Onde comer em Buenos Aires, por Alex Herzog
A capital portenha oferece muito mais do que parrillas e alfajores. Confira as dicas de Alex Herzog, autor do livro Bistrôs Buenos Aires, onde comer bem, bacana e barato
Visitar os portenhos e não provar do seu famoso churrasco é algo impensável para os amantes das carnes. Mas a gastronomia em Buenos Aires “é muito mais rica e muito mais diversificada do que somente parrillas”, garante Alex Herzog. Ele, que é chef do restaurante In House Café-Bistrô e fotógrafo, é também autor do livro “Bistrôs Buenos Aires, onde comer bem, bacana e barato”, com dicas gastronômicas imperdíveis na cidade. Dez delas estão abaixo.
1 – Brasserie Petanque
“Para almoçar, um bistrô tipicamente francês, no coração de San Telmo: Brasserie Petanque. Aqui, além da decoração e do ambiente, a cozinha também é verdadeiramente francesa. No cardápio sopa de cebolla, ostras frescas, caracoles de la Petanque (escargots), langoustines grillés con Tatin de tomates y aioli, ensalada niçoise, gigot de cordero recheado com tomates secos, endro e ervas frescas, steak tartare avec frites, boeuf bourguignone, moules (mexilhões) et frites, entrecote café de Paris e, de sobremesa, crème brûlée aux pistaches, tarte Tartin, mousse aux trois chocolats, além de uma boa carta de vinhos, e uma copa de kir, cortesia de monsieur Meyer.”
Defensa 596, San Telmo, tel. +54 11 4342-7930.
2 – Café des Arts
“O Café des Arts fica dentro do Malba, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, e é tocado por dois chefs franceses, Jérôme Mathe e seu sócio, Jean Paul Bondoux, o mesmo que comanda o La Bourgogne, situado dentro do Alvear Palace Hotel, na Recoleta. Apesar de não ser extenso, o menu é bastante interessante, com sandwichs du monde, bem incrementados, tartines, saladas, peixes e frutos do mar, além claro de diferentes cortes de carne – combinados com uma guarnição e um molho de sua escolha -, como ojo de bife con salsa de malbec y pimienta verde con papas rústicas al horno. Vale sentar na varanda, debaixo das árvores, e comer uma tarte aux fruits ou uma tarte Tatin tiède et glace vanille, verdadeiras obras de arte. Antes de sair, dê uma passada na Tienda Malba, uma lojinha com muitos artigos de design, livros, CDs e DVDs.”
Av. Figueroa Alcorta 3.415, Palermo, tel. +54 11 4808-0754.
3 – Don Carlos
“No Don Carlos, que fica bem em frente ao LaBombonera (o estádio do Boca), não há cardápio. Quem decide o que você vai comer é o dono da casa, Juan Carlos Zinola, o Carlitos. É como a casa funciona, há mais de quarenta anos. Na cozinha ficam sua esposa Marta e sua filha Gaby, encarregadas das massas, dos assados, das saladas e dos pratos feitos no fogão. Carlitos se encarrega do salão e da grelha, de onde saem carnes, peixes, provoletas, chorizos e outras iguarias. E tudo varia a cada dia e a cada instante. Segundo Carlitos, a ideia é receber as pessoas como se estivessem na sua casa, para comer o que a família Zinola estiver preparando. O que quase não varia, são as sobremesas, como o sfogliatella a la napolitana (folhado recheado com ricota, açúcar e ovos); tiramisù; choco torta; e um pudim de pão, fininho, crocante por fora e cremoso por dentro, inesquecível! Preço disso tudo? Algo por volta de 110 pesos por pessoa, mais o consumo de bebidas. Agora, a alegria da família Zinola ao receber os clientes e a alegria destes ao se sentirem em casa não têm preço.”
Brandsen 699, La Boca, tel. 54 11 4362-2433
4 – Impresso Café
” A livraria El Ateneo Grand Splendid ocupa hoje o prédio que já abrigou um cinema e um teatro, construído em 1860, inspirado na Opéra de Paris. Seus camarotes viraram áreas de leitura; seus camarins, a seção de livros infantis; e o palco, onde Gardel já se apresentou, é hoje o Impresso Café, lugar ideal para se passar uma tarde entre cafés, chás e livros, ou para se fazer uma refeição rápida, quero dizer, não tão rápida, pois aqui os clientes permanecem por um longo tempo, lendo. À tarde costuma haver um pianista tocando jazz e músicas calmas. Além das mesas, há um confortável lounge com várias poltronas e sofás. O cardápio é simples, com boas opções de sanduíches, hamburguesas, medialunas e tostados de miga (aquele fininho), pizzas chicas, dulces tentaciones, tortas artesanales, helados, claro, e ainda pastelería, com alfajores. Atenção para o recomendado del día, como bruschettas con salmón, tostado napolitano con dos copas de champagne, ou a pizza napolitana con dos cervezas.”
