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Intervenções levam obras de arte para as ruas do Rio

Com um histórico de sucesso, mostra paralela à ArtRio prova a importância de extrapolar os museus e interagir com o público

Por Abril Branded Content
Atualizado em 21 ago 2017, 16h57 - Publicado em 7 ago 2017, 21h11
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  • Obras de 10 artistas plásticos vão invadir os jardins do MAM durante a quinta edição do Intervenções Bradesco ArtRio, entre 12 e 17 de setembro. A mostra, paralela à Feira Internacional de Arte do Rio de Janeiro, volta aos jardins projetados por Burle Marx, onde foi realizada em 2013 pela primeira vez. Curador da exposição e do MAM, Fernando Cocchiarale dá uma ideia da dimensão da importância de esculturas e instalações extrapolarem as paredes do museu e ocuparem espaços públicos. “Abre perspectivas para novos contatos e um público novo. É importante para os artistas, para o museu e para a ArtRio”, resume Cochiarale.

    Ele ainda guarda a sete chaves os nomes dos artistas que dividirão o espaço de contemplação com as vistas para o Pão de Açúcar e o Outeiro da Glória. Certo é que serão obras de fôlego para dialogar com o cenário banhado pela Baía de Guanabara e cercado por palmeiras imperiais. “Eles foram convidados porque a obra regular já tem abertura para esse tipo de intervenção. O perfil está voltado para esse tipo de suporte: o espaço público e a rua”, explica o curador.

    Palco de piqueniques, práticas esportivas e manifestações culturais, como nos ensaios musicais da Orquestra Voadora, o Parque do Flamengo vai voltar a respirar a arte que ultrapassa os pilotis projetados pelo arquiteto Affonso Eduardo. No ano que antecede seu septuagésimo aniversário de fundação, o MAM mantém viva a tradição de romper com o tradicional.

    O museu sempre esteve aberto à renovação e à oxigenação, como uma plataforma de lançamento de novas tendências e movimentos. Nunca foi conservador de defender apenas tradição e arte. Essa mostra se enquadra perfeitamente com outras que o museu vem fazendo ao longo da sua história, como o Neocroncetismo, a performance de Antonio Manuel nu, durante a ditadura, e o Domingos da Criação, em 1971”, recorda Cocchiarale, em referência ao movimento dominical idealizado pelo crítico Frederico Morais, que convidou o público a fazer arte com materiais como papéis, tecidos e terra, ao redor do MAM, no Aterro.

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    Dois últimos anos no Palácio do Catete

    Boto Rosa, de Zoè Gruni
    Boto Rosa, de Zoè Gruni, fez sucesso entre crianças e adultos (Zoè Gruni/Divulgação)

    Na mesma linha da dessacralização da arte, o Intervenções ocupou o jardim do Museu da República, no Palácio do Catete, nos dois últimos anos, ambas as vezes sob a curadoria de Isabel Portella. Em 2016, 14 artistas foram escolhidos para espalhar suas obras ao longo do gramado, sobre o espelho d’água do lago, dentro da gruta e onde mais a criatividade permitisse. Um dos destaques foi “Boto Rosa”, uma cauda do animal feita de ferro, feltro e materiais plásticos. Produzida pela italiana Zoè Gruni, a obra mergulhava no chafariz e virou sensação entre admiradores e curiosos, que, muitas vezes, tiravam selfies pensando se tratar do rabo de uma sereia.

    “A experiência foi bastante interessante. As crianças adoraram, e foi uma oportunidade de conversar com muitas pessoas sobre histórias do folclore. Estou acostumada com a mitologia grega desde que nasci, mas percebi que aqui a sereia é mais misteriosa. Todo mundo chamava o boto de sereia”, diverte-se Zoè, ressaltando a importância da ocupação do espaço urbano. “Meu processo criativo sempre teve uma conexão com a rua. Por ser um trabalho ligado à humanidade, sinto necessidade de entrar em contato com as pessoas, e essa foi a forma mais imediata”.

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    Peripatéticos, de Alessandro Sartore
    Peripatéticos, de Alessandro Sartore (Alessandro Sartore/Divulgação)

    O carioca Alessandro Sartore foi convidado para expor nas duas últimas edições do Intervenções. Em 2015, ele idealizou uma performance em que um ator representava um fauno e distribuía balões, interagindo com quem passava pelo jardim. No ano passado, foram as pessoas que tomaram a iniciativa de interagir com 680 cataventos dourados, movidos pelo vento ou pelo sopro das crianças. Estendida sobre o gramado, a instalação “Peripatéticos” levou o nome dos discípulos de Aristóteles, que recebiam ensinamentos do filósofo enquanto passeavam ao ar livre.

