Sul para fugir do inverno. “A espécie já foi vista no Nordeste e no Sul, e existia essa lacuna no Sudeste, então fico feliz de contribuir para a ornitologia do Brasil”, diz Eduardo.
A proeza aconteceu por acaso. “Eu fotografava outra espécie, o trinta-réis-real. Quando cheguei em casa, notei um pássaro diferente na imagem. De cara, eu não o reconheci. Foi na Wikiaves que o identificaram”, diz.
O músico Francisco Falcon tem interesse por pássaros desde criança. Mas de uns anos para cá, deixou de lado as gaiolas e resolveu ir ao habitat natural das aves que mantinha presas. Hoje, viaja com uma câmera a tiracolo em suas turnês musicais e já começa a usar a inspiração da Mata Atlântica em suas composições instrumentais. “Estou experimentando. Tenho o projeto de incluir essas experiências com os sons dos pássaros nas próximas gravações”, diz.
Essa maior proximidade com a natureza e a consciência sobre conservação ambiental pelos passarinheiros são as vitórias que o biólogo Igor Camacho vê na prática: “Eu percebia que as informações acadêmicas demoravam muito para chegar ao público leigo, e a observação de aves é uma atividade importante de divulgação, que ajuda a sensibilizar sobre a diversidade brasileira e a necessidade de preservação”. Não são poucas as histórias de observadores que denunciaram crimes ambientais ou que pressionaram pela manutenção de determinadas áreas.
A atividade também pode trazer vitórias pessoais ao passarinheiro. Nos últimos três anos, o aposentado Cláudio Martins ganhou um novo ciclo de colegas ao se associar ao Clube de Observadores de Aves do Rio de Janeiro (COA-RJ) e passa boa parte do seu tempo passeando, estudando, registrando e postando suas conquistas no Wikiaves. “Quando estava para me aposentar, estava preocupado em não ter o que fazer, não sabia como ia ser”, relembra. O birdwatching veio para salvá-lo da monotonia.
O #hellocidades propõe agora um desafio: fique atento ao seu redor e perceba quantos sons ou aves diferentes dá para observar no seu caminho para o trabalho ou mesmo da sua janela. Se a prática ganhar um sentido especial para você, pegue o celular e tente registrar a cena. Coloque nas redes sociais usando a hashtag do projeto e convide outras pessoas a tornarem-se, também, passarinheiras. Conheça mais sobre o Rio em hellomoto.com.br.