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As curiosidades da Mystic Fair, sucesso no Clube Monte Líbano

Com varinha mágica, boneco de vodu e cone hindu à venda, feira esotérica no Leblon reuniu quase 30 000 pessoas em dois dias

Por Alessandra Medina
Atualizado em 11 Maio 2018, 10h57 - Publicado em 11 Maio 2018, 10h57

O tempo estava perfeito para curtir a praia no último sábado (5), mas, para um grupo de cinquenta pessoas que fazia fila na porta do Clube Monte Líbano, no Leblon, o grande programa do dia era visitar a Mystic Fair. A feira, que durou o fim de semana todo, chegou à sua sétima edição no Rio anunciando que se tratava do maior evento do segmento místico e esotérico do mundo. De fato, no espaçoso salão do 2º andar do clube, o visitante encontrava inúmeras atrações, como shows de dança espanhola, palestras sobre rituais de prosperidade e workshops de feitiços práticos para o dia a dia. Nos 150 estandes, amontoados um ao lado do outro, também era possível comprar uma série de produtos. Havia livros sobre bruxaria, varinhas mágicas, hidratantes corporais que substituem o banho de descarrego, pedras energizadas na lua cheia e mil e uma versões, tamanhos e cores de orgonite. Para os leigos, o objeto é usado como um harmonizador de ambientes e “serve para transformar as energias negativas em positivas”, explicavam os vendedores. As estrelas do evento, porém, estavam reunidas em outra área. Eram os oraculistas, como são chamados os profissionais que adivinham o futuro.

Fila de espera: Sâmara Besaibes, especialista em borra de café, foi a vidente mais disputada (Fabio Cordeiro/Divulgação)

Com os portões abertos, pontualmente ao meio-dia, a correria foi tão grande que poderia lembrar a entrada em um show de rock, com os fãs disputando a fila do gargarejo. No caso da Mystic Fair, a maioria das pessoas queria chegar cedo para pegar a senha e se consultar com Sâmara Besaibes. Há 35 anos trabalhando como vidente, ela lê o futuro com a ajuda da borra de café. A consulta custava 70 reais e durava quinze minutos. “Sou tão antiga no ramo que, na foto, estou nova”, diz, apontando para o banner ilustrado com uma montagem dela em meio às pirâmides egípcias. Sâmara, na verdade, não tem nada de árabe. Sua família é de ascendência italiana e inglesa, e seu nome, Jumara Dotti, tem origem indígena. Seus dons começaram a se manifestar aos 11 anos, quando ela demonstrou um “interesse sobrenatural” pela história do Egito. Hoje, Sâmara ganha a vida participando de feiras ou atendendo em uma sala na cidade de São Paulo. A assistente administrativa Larissa Frade, de 35 anos, saiu radiante da consulta. No ano passado, não conseguiu ser recebida pela vidente. Neste ano, chegou às 11h20 para pegar lugar na fila, e passava das 18 horas quando, finalmente, conseguiu sentar-se na cadeira da profetisa ítalo-inglesa. “Posso editar o guia da curimba do Rio por conhecer todos os astrólogos e pais de santo da cidade”, brinca. “Valeu a pena esperar. Ela confirmou o que a minha guru já tinha me dito.”

Vassoura mágica e cura xamânica: atrações curiosas da Mystic Fair (Fabio Cordeiro/Veja Rio)

Mãe Rosário Silvia, mais famosa pelo nome de Mãe de Santo do Amor e das Almas Gêmeas, também estava lá batendo ponto. O problema é que ela “não havia recebido permissão do povo lá de cima para trabalhar no sábado”. Ou seja, atendimento só no dia seguinte, mesmo tendo desembolsado mais de 7 000 reais pelo espaço. Ela não dá nomes, mas garante que já jogou búzios e cartas para atores, atrizes, médicos e políticos famosíssimos. Mãe Rosário faz questão de esclarecer que nunca atendeu Lula. Falar do ex-presidente, aliás, lhe traz péssimas recordações. Diz ela que ficou sem sair de casa durante quatro meses depois que teve uma visão ao vê-lo com a faixa presidencial. “Adivinhei que ele ia acabar com o país. Fui perseguida na época. Mas hoje veem que eu tinha razão!” Outro estande que despertava a curiosidade do público era o do cacique Iradzu, da tribo cariri-xocó, de Alagoas. Oferecia desde cura xamânica até vassouras mágicas, cada uma vendida por 98 reais. “Você não varre a sujeira da sua casa com a vassoura? Essas tiram o lixo energético. Você vai eliminar toda a energia negativa. É só varrer no ar que quebra feitiço, macumba”, explicava Maria Sueli Tantanca, que dividia o estande com o cacique. Mais adiante, entre caldeirão e varinhas mágicas, bonequinhos intrigavam os clientes. O modelo mais caro custava 20 reais e vinha com um buraco do lado para colocar um papel com o nome do desafeto. Uma cliente quis saber como funcionava, se era igual ao que ela via no desenho do Pica-Pau. “São bonequinhos de ‘rodu’. O que você fizer com ele, vai acontecer com a pessoa”, disse a vendedora. “É vodu, com v”, corrigiu a outra. Aos poucos, a feira foi lotando, e às 3 da tarde já era impossível andar pelos corredores do Clube Monte Líbano sem esbarrar em alguém. “Tem crise na indústria, no varejo, mas, para o mercado esotérico, estamos no melhor momento. As pessoas buscam consolo e ajuda nos tempos difíceis”, diz Claudiney Prieto, idealizador e organizador da Mystic Fair. Autor de quinze livros sobre a cultura wicca, ele teve a ideia de fazer uma feira esotérica depois de visitar uma versão semelhante na Espanha. Em 2010, montou o primeiro evento em São Paulo, no pátio da Universidade Cruzeiro do Sul. Hoje, a comemoração já está na décima edição, recebe mais de 20 000 visitantes por dia e mais uma vez aportou no Rio. Pelos seus cálculos, 27 000 pessoas estiveram presentes nos dois dias da feira carioca, cuja entrada era de 28 reais. “Aqui as pessoas são mais conectadas, participam mais das festividades e compram mais também”, comemora.

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