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llha da Gigoia atrai com ótima gastronomia e jeito de vilarejo praiano

Conjunto de ilhas da Barra seduz visitantes e moradores com galeria de arte, café com saraus e bons restaurantes em ambiente de natureza e tranquilidade

Por Carol Zappa
20 Maio 2022, 06h00
Dez ilhas formam o arquipélago da Lagoa da Tijuca: para chegar lá, só de barco -
Dez ilhas formam o arquipélago da Lagoa da Tijuca: para chegar lá, só de barco - (E+/Getty Images)
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Nascido em São Paulo e criado no Espírito Santo, o chef Geronimo Athuel morava havia dois anos em Botafogo quando, um dia, foi à Praia da Barra com a namorada. Erraram a saída do metrô e deram de cara com um inesperado espe­lho-d’água. Curiosos, atravessaram o lago a bordo de um barquinho até a Ilha da Gigoia, onde encontraram um clima bucólico e tranquilo de cidade do interior em meio ao frenesi do bairro. Não deu outra: em menos de seis meses, o casal havia se mudado para lá. “Nunca tinha ouvido falar, descobrimos por acaso”, conta o chef. “A experiência de pegar um barco, deixar para trás a confusão e entrar num vilarejo seguro e acolhedor foi determinante.” Mesmo entre cariocas, o destino ainda é pouco conhecido — mas cada vez menos. Em janeiro, quatro anos depois de fincar base por lá, Athuel inaugurou o Ocyá, restaurante de frutos do mar em uma esquina privilegiada, à beira da vizinha Ilha Primeira. Pescador desde criança, ele investe em peixes fresquíssimos e maturados pelo processo de dry aged, sem nunca passar por água doce nem gelo, preparados na parrilla à vista do cliente. Conseguir uma reserva no fim de semana pode ser difícil, especialmente em dias de sol.

Saraus e quitutes: atrações no Café da Poesia, da confeiteira Camila Monteiro -
Saraus e quitutes: atrações no Café da Poesia, da confeiteira Camila Monteiro – (Leo Lemos/Divulgação)

A concorrida empreitada é uma das principais novidades no entorno da Gigoia, a mais movimentada e urbanizada das dez ilhotas do arquipélago da Lagoa da Tijuca, que vem despontando como point turístico e cativando um crescente número tanto de visitantes como de novos moradores. Interessado nos preços mais baixos e na baixa burocracia para fechar um aluguel, o argentino Gustavo Ustara já vive na ilha há três anos, após três décadas no Brasil. Como muitos, ele se viu na situação de ter que se reinventar na pandemia, quando a agência de turismo em que trabalhava encerrou as atividades. Há sete meses, abriu o Espaço Goia, misto de bar, bistrô e galeria de arte que funciona de sexta a domingo, literalmente debaixo de seu apartamento. Ali, além de ostras frescas, drinques orgânicos e alfajores feitos por ele, estão à venda obras de artistas locais. Seguindo pelas ruelas estreitas e arborizadas do aprazível labirinto insular, o escritor Juan Sengaro e a confeiteira Camila Monteiro, moradores da Gigoia há pouco mais de um ano, comandam o Café da Poesia, inaugurado em novembro. Entre livros, pães de longa fermentação e doces típicos da Argentina, sua terra natal, o espaço abriga saraus de poesia e música que costumam reunir artistas e escritores que vivem ali, como o poeta Mano Melo. “A ilha tem um grande potencial para o turismo e está virando um polo gastronômico e cultural. No fim de semana faz fila para o café da manhã”, celebra Camila.

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O casal Thaís e Ryan: visita à ilha para conhecer os preparos do novo Ocyá -
O casal Thaís e Ryan: visita à ilha para conhecer os preparos do novo Ocyá (Leo Lemos/Divulgação)

O roteiro naquele recanto da cidade guarda mais novidades, entre elas o Ilha 495, com cardápio variado de petiscos, hambúrgueres e drinques, e o temático Ilha Pirata, na vizinha Ilha das Garças, com equipe vestida a caráter, balanço instagramável no deque (uma dessas invenções da modernidade) e receitas brasileiras. Os recém-che­gados negócios vêm se somar a outros já consagrados na trilha gastronômica da região, como os bares do Cícero, na Ilha Primeira, Caiçara e Cais Bar, na Gigoia. Para chegar lá, só cruzando as águas. A breve travessia, com acesso nos deques atrás do shop­ping BarraPoint ou da Estação Jardim Oceâ­nico, custa de 3,50 a até 30 reais, para quem quiser fazer o passeio pela chamada Veneza Carioca, passando pelas ilhas e pelo manguezal habitados por jacarés e capivaras. Os barcos e as chalanas transitam 24 horas por dia, mas os intervalos podem ser mais longos, dependendo do horário. Para quem quiser esticar o tour, há várias pousadinhas simples espalhadas pela ilha. Aberto há cinco anos pelo cineasta Felipe Brêtas, o Casanova Residence é o único hotel-butique daquele pedaço, com sete quartos temáticos que retiram inspiração de cidades como Veneza, Paris e Capri, cozinha equipada para os hóspedes com café da manhã e uma piscina debruçada sobre a lagoa. “Recebemos muitos estrangeiros, mas com a pandemia a procura de cariocas aumentou muito”, observa André Carvalho, CEO da Easy Hotéis, que administra o hotel, já lotado para os próximos fins de semana, com diárias a partir de 215 reais.

