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Blue Note Rio desafina no pagamento de cachês aos artistas

Aberta há menos de um ano, a filial da grife do jazz nova-iorquina coleciona shows empolgantes e dívidas que preocupam

Por Carol Zappa
Atualizado em 29 jun 2018, 11h24 - Publicado em 29 jun 2018, 11h24
Casa cheia na noite de abertura: início promissor (Cris Isidoro/Divulgação)

Palco de uma constelação do jazz — a lista, enorme, inclui gigantes do porte de Dizzy Gillespie, Sarah Vaughan e Herbie Hancock, entre muitos outros —, o Blue Note, fundado em Nova York em 1981, ganhou o mundo. O prestígio e a fama da matriz inspiraram a criação de mais duas unidades americanas, duas no Japão e uma na China. Justificava-se, portanto, todo o entusiasmo provocado pelo anúncio da abertura de uma filial do clube no Rio de Janeiro, a primeira no Hemisfério Sul. A inauguração do Blue Note Rio, em agosto de 2017, após investimento de 4,1 milhões de reais em obras, marketing e contratação de artistas, se deu em meio a discursos sobre a retomada do orgulho carioca. Depois vieram a música, na forma de programação variada e atraente, e, em seguida, os problemas. Nos últimos meses, o caso de amor do meio artístico local com a casa na Lagoa foi abalado por reclamações e denúncias de atrasos no pagamento dos artistas que se apresentaram por lá. As manifestações de descontentamento logo saltaram dos bastidores para as redes sociais.

Marcos Sacramento: um dos primeiros a botar a boca no trombone (Eduardo Monteiro/Divulgação)

O cantor Marcos Sacramento foi um dos primeiros a botar a boca no trombone. “Fiz um show lá em dezembro com a garantia de que receberia em duas semanas. Dois meses depois, ninguém me dava uma explicação e resolvi fazer uma cobrança pública no Facebook”, conta. O post, de fevereiro, teve grande repercussão. “Muita gente se sentiu representada. No mesmo dia depositaram o dinheiro”, acrescenta o músico. Ele tinha outra data agendada, mas preferiu cancelá-la. “Não volto a tocar lá, o que é uma pena, pois é um lugar muito bacana, bem localizado e com boa estrutura, mas os contratantes acham que podem demorar a pagar”, diz. Sacramento liderou o coro dos descontentes. Novos desabafos resultaram em dívidas quitadas — algumas após negociações cordiais, outras não sem alguma tensão envolvida. No primeiro caso está o baixista André Neiva, que amargou dois meses de atraso por um show com o conjunto Cama de Gato, mas resolveu a questão após justa lamúria on-­line. “Eles estão se esforçando. O Blue Note é uma casa espetacular, da qual a cidade precisa, mas o momento não está ajudando. Se houver um acordo mais claro entre as partes, poderemos sair dessa juntos”, sugere.

Reformado, o ponto na Lagoa onde funcionou por três anos a casa de shows Miranda recebeu nomes internacionais do naipe do pianista Chick Corea e da banda Spyro Gyra, além de talentos brasileiros como João Donato, Ed Motta e Baby do Brasil, e até uma estrela das duas listas: Sergio Mendes, radicado nos Estados Unidos desde os anos 1960. O pianista Kiko Continentino lembra contente da casa cheia em um dos shows de abertura, quando se apresentou com seus parceiros do trio Azymuth e Marcos Valle. Continentino voltou ao mesmo palco outras cinco vezes e tem novas datas com o Azymuth marcadas para julho. Segue esperançoso, mesmo após meses de demora no acerto de alguns cachês. A solução, segundo ele, foi encaminhada após uma conversa amigável. “Toquei no Blue Note de Nova York e no de Tóquio, tinha uma expectativa boa, mas não houve respeito aos prazos”, diz. “Acredito que a situação seja contornável, desejamos um palco desse nível no Rio.”

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O sócio Calainho: a entrada de um acionista majoritário vai ajudar a equilibrar as contas (Raquel Cunha/Folhapress)

Sócio majoritário e principal entusiasta do Blue Note Rio, Luiz Calainho reconhece o passivo e atribui as dificuldades à crise da segurança na cidade. “No Brasil hoje não se mantém um local de shows e entretenimento sem patrocínio, só a bilheteria não custeia a operação. Nem ponho na conta da crise econômica, já prevista, mas em dez meses de funcionamento sofremos três grandes baques”, explica. Na sua lista de flagelos estão a explosão da guerra do tráfico na Rocinha, que afastou patrocinadores, a intervenção militar — “nas reuniões com empresas, em vez de apresentar resultados, tinha de defender a cidade”, alega — e a recente greve dos caminhoneiros. No Rio, o Blue Note tem o apoio da Ambev e da Porto Seguro, mas as principais cotas de patrocínio seguem em aberto. “Hoje, 87% dos cachês foram quitados e os outros 13% estão sendo negociados”, garante Calainho. À frente de negócios como a rádio Sulamerica Paradiso, a ArtRio, feira de arte contemporânea, e o Teatro Riachuelo, ele se declara um apaixonado pela cidade e aposta na recuperação. O empresário revela que a entrada de um acionista majoritário e a abertura de uma filial em São Paulo, entre o fim do ano e o primeiro semestre de 2019, devem garantir um reconfortante aporte no endereço carioca. “O prognóstico é que no prazo de seis a oito meses as contas estejam equilibradas e a situação dos artistas, que têm nos apoiado bastante, seja sanada em até noventa dias”, prevê. A plateia agradece.

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