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Diva do soul, Sharon Jones diz: ‘Me vejo como uma pioneira’

Em entrevista a VEJA RIO, cantora americana que volta ao Rio relembra câncer, Amy Winehouse e revela surpresas para o show

Por Rafael Cavalieri
Atualizado em 5 dez 2016, 12h11 - Publicado em 23 Maio 2015, 01h00

Uma das maiores representantes do soul music atualmente, Sharon Jones, que se apresenta dia na sexta (29), no Vivo Rio, e no sábado (30), em Paraty, no Bourbon Street Fest, conversou com VEJA RIO por telefone uma semana antes de embarcar rumo ao Brasil. Simpática e autêntica, a cantora não fugiu de nenhum assunto.

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Falou sobre o passado como carcereira, o futuro do soul, o medo que sofreu durante o tratamento do câncer e também sobre a morte prematura de Amy Winehouse. A íntegra do papo você confere abaixo.

Sua história de vida é dura. A senhora chegou a trabalhar como carcereira no complexo penitenciário de Rikers Island, em Nova York. Essa experiência ajudou de alguma maneira a moldar seu estilo musical?

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– Meu passado como carcereira ou nos demais empregos que tive não tem nada com minha música. Acredite em mim, isso só me atrasou. Eu fiz o que fiz porque precisava de um trabalho. Precisava de dinheiro. Isso me tirou da música por muito tempo. Mas ao mesmo tempo aprendi como lidar com o ser humano, aprendi a me virar. Eu fui criada no gueto, precisava lidar com meus medos. 

O primeiro álbum saiu apenas aos 46 anos. Foi duro aguentar tanto tempo para finalmente buscar o que sempre sonhou?

– Foi difícil para mim. Mas imagina para o Charles Bradley que apareceu apenas com 63 anos? Graças a Deus ele abriu uma porta e mostrou que a música e os sonhos não podem ter idade. Ninguém nos julga. Foi assim que minha oportunidade surgiu. 

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Com os problemas de saúde vividos nos últimos dois anos a senhora deve ter tido momentos bem difíceis. O diagnóstico de câncer, as cirurgias. Chegou a pensar que nunca mais subiria em um palco?

– Eu não sabia se iria sobreviver. Isso passou sim pela minha cabeça.  Foi duro. Mas a minha fé e a minha crença mudaram quando vi meus fãs mais fervorosos escrevendo mensagens incríveis no Facebook. Não tinha nada negativo. Era amor puro e simples. Isso me mostrou também como eu era uma inspiração para as pessoas. Como eles me amavam. Foi essa energia que me deu fé e garra para sobreviver e para dar a elas o que elas querem. E o que é isso? Soul music.  É por isso que meu último álbum se chama Give People What They Want. Foi isso que eu e os Dap-Kings colocamos: soul e amor. A gente espera que todos entendam e amem esse trabalho. É o que digo. Se no último trabalho eu estava meio despida, agora me desnudei completamente.

A senhora é uma defensora do soul clássico, um estilo musical que já viveu seu auge. Acredita que o gênero pode vir a sair de cena um dia?

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– O soul não pode morrer nunca. Existem pessoas como nós que querem continuar escutando. E eu junto com os Dap-Kings cumprimos essa missão. Só que a cena ferve. Pode não parecer, mas ferve. Na Europa existe muita coisa boa surgindo, muitos artistas jovens. É engraçado, jovens em lugares como Barcelona que não nasceram falando inglês e estão fazendo um trabalho maravilhoso. 

Como a senhora vê o seu papel no cenário musical atual?

– Eu me vejo como uma pioneira por resgatar o que é esse estilo. Estamos há vinte anos tentando manter o soul vivo e as pessoas reconhecem isso. Elas percebem o que estamos fazendo e isso nos deixa orgulhoso. Não desistimos e nem vamos desistir nunca.  

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Justin Timberlake, Pharell Willians e Beyoncé são alguns dos artistas pop de hoje em dia que flertam com soul. A senhora enxerga isso ou acha que tratam-se apenas de detalhes nas discografias desses músicos?

– Justin, Pharrel, Beyoncé… Esses artistas que você falou flertam sim com o soul, mas são no fundo grandes cantores pop.

O que toca no seu iPod em momentos de folga? 

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– Escuto pouca música. Faço minhas coisas e relaxo. Mas se tiver de ligar, vou direto para as rádios que toquem soul dos anos 60, 70 e 80.

Seus músicos gravaram no disco de estreia de Amy Winehouse (1983-2011) e excursionaram com ela. A senhora também conviveu com a cantora inglesa?

– Os Dap Kings trabalharam com ela. Eu estive algumas poucas vezes. A Amy assistiu a alguns shows meus em Londres, mas a relação era maior com o Dap. Eles sabiam da história, viveram com ela na estrada. E eu dizia para eles que se tratava de uma situação triste.  Estive em um dos seus últimos shows, aquele em que ela caiu no meio do palco. Eu fiquei muito irritada com seus empresários, com sua família, com os Dap-Kings… Como que alguém que gostava dela deixava chegar naquele ponto. Deixava ela subir no palco tão bêbada. Quando caiu no palco eu escutei as pessoas rindo. Isso foi terrível. Falava que se alguém não controlasse aquilo não a teríamos tanto tempo entre nós. E foi o que aconteceu. Mas quando me contaram achei que era uma piada. Porque ninguém quer escutar uma notícia dessas. Mas, no fim, acho que ela tinha um desejo de morrer. Eu queria ter feito algo a mais por ela. Não fiz, mas queria. 

Covers costumam ser boas surpresas em seus shows. O que a senhora planeja para o Brasil?

– Isso decidimos na hora. A única novidade que posso garantir em primeira mão é que o público brasileiro vai ver um pedaço do álbum solo dos Dap-Kings. O disco vai sair só no mês que vem, mas uns vinte minutos do show será deles. E posso dizer que será maravilhoso. Até pelo calor de vocês. 

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