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Iza: “Não serei aquela rainha de bateria sarada de academia”

Às vésperas do desfile, cantora fala sobre a preparação para a folia, luta contra o racismo e episódio de assédio moral no início da carreira

Por Fernanda Thedim Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 13 fev 2020, 11h32 - Publicado em 5 fev 2020, 12h40

A rainha mais aguardada deste Carnaval virá pelo Grupo de Acesso. Fe­nô­meno da música pop, Isabela Cristina Correia de Lima Lima, a Iza, 29 anos, surgirá à frente da bateria da Imperatriz Leopoldinense no sábado 22 de fevereiro. A escola vai atravessar a Sapucaí com a reedição do célebre enredo em homenagem ao compositor Lamartine Babo, campeão em 1981. Contando os dias para sua estreia no posto, a cantora, nascida e criada no subúrbio de Olaria, conversou com Veja Rio.

Você também é do samba? Desde que me entendo por gente. Cresci nesse meio. Meu pai tocava em uma roda de samba com os amigos. Um dos meus tios é do Império Serrano, o outro da Beija-Flor. No Rio, não tem jeito. Mesmo que não queira, você acaba ouvindo um sambinha em tudo o que é lugar. Faz parte da nossa cultura, além de ser a raiz da música brasileira, um ritmo riquíssimo e que sempre me influenciou.

Alguma rainha de bateria de outros Carnavais a inspira? Gostava muito de ver a Luiza (Brunet) e a Cris (Vianna) desfilar. Ficava em casa assistindo e depois tentava copiar os passos delas. A Vivi (Araújo) é outra que atravessa a Sapucaí com uma energia incrível.

Como está se preparando para o grande dia? Sempre gostei de sambar, mas como rainha de bateria você tem de cumprir alguns protocolos. Além dos ensaios na quadra, fico na frente do espelho, treinando os passinhos e fazendo a marcação.

Mudou a rotina de alimentação e exercícios? Por causa dos shows, eu já costumo manter uma alimentação bem regrada. Tenho uma preparadora física que me acompanha, treina comigo em casa, me orienta quando estou viajando. Não mexi em nada disso. Não vou ser aquela rainha de bateria sarada de academia.

Você se tornou um ícone de estilo e empoderamento feminino. Era o que queria? Nunca imaginei nada parecido para mim. Eu me achava feia, fora dos “padrões”. Aos 12 anos, já alisava o cabelo. Foi só no início da vida adulta que percebi que era vítima de certos padrões e comecei a mudar por mim mesma, e não em razão do que outros diziam.

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Já foi vítima de racismo? Muitas vezes. Na adolescência, recebi vários apelidos racistas e pejorativos. Estudava em uma escola particular com bolsa, porque minha mãe era professora, e era uma das únicas negras do colégio. Imagine isso.

Lembra algum desses apelidos? Isso a gente nunca esquece, mas eu não gosto de ficar repetindo esses apelidos. Temos de combater esse tipo de coisa. Até porque xingar a gente de “macaca” em pleno 2020 chega a ser um insulto à nossa inteligência.

Ainda acontece? Hoje é bem mais difícil eu passar por algo assim. Os racistas têm medo de dar a cara a tapa porque sabem que estão errados. Mas isso não quer dizer que, só porque eu não ouço mais, o racismo tenha acabado.

Os artistas também têm responsabilidade no combate ao racismo? Os artistas devem refletir o tempo em que vivem. Aprendi isso na faculdade de publicidade, numa disciplina que mostrava a história do país através da música e como ela foi importante para romper com certos preconceitos enraizados. É o que busco fazer. Precisamos falar sobre assédio, racismo, feminismo, homofobia, mulheres trans assassinadas. Não podemos deixar que os avanços conquistados nessas áreas retrocedam.

Você já revelou que sofreu assédio na infância, o que acabou gerando crises de pânico. Aconteceu algo semelhante depois que se tornou cantora? Nessa época sofri com outro tipo de assédio, de natureza moral. Uma das primeiras pessoas com quem trabalhei parecia entender muito do mercado, dizia que já tinha agenciado outros artistas, internacionais inclusive. Mas em pouco tempo vi que estava sendo enganada. Descobri que ele não compartilhava dos mesmos princípios que eu. Era homofóbico, misógino, fazia pressão psicológica, me chamava de burra. Desfazer essa relação foi um sufoco.

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Pretende investir em carreira internacional? Tenho muita vontade de cantar para o mundo inteiro, sim, só que acho que ainda não chegou a hora. Ainda tenho muito chão a percorrer por aqui. A parceria com a Ciara (cantora americana com quem gravou o single Evapora) foi uma oportunidade que eu não poderia deixar passar. Carreira internacional é muito mais que cantar uma música em inglês.

Qual é o seu grande medo em relação à carreira? As pessoas dizem que você é maravilhosa, você vê 30 000 pessoas ali na sua frente gritando seu nome, é tudo muito sedutor e bom para a autoestima. Se não tem uma base, não tem amigos de verdade, alguém que diga “olha, baixa a bola aí”, fica fácil se deixar levar e perder a humildade. A galera que você encontra na subida da ladeira é a mesma que estará na descida. Tenho isso sempre em mente.

Ao mesmo tempo que você posta tudo sobre a carreira nas redes sociais, também costuma ser reservada em relação à vida pessoal. Prefere assim? As redes sociais fazem parte do meu trabalho. É assim que troco ideias com meus fãs e descubro o que eles estão pensando, mas fico atenta às consequências da superexposição. É preciso manter distância da vida pessoal nas redes para preservar a sanidade.

É do tipo que planeja a vida para daqui a dez anos? Eu me vejo cantando com meus filhos no palco, o que é um grande sonho meu, e acima de tudo feliz com o que estou fazendo. Isso é tudo.

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