    Fauno, de Alessandro Sartore
    Fauno, de Alessandro Sartore (Alessandro Sartore/Divulgação)

    “Como uma criatura ambígua, meio homem meio animal, meio perverso meio infantil, o fauno é essa figura fofa e assustadora ao mesmo tempo, nada muito diferente do que fomos na nossa adolescência. Me interessam os espaços de passagem, em plena mutação”, metaforiza Sartore, acrescentando a necessidade de expor fora de lugares consagrados como museus e galerias. “Entendo meu trabalho como a manipulação de espaços existentes metamorfoseando-os. Nesse sentido, novos espaços expositivos são essenciais para a que eu tenha material”.

    Na Medida do Impossível, de Flavio Cerqueira
    Na Medida do Impossível, de Flavio Cerqueira (Flavio Cerqueira/Divulgação)

    A vontade de fazer arte a céu aberto também está presente na obra do paulista Flavio Cerqueira. Os 200 quilos de sua estátua de bronze “Na medida do impossível”, em que um menino sopra bolhas de vidro, se misturaram à leveza das bolhas de sabão espalhadas pelas crianças, também no jardim do Palácio do Catete, na edição de 2015, ao lado de obras de outros 17 artistas. “Acho de extrema importância a arte ir além das paredes de museus e do cubo branco das galerias para ocupar ruas, praças e parques. Entendo isso como uma forma democrática de convívio e interação com os trabalhos, já que os espaços tidos como lugares de arte são pouco convidativos”, compara Cerqueira.

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    Edição na Praça Paris

    Deusqueiraquenãochova, de Marcelo Silveira
    Deusqueiraquenãochova, de Marcelo Silveira (Marcelo Silveira/Divulgação)

    Outro palco do Intervenções foi a Praça Paris, em 2014. Lá, o pernambucano Marcelo Silveira chamou atenção sobre uma variável importante para manifestações artísticas ao ar livre: as condições climáticas. Sua instalação “Deusqueiraquenãochova” mostrou que a arte precisa ser resistente, faça chuva ou faça sol. “O que motivou esse trabalho é uma relação entre dois espetáculos, que só acontecem se não chover: a seca, com a falta de água, e os circos sem lona, que eu vi no interior de Pernambuco na minha infância”.

    Na coletiva assinada por Felipe Scovino naquele ano, foram selecionadas obras de artistas de quatro gerações que dialogassem com o espaço urbano. Até a estátua de Almirante Barroso parecia olhar por cima da estrutura circular de madeira e algodão para admirar a instalação de Silveira. “Há belos monumentos na cidade que já foram absorvidos pelas pessoas. Elas já viram, conviveram e não param mais para contemplar. A necessidade de se expor na rua é poder interferir nesse espaço aberto de modo que faça o transeunte parar, pensar e refletir sobre o que não é habitual ou não foi absorvido dessa paisagem”, completa ele.

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    A estreia nos Jardins do MAM

    Obra sem título, de Elisa Bracher
    (Elisa Bracher/Divulgação)

    Em sua estreia, há cinco anos, o Intervenções ocupou o vão livre do MAM com instalações de seis artistas, sob a curadoria de Luiz Camillo Osorio e Marta Mestre. Entre os contemplados na primeira edição estava a paulista Elisa Bracher. Sob a sombra das árvores, sua obra sem título também serviu de abrigo aos pássaros que sobrevoam o Parque do Flamengo. “É uma situação diferente de dentro do museu, pois a obra fica mais exposta e com um poder maior de transformação. Qualquer coisa que vá além de uma fronteira pré-estabelecida é boa”, opina Elisa.

    Para ilustrar, ela conta dois episódios inusitados que aconteceram com outra obra sua, exposta também ao ar livre. “Primeiro, um ambulante prendeu um cartaz de ‘vende-se coco’ na instalação e perguntou se era minha. Respondi que sim, e ele disse: ‘Pode deixar, que vou cuidar dela’. Quando fui desmontá-la, dois policiais vieram me questionar quem tinha dado autorização para retirá-la dali, já que estava embelezando a paisagem”, ri Elisa. “São leituras que vêm de outro lugar, que a gente desconhece. Acho muito bacana essas maneiras de ver a arte, que foram novas para mim”. Em setembro, o Rio inteiro poderá experimentar mais uma vez este novo tipo de olhar.

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