Nova equipe de vôlei masculino do Sesc-RJ é comandada por Giovane Gávio
A tradição carioca no esporte é recuperada com a criação do time treinado pelo bicampeão olímpico
A definição clássica de legado, termo oriundo do latim, é aquilo que alguém transmite a outrem, à posteridade. Mais do que ginásios, instalações e obras, a herança de maior significado dos Jogos que a cidade sediou em agosto deveria se materializar em incentivo ao esporte e no estímulo às novas gerações de atletas. Com base nessas premissas, o Sesc-RJ decidiu apostar na formação de um time masculino de vôlei profissional — justamente a modalidade em que levamos um dos suados sete ouros que conquistamos na Olimpíada. “Uma equipe de alto desempenho serve de espelho e aspiração para os jovens”, explica Paschoal Simões Junior, diretor da Fecomércio e porta-voz da iniciativa. “Queremos que eles se inspirem nesses ídolos e vejam que também podem chegar lá”, completa. Apostando alto nas quadras, a entidade convocou para o posto de técnico o bicampeão olímpico Giovane Gávio, que também trabalhou durante os Jogos como gerente de competições no Comitê Rio 2016. Há um mês, ele comanda o time que venceu seis das sete partidas disputadas e se prepara para o desafio de jogar a Superliga B, com início previsto para dezembro. “Com todo o respeito aos nossos adversários, montamos um elenco para ser campeão e chegar à série A”, avisa o treinador.
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Tamanha convicção tem suas explicações. Para receber os catorze jogadores contratados, a quadra da unidade da Tijuca, onde acontecem os treinos, passou por melhorias na infraestrutura. Foi feita a troca da iluminação e a instalação de um piso emborrachado, o mesmo adotado pela Federação Internacional de Voleibol na Rio 2016, capaz de absorver melhor o impacto durante saques, defesas e ataques, o que minimiza o risco de lesões. Os atletas também contam com cuidados dignos de campeões olímpicos: médico, estatístico, sala de fisioterapia, máquina de gelo para tratamento nos vestiários, além de um treinamento diário intensivo, em dois turnos, com duração aproximada de duas horas e meia cada um. “Já joguei por diversos clubes de níveis diferentes e a estrutura daqui se equipara à das melhores equipes do país”, afirma o meio de rede catarinense Tiago Barth, 28 anos, com passagem por times como o Minas Tênis Clube, o Sesi-SP e, mais recentemente, o argentino Personal Bolívar, além de participações na seleção brasileira juvenil e na adulta. O pacote de ações do Sesc-RJ contemplou também a parceria com a Unilever, para dividir os custos do premiado grupo feminino treinado por Bernardinho, que ganha agora o nome de RexonaSesc. “Uma associação dessas certamente traz segurança e base para o atleta competir pelo voleibol brasileiro”, resume o técnico, à frente da seleção que conquistou a medalha de ouro nos Jogos.
Celeiro de esportistas de diversas modalidades, o Rio tem tradição arraigada no voleibol. No início da década de 80, o time Atlântica Boavista, financiado pelo ex-banqueiro Antonio Carlos de Almeida Braga, responsável por introduzir o patrocínio corporativo no país, entrou para a história com um elenco que reunia nomes como Bernard Rajzman, Renan, Xandó, Badalhoca e Fernandão, além do próprio Bernardinho. Ícones da Geração de Prata, é deles a primeira medalha olímpica do Brasil no vôlei de quadra, em Los Angeles 1984. Outras iniciativas tiveram destaque temporário, a exemplo da equipe RJX, mantida pelo empresário Eike Batista, que em sua curta temporada conquistou o título da Superliga em 2013. Não por acaso, a investida traz a esperança de que a cidade veja florescer uma nova leva de craques. “A perspectiva de longo prazo é o que dá solidez ao projeto. Tenho certeza de que vamos reviver os tempos de glória do voleibol masculino carioca”, afirma o pragmático Bernardinho. “Nossa ambição é pôr vários talentos na seleção de 2020”, sonha Paschoal Junior. O caminho é longo, sem dúvida, mas a bola já está em quadra.