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Os queridinhos de Hollywood

Eles não aparecem, mas fazem sucesso. Conheça os profissionais cariocas mais requisitados pelas produções estrangeiras filmadas na cidade

Por Rafael Sento Sé
Atualizado em 5 jun 2017, 14h47 - Publicado em 21 out 2011, 16h22

Os fãs da série Crepúsculo que forem aos cinemas a partir do próximo dia 18 conferir o mais recente capítulo da saga, Amanhecer, verão uma cena em que o casal de atores Robert Pattinson e Kristen Stewart se diverte em uma noitada no bairro da Lapa. No meio da multidão espalhada pela Avenida Mem de Sá, onde não faltam nem mesmo garçons equilibrando bandejas de caipirinhas e chopes, os dois trocam beijos e olhares apaixonados.

A sensação é que as imagens foram feitas por uma lente que flutua entre as pessoas. Por trás da sequência, a mais trabalhosa entre todas as filmadas no Rio em novembro do ano passado, está o carioca Felipe Reinheimer, 40 anos. Ele utilizou um aparelho chamado steadicam para conseguir o efeito. Trata-se de uma engenhoca de 35 quilos em que a câmera é instalada em uma espécie de colete vestido pelo operador. Dotado de molas e amortecedores, o artefato garante imagens de altíssima qualidade e de forte impacto dramático. “É um equipamento complexo, que exige destreza de quem o manipula”, conta ele.

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Nos últimos cinco anos, o Rio foi cenário de seis produções cinematográficas internacionais de grande porte. Ao contrário do que acontecia no passado, quando as equipes chegavam ao país completas, realizavam as filmagens e iam embora, hoje os estúdios contratam profissionais, técnicos e serviços de apoio locais. É verdade que a redução dos custos tem um peso nisso. Afinal de contas, é mais barato recrutar técnicos nativos do que trazê-los dos Estados Unidos e da Europa. Mas a principal razão para a mudança diz respeito à alta qualificação dos brasileiros que atuam no ramo. Nos dez dias em que a equipe de Amanhecer esteve por aqui, foram arregimentadas 500 pessoas, entre elas Reinheimer. Dono de um robusto currículo, lapidado nos treze anos em que viveu em Los Angeles, entre 1995 e 2008, ele atuou em filmes como o premiado A Rainha, dirigido por Stephen Frears e estrelado por Helen Mirren, atriz agraciada com o Oscar. “Hoje temos profissionais qualificados aptos a trabalhar em qualquer tipo de produção”, afirma Sérgio Sá Leitão, diretor-presidente da RioFilmes.

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Com cerca de 1?000 produtoras cinematográficas instaladas na cidade e 30?000 profissionais ligados ao setor, é natural que exista uma elite que não faz feio nem mesmo quando comandada por diretores acostumados ao que existe de melhor no mundo. Trata-se de uma turma que trabalha duro e vive bem distante do glamour que cerca astros e estrelas. A produtora Jazmin Castillo achou que tinha tirado a sorte grande quando foi convocada para trabalhar em Velozes e Furiosos 5, blockbuster rodado parcialmente na cidade em novembro do ano passado. Como várias cenas de ação foram gravadas em Porto Rico, as filmagens aqui se limitaram a algumas tomadas de cartões-postais e praias. Um dos lugares escolhidos foi a Ponte Rio-Niterói, e, para fotografá-la, Jazmin passou um dia inteiro em uma gaiola de manutenção da via expressa, suspensa sobre a Baía de Guanabara, registrando as variações de luz na paisagem. “Foi uma sensação horrível, mas não havia como eu me recusar. Tive de superar o medo”, lembra. Ao longo de uma semana e meia, a produtora visitou outros lugares para realizar o mesmo tipo de missão. A experiência compensou. Seu nome aparece nos créditos do filme, que, até agora, detém a quinta maior bilheteria do ano e arrecadou cerca de 630 milhões de dólares.

Entrar para a equipe de uma produção internacional não é fácil. Além de uma experiência respeitável, o candidato precisa ter uma boa rede de relacionamentos e, claro, um pouco de sorte. Foi por meio de um amigo que o assistente de direção Caio Campos, 26 anos, soube que uma equipe da produtora americana.

[—FI—]

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Millenium Films estaria no Brasil em 2009 rodando sequências de uma nova produção. Tratava-se do filme Os Mercenários, dirigido e estrelado por Sylvester Stallone. A O2, do cineasta Fernando Meirelles, era a parceira brasileira. Campos tinha amigos por lá e aproveitou para enviar uma amostra de seus trabalhos anteriores, que incluíam uma participação na série Mandrake, da HBO. Deu certo, e ele foi chamado para uma entrevista com a primeira assistente de direção brasileira, Flavia Zanini. Para ele, trabalhar lado a lado com o ídolo Stallone foi emocionante. “Sempre fui fã de Rocky e Rambo. E estava ali com o cara me chamando pelo nome. No fim das filmagens, ganhei um charuto de presente”, recorda.

Até pouco tempo atrás, um jovem que quisesse se aventurar no vasto universo de uma produção internacional teria de obrigatoriamente ter passado por um estúdio de Hollywood ou uma produtora coligada. Hoje, as maiores empresas do setor no país já contam com equipamentos de primeira linha e, de certa forma, a operação de um set de filmagens segue padrões bastante semelhantes aos utilizados no exterior. O que muda, basicamente, são a escala e o nível de exigência. Em Os Mercenários, uma das cenas mais espetaculares é a do bombardeio de um porto, que acaba indo pelos ares. “Como não dava para repetir, ela foi feita com cinco câmeras, coisa rara nas produções nacionais”, compara Campos. No mesmo filme, a produtora Fernanda Laignier teve de vasculhar todos os cantos da cidade até encontrar um lugar em que a equipe de efeitos visuais pudesse fazer os testes de explosão de automóveis. O local escolhido foi o parque de diversões Terra Encantada, na Barra. “A cada detonação, os alarmes dos carros estacionados no shopping ao lado disparavam”, diz Fernanda.

Mais antenados, os jovens cariocas queridinhos de Hollywood vivem uma realidade muito distinta da experimentada por técnicos de gerações anteriores. Contratado para as filmagens de Orquídea Selvagem, em 1990, o fotógrafo Gustavo Hadba lembra o abismo que existia entre as produções daqui e as estrangeiras. Detalhes simples, como o uso de fitas adesivas coloridas para marcar a posição dos atores no set e para proteger a câmera, ganhavam ares de novidade. “Ficávamos boquiabertos. Parecia aquela coisa do índio maravilhado com o espelho”, diz ele. De fato, as coisas mudaram muito de lá para cá. E para melhor.

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