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Parque Lage cria medidas para resgatar tradição de excelência

Sem repasse da Secretaria de Cultura, novo conselho fica responsável pela implementação de medidas para recuperar a instituição

Por Renata Magalhães
Atualizado em 12 ago 2017, 10h50 - Publicado em 12 ago 2017, 10h50
Fabio Szwarcwald e Marcelo Viveiros de Moura: parcerias com a iniciativa privada (Felipe Fittipaldi/Divulgação)

Há exatamente meio século, Glauber Rocha assinalava o início do Cinema Novo brasileiro com o lançamento de Terra em Transe. Um ano depois, seria a vez de o diretor Joaquim Pedro Andrade fazer história com Macunaíma, considerado até hoje um dos filmes mais importantes da produção nacional. Em comum aos dois, a locação escolhida para rodar cenas que marcaram época: um imponente palacete de pedra localizado no coração da Zona Sul, aos pés do Corcovado. Tombado pelo Iphan como patrimônio histórico e paisagístico, o Parque Lage ficou conhecido pela efervescência cultural da época e se tornou referência na formação de artistas, especialmente após a fundação da Escola de Artes Visuais (EAV), em 1975. O padrão de excelência, no entanto, não foi suficiente para poupar o espaço da crise que acomete o Rio. Sem os repasses prometidos pelo governo do estado, a instituição precisou cortar funcionários, limou 250 bolsas de estudo e ameaçou até fechar as portas em definitivo. Em meio ao imbróglio financeiro, um novo conselho assumiu a Associação dos Amigos da Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro (Ameav), com o objetivo de implementar medidas a curto prazo que resgatem os dias de glória.

À frente do grupo está Fabio Szwarcwald, nomeado para dirigir a EAV em março. Pela primeira vez na história da escola, um economista assume o cargo, que tradicionalmente era ocupado por artistas formados ali ou professores da instituição — entre eles, Luiz Áquila e Luiz Ernesto, ícones do movimento conhecido como Geração 80, e mesmo Rubens Gerchman (1942-2008), fundador da escola. Egresso do mercado financeiro, colecionador de arte, com mais de 400 obras de acervo próprio, e membro do conselho do New Museum, em Nova York, o novo diretor reuniu um time de consultores de peso — todos advogados cariocas, envolvidos com outros equipamentos culturais e exercendo um trabalho filantrópico —, para discutir e pôr em prática formas alternativas de aumentar a renda. Por meio de parcerias com a iniciativa privada, a principal meta do grupo é, em um prazo estimado de seis meses, tirar o caixa do vermelho. “Desde o começo, soube que enfrentaria uma grande dificuldade financeira e meu desafio era pensar em um modelo de gestão sustentável, que não dependesse da verba do estado”, explica Szwarcwald, especializado em finanças e gestão empresarial pela Fundação Getulio Vargas e pelo Ibmec.

(Arquivo Memória Lage/Divulgação)

Com o salário dos funcionários atrasado desde maio, a instituição viu o repasse feito pelo governo passar de 12 milhões de reais anuais, acordado em 2014, para os atuais 150 000 reais mensais. No momento, os novos conselheiros buscam marcas que queiram associar seu nome à EAV, principalmente nas áreas de arte, educação e cultura. A agenda prevê eventos patrocinados como concertos a céu aberto, exposições itinerantes nos jardins e feiras de intercâmbio. Isso possibilitaria a melhoria da infraestrutura, com o investimento em projetores, equipamentos de tecnologia multimídia e até mesmo a instalação de câmeras para expandir o alcance das aulas através da internet e dos sistemas de educação a distância. “A Secretaria de Cultura hoje nos dá um suporte mínimo, mas é muito pouco para as nossas ambições”, complementa o presidente do novo conselho, o advogado Marcelo Viveiros de Moura, sócio do escritório Pinheiro Neto e especialista em direito societário com foco em fusões e aquisições.

Projetado pelo arquiteto Mario Vodret em 1920, o casarão foi encomendado pelo armador brasileiro Henrique Lage para sua esposa, a cantora lírica Gabriela Besanzoni. Desapropriado e com os jardins convertidos em parque público, o palacete, já como EAV, formou grandes nomes da arte contemporânea como Nelson Leirner, Beatriz Milhazes, Alair Gomes, Anna Bella Geiger e Adriana Varejão. “Ter o Parque Lage apenas como um ponto turístico é ter um corpo sem alma. A EAV me fez descobrir o que era arte contemporânea e teve um papel fundamental na minha formação, não só como artista, mas também como público”, lembra Adriana. A artista carioca foi a responsável por um dos grandes feitos da arte nacional, em 2011, quando a obra Parede com Incisões à la Fontana II foi arrematada por 2,9 milhões de reais em um leilão em Londres, o maior valor alcançado na época por uma obra de um brasileiro em vida. Com um belo histórico e inúmeros talentos revelados ali, o Parque Lage merece brilhar. ß

(Veja Rio/Veja Rio)
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