André Heller-Lopes aposta alto na estreia de ópera indepente

Com o apoio do Theatro Municipal, o diretor da Cia Ópera Livre investe do próprio bolso em <em>Jenufa</em>

Por Renata Magalhães
Atualizado em 2 jan 2017, 10h18 - Publicado em 5 nov 2016, 00h00
Ópera
Ópera (Liliana Morsia/Divulgação/)
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A conta é consenso entre profissionais da área: a montagem de uma ópera, com todos os elementos necessários à sua execução dentro dos padrões tradicionais, gira em torno dos 3 milhões de reais. Há três semanas, um grupo pequeno, com cerca de quinze pessoas, desdobra-se entre horas de ensaios diários e outros preparativos para a estreia de um espetáculo do gênero. A missão da trupe é ocupar os grandiosos 288 metros quadrados do palco do Theatro Municipal, a partir do dia 18, com uma encenação comme il faut, ou “como deve ser”, de Jenufa, o primeiro grande sucesso do compositor checo Leos Janácek (1854-1928), orçada em módicos 100 000 reais. O desafio artístico e econômico foi proposto pelo carioca André Heller-Lopes. Um especialista no teatro lírico, com estudos e produções realizados no Brasil e no exterior, Heller-Lopes fundou a Companhia Ópera Livre para levar adiante o projeto de realizar um espetáculo sem apoio externo, seja por meio de patrocínio, seja por leis de incentivo. O Municipal entra como coprodutor e abriga a curta temporada. “Esse modelo otimiza os investimentos e diminui os custos, além de possibilitar maior acesso ao bem cultural”, opina João Guilherme Ripper, presidente da Fundação Theatro Municipal.

Ópera3

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Em tempo de crise — a palavra da vez, depois que o fim da Olimpíada tirou de cena o termo “superação” —, o projeto é cercado de expectativa e solidariedade. Jovem estrela da companhia, Gabriella Pace investiu, por iniciativa própria, em uma viagem a Praga, a capital checa, para estudar a língua local. A soprano, nascida em São Paulo e radicada na Dinamarca, um talento emergente, vai encarnar o papel-­título da jovem entre um amor não correspondido e um terrível segredo. Sim, Jenufa, como boa ópera, é um folhetim daqueles, recheado de paixão, desencontro e tragédia (no caso, um infanticídio). Eliane Coelho é a mais prestigiada cantora lírica brasileira desde a grande Bidu Sayão (1906-1999). Já soltou a voz em grandes palcos internacionais, a exemplo do Scala de Milão, e dividiu aplausos com estrelas do porte dos tenores Plácido Domingos e José Carreras. Também no elenco de solistas, como convidada, a consagrada soprano carioca assume outro personagem de relevo na trama: a matriarca Kostelnicka. Inédita no país, a ópera em três atos vai ganhar regência de Rodolfo Fischer, além da participação do coro e da orquestra do Municipal, nas quatro sessões programadas: nos dias 18, 20, 24 e 26.

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André Heller-Lopes tirou do próprio bolso a maior parte do dinheiro para levantar a produção. Da bilheteria, 70% do valor arrecadado será destinado à companhia e 30%, ao caixa do teatro. “Cansei de brigar com a realidade e desenvolvi esse jeito carioca de fazer ópera, resolvendo os problemas quando eles aparecem. É um risco, mas o ganho está em oferecer um novo caminho”, diz. Ele vem testando a fórmula nos últimos tempos. Em 2013, encenou Sonho de uma Noite de Verão no Parque Lage. O espetáculo foi um acontecimento, com 3 000 pessoas por sessão. No mesmo ano, levou Jenufa a cinco récitas no histórico Teatro Avenida, fundado em 1908, em Buenos Aires. Entre os solistas escalados na capital argentina, apenas o tenor Eric Herrero (no papel de Laca) repete a experiência diante da plateia carioca. O desenho do cenário original, assinado por Daniela Taiana, foi adaptado para as dimensões do Municipal e os figurinos foram reaproveitados. Além da preocupação em enxugar os gastos, ações espertas nas redes sociais buscam ampliar o público potencial (veja o quadro abaixo.). “Nada impede que a gente faça a produção chegar a outros palcos”, explica o diretor. Hoje, em tempos de Netflix, entre outras distrações, não dá para imaginar, mas a tradição operística no Brasil é antiga e forte. Ganhou corpo na segunda metade do século XVIII e tornou-se entretenimento popular a partir da chegada da família real portuguesa, em 1808. “É um erro subestimar o gênero. Esse modelo pode levar à criação de uma retomada, um número maior de espetáculos”, diz a diva Eliane Coelho. Jenufa é a grande aposta.     

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