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Entusiastas da gastronomia, a antropóloga Thaís, 30 anos, e o marido, o militar Ryan Blese de Paula, 31, saíram de casa especialmente para conhecer o Ocyá. “Curtimos muito passear de barco em meio às casas e à vegetação, sentindo a brisa no rosto e assistindo ao lindo pôr do sol. Pretendemos voltar com mais calma para explorar a Gigoia”, promete Thaís. Como era de esperar, o aumento do interesse por esse naco da Barra traz seus efeitos colaterais. Moradores reclamam do avanço desordenado, do turismo desenfreado e da ausência do poder público, o que leva à especulação imobiliária e à poluição da lagoa. A sujeira e o barulho também estão entre as queixas dos locais. Por esses motivos, a dentista Flavia Rangel, 38 anos, optou pela Ilha Primeira, mais tranquila e residencial, quando decidiu sair de Laranjeiras, há quatro anos, cansada do agito da cidade. Ela faz a travessia de barco todos os dias para trabalhar nos consultórios localizados “no continente” e, nos dias de folga, frequenta bares e casas de amigos na Gigoia. Não se arrepende da vida mais tranquila, mas garante que a mudança não é para qualquer um. “Muita gente não se adapta ao esquema de barcos, de sujar o pé antes de ir para o trabalho. Acaba ocorrendo uma alta rotatividade aqui”, afirma.

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Estima-se que a população local tenha dobrado nos últimos anos, chegando a mais de 6 000 habitantes espalhados pelos cerca de 130 000 metros quadrados. A advogada Raphaela Leite, 27 anos, é integrante da leva dos neomoradores — há pouco mais de um mês, trocou a frenética Copacabana pela paz da Ilha da Gigoia, próxima do novo emprego, em um escritório da Barra. Acha que valeu a pena. “É uma experiência totalmente diferente, sem barulho, muita natureza, às vezes me sinto fora do Rio”, relata a jovem, que está começando a se enturmar com os vizinhos — “são todos muito simpáticos”, elogia. Ao lado de Raphaela, a médica Roberta Fioravante, moradora de Botafogo, visitava a ilha pela primeira vez em um fim de semana, com outras amigas. Além de provar petiscos do festival Comida di Buteco em um bar, a turma aproveitou para fazer o passeio de barco pelos arredores. “Foi um programa delicioso. É incrível que haja um lugar paradisíaco como esse dentro do Rio”, diz. Que assim permaneça.

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VALE A TRAVESSIA
Do hotel aos restaurantes, um roteiro pelas novidades da ilha

Café da Poesia
Café da Poesia: itens da patisserie caseira dividem espaço com saraus de poesia (Leo Lemos/Divulgação)

Café da Poesia: café da manhã, pães artesanais de longa fermentação e doces entre muitos livros. Às sextas, saraus de poesia e música acompanham os quitutes no simpático endereço cultural. Ilha da Gigoia. Diariamente, 8h/22h.

Ocyá
Ocyá: o pescador Geronimo Athuel prepara na brasa peixes frescos ou curados (Leo Lemos/Divulgação)
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Ocyá: o chef e pescador Geronimo Athuel prepara na brasa frutos do mar e peixes frescos e maturados por dry aged. Ilha Primeira,97286-1250. Qui. e sex., 18h/22h; sáb. e dom., 12h/19h.

Ilha Pirata
Ilha Pirata: com fantasias e temas infantis, o bar também se especializa nos fruto do mar (./Divulgação)

Ilha Pirata: restaurante temático com área infantil e receitas brasileiras despretensiosas, como moquecas, peixes e carnes. Ilha das Garças, ☎ 98425-8608. Seg. a sex., 12h/17h; sáb. e dom., 12h/20h.

Casanova Residence
Casanova: hotel boutique já está com os próximos fins de semana reservados (Easy Hotéis/Divulgação)
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Casanova Residence: o hotel-butique tem sete quartos com decoração inspirada em cidades do mundo, cozinha equipada, deque debruçado sobre a lagoa e piscina. Ilha da Gigoia,99632-9796. Diárias a 215 reais com café da manhã.

Espaço Goia
Goia: mistura de bar e galeria de arte atrai moradores e visitantes na paisagem da ilha (Leo Lemos/Divulgação)

Espaço Goia: misto de bar, bistrô e galeria de arte, tem drinques orgânicos e fórmulas de almoço e jantar sob o comando do argentino Gustavo Ustara (foto). Ilha da Gigoia,98020-1600. Sex. a dom., 9h/0h.

Ilha 495
Ilha 495: o maior dos espaços para eventos da ilha abriga festas com cardápio variado (./Divulgação)
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Ilha 495: espaço para eventos e restaurante aberto ao público, com petiscos, hambúrgueres, drinques e pratos mais consistentes. Ilha da Gigoia. Qui a sáb, 12h/23h; dom 12h/20h.

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