Crítica: Amanda Lyra prende atenção em dramático solo sobre a vida real
Ainda que inspirado em conto de 1963, solo impressiona pela dura atualidade
Quarto 19. É inegável que uma produção opulenta é capaz de encher os olhos da plateia antes mesmo que se confirme (ou não) a qualidade de um espetáculo. Prender a atenção do público em um palco quase vazio, durante mais de uma hora, apenas com o recurso da palavra, é proeza para poucos. Pois é o que Amanda Lyra (foto) conquista com Quarto 19, em cartaz no Teatro Poeirinha, após aclamada temporada em São Paulo. Grande trunfo do monólogo, a dramaturgia foi concebida com base em um conto da britânica Doris Lessing, vencedora do Prêmio Nobel, publicado em 1963. A distância temporal, no entanto, em nada afeta a atualidade da trama, que trata de forma poética da insatisfação paralisante que acomete uma mãe de família. Assim, temáticas necessárias como solidão, perda de identidade e frustração são levadas à cena. Dirigida por Leonardo Moreira, Amanda age na maior parte do tempo como uma exímia narradora, estabelecendo um contato íntimo, olho no olho, com os espectadores. Mas é nos raros momentos em que se mistura com a personagem que a atriz consegue ressaltar o caráter brutal daquela realidade — que poderia pertencer a muitas mulheres (70min). 16 anos. Teatro Poeirinha. Rua São João Batista, 104, Botafogo. Quinta a sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 40,00. Até o dia 29.