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Ney Matogrosso ensaia show inédito e fala sem medo de quase tudo

Às vésperas de se apresentar com a banda Nação Zumbi no Rock in Rio, cantor dá entrevista sem censura para a VEJA RIO

Por Renata Magalhães
Atualizado em 31 ago 2017, 13h13 - Publicado em 31 ago 2017, 13h07
(Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

Homenageado na 28ª edição do Prêmio da Música Brasileira, Ney Matogrosso foi ovacionado por um Theatro Municipal lotado no fim de julho. Mais palmas o aguardavam no último dia 23, na estreia do musical Puro Ney, atração no Teatro dos Quatro, em que Soraya Ravenle e Marcos Sacramento passeiam por seu repertório. Os tributos, porém, não pararam aí. Também em agosto, o projeto Primavera nos Dentes — reunião de músicos que inclui o experiente baterista Charles Gavin e a jovem cantora gaúcha Duda Brack — revisitou em disco canções do grupo Secos & Molhados, formado por Ney, João Ricardo e Gérson Conrad na década de 70. Aos 76 anos, o cantor recebe flores em vida, mas não se acomoda. Em entrevista a VEJA RIO, falou sobre o show inédito que fará no Rock in Rio, no dia 22, ao lado da banda Nação Zumbi, e, sem censura, discorreu sobre um pouco de tudo. Confira os destaques da conversa:

› Homenagens Estou encerrando minha temporada de homenagens. Entendi com o tempo que é melhor receber tributos vivo do que morto. Pensei que estava na hora de me abrir, mas não de me escancarar. Surgiram outras propostas, mas, quando pergunto o que vou ter de fazer, dizem que preciso cantar. As pessoas são engraçadas: querem me homenagear e me colocam para trabalhar. Chega. Estou satisfeito com o que recebi.

› Primavera nos Dentes, o tributo Fizeram um disco de rock, pesado, que me agradou muito. É uma releitura interessante, feita com independência. Se fosse cópia, um cover, não precisaria existir. Consigo observar momentos em que a Duda (Brack, vocalista) faz referência a mim. Sempre ao modo dela, mas inspirada pela minha maneira de cantar, como no grito ao final de Primavera nos Dentes. Adorei!

› Puro Ney, o musical A peça tem números que me agradam, tanto da Soraya (Ravenle) quanto do Sacramento (Marcos Sacramento). Gosto muito do trabalho dos dois. Só há um estranhamento quando vejo o Sacramento tentando mimetizar o meu gestual em algumas cenas. Prefiro quando ele não me evoca, porque ouço melhor sua voz e o vejo como artista.

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› Nostalgia Não sou nostálgico, não sou saudosista. O que me impressiona é o Secos & Molhados ter existido naquela época e ser ouvido até hoje. Não sei como a ditadura deixou aquilo. Fomos precursores. Sem nossa atuação, hoje alguns artistas não poderiam fazer o que fazem. Foi um chute na porta. Recebia muitos recados. Soube que há muito a meu respeito nos arquivos da repressão, documentos assinados por pessoas que diziam ser uma afronta eu existir e me apresentar daquela forma na televisão.

› De volta ao Rock in Rio Tirei férias em agosto e voltei à rotina com programação intensa de ensaios para o show com o Nação Zumbi no Rock in Rio. Abri a primeira edição do festival, em 1985, e fiz outras participações. Agora, vamos tocar canções deles e cinco do Secos & Molhados, o que quase fez o Charles Gavin desistir do projeto Primavera nos Dentes. Eu disse: “Imagina!”.

› “Não ouço música” Meu som fica no 2º andar e passo muito tempo no quarto lendo, então ouvir música não é um hábito. Depois de velho, comecei a gostar de música clássica. Mas só quando vou para o mato, para o meu sítio perto de Saquarema, e não perturbo ninguém. Só escuto com frequência quando estou criando. Tenho uma caixa de discos que anônimos me dão, com composições próprias. Busco referências. Já gravei música de muita gente assim.

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› Política As pessoas querem repetir a história por idiotice, por não saber o que foi. A saída são os movimentos populares, mas me preocupa não ver manifestações fora da internet. A polarização de direita e esquerda é idiota e conveniente. Minha desilusão com política é não identificar nenhum ideal além do dinheiro. Por isso não levanto nenhuma bandeira. Mentira, levanto, sim: a dos direitos humanos.

(Felipe Fittipaldi/Veja Rio)

› Cinema Meu sonho era ser ator. Foi assim que comecei, só não fui reconhecido. Depois que passei a cantar, não consegui mais parar. No cinema exercito esse lado, e consigo conciliá-lo com outros projetos. Recentemente, filmei Caminhos Magnéticos, do português Edgar Pêra, em que vivo um médium subversivo, e Sol Alegria, de Tavinho Teixeira, que, apesar do nome, é quase um Pasolini. Interpreto um ex-toureiro poeta que só se comunica com frases do García Lorca.

› Novo CD Sigo com a turnê de Atento aos Sinais, já há quatro anos e meio, e começo a organizar o repertório do próximo álbum. Não tenho pressa nenhuma. Tenho algumas canções inéditas, mas o CD ainda é um rascunho. O que escuto, até andando na rua, eu anoto. Estou na fase de analisar essas anotações, e tudo está no balaio. O resultado sai daí. Lanço discos porque gosto de fazer capas, gosto de apresentar esse trabalho físico.

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› Envelhecer Do jovem que integrou o Secos & Molhados, guardo os ideais. Sou hippie nos sentimentos e no pensamento. Acreditei naquilo e achava realmente que iria mudar o mundo. Você chegava à minha casa, eu não sabia quem você era, você comia e ia embora, e eu nem perguntava o seu nome. Existia o que era tão pregado: paz e amor. Conheci a utopia e vi que ela é possível. Não posso me perder dela. O físico mudou, mas, admito, estou em forma. A pele não é mais a mesma, mas não vou nunca fazer uma cirurgia plástica. Eu? Me metamorfosear?

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