Av. Santa Fé 1.860, Recoleta, tel. 54 11 4813-6052.
5 – Helados: El Vesuvio e Saverio
“Além das carnes, dos vinhos e dos tangos, Buenos Aires também é conhecida por seus maravilhosos sorvetes. A prova disso são as inúmeras sorveterias, ou heladerías artesanais espalhadas pela cidade, desde o começo do século passado. Duas delas são as pioneiras: a El Vesuvio foi a primeira heladería de Buenos Aires, fundada em 1902 pela família Cocitore, imigrantes italianos que trouxeram a primeira máquina de fazer sorvetes para o país, e foi declarado Sitio de Interés Cultural em 2006. A Saverio foi fundada em 1910 pelo italiano Francisco Saverio Manzo. Segundo contam os moradores do bairro, esse era o local favorito de Gardel, que tinha como predileção o helado de limón.”
El Vesuvio, Av. Corrientes 1.181, San Nicolás;
Saverio, Av. San Juan 2.816, San Cristóbal.
6 – Cafés notáveis
“Seria muito difícil imaginar Buenos Aires sem os seus Cafés Notáveis. Hoje eles são uma instituição porteña, protegida por uma comissão especial criada em 1988, com o intuito de preservar e promover os cafés, bares, billares y confiterías notables. Aqui a história está presente, em cada mesa, cadeira ou xícara de café. É um lugar para se imaginar em qual mesa Cortázar ou Borges escreveram seus romances. Ou onde Gardel cantou Volver. São mais de cinquenta endereços, e há vários imperdíveis, como, por exemplo: Tortoni, Los 36 Billares, El Federal, Bar Dorrego, Bar Seddon, Bar Sur, Británico, Margot, Miramar, Confitería Ideal, La Biela, Las Violetas, La Poesia, El Hipopótamo, El Gato Negro, Bar Bar O, Los Angelitos, e por aí vai. Este último, Los Angelitos, tem seu nome por conta dos seus frequentadores, que constantemente se envolviam em brigas. Só que, bem ao lado, havia uma chefatura de polícia, e, a cada vez que se ouvia o barulho da arruaça, os policiais diziam: “Vamos a ver lo que los angelitos están haciendo”, e iam para lá apartar as brigas. Entre muitas curiosidades, há também a mudança do nome do Bar Británico para Bar Tánico, durante a Guerra das Malvinas.”
7 – O El Pobre Luis
“É o típico restaurante que vale a viagem. A casa pertence a um uruguaio que aportou por lá há mais de 35 anos. Mas o principal do El Pobre Luis é a sua parrilla. Bem no meio do salão, fica uma ?máquina? de assar, na qual tudo é preparado à vista do cliente. Dá até para ficar ali vigiando a carne escolhida. Uma das especialidades é a pamplona, tradição uruguaia, feita com o coração do file-mignon, que é recheado e, em seguida, enrolado, para então ir na brasa. De entrada ótimas provoletas, um excelente chorizo, morcilla (chouriço) e mollejas (moelas). As guarnições são à parte: papas a la crema, morrón (pimentão vermelho) a las brasas, tortillita de papas con panceta, papas fritas a la provenzal, além de várias saladas. Para quem tem um grande apetite, chuleta con huevos fritos, morrones, papas españolas y tocino. Depois, só resta escolher uma das sobremesas, como a isla flotante, ou um panqueque casero con helado ou con manzanas. Posso garantir que você sairá daqui se sentindo um milionário.”
Arribeños 2.393, Belgrano, tel. +54 11 4780-5847
8 – Gran Bar Danzón
“A entrada do Gran Bar Danzón é uma pequena porta, aberta, que dá para uma escada estreita, longa e escura, iluminada por apenas dois candelabros. Se não fosse pelo quadro-negro quase na calçada, com a indicação de happy hour, não suspeitaria de que aqui haveria um restaurante tão incrível. A primeira surpresa vem ao final da subida, com vários ambientes, todos bem transados, com decoração e iluminação primorosas. O lounge é amplo e generoso, com sofás e poltronas enormes e confortáveis, ideal para se tomar um drinque, de preferência cedo, quando a casa ainda está vazia. A outra boa surpresa é o cardápio, com pratos criativos, sem exageros, a preços mais do que honestos. De entrada, ceviche de salmón y lenguado en caldo de melón, con palta (abacate), cebolla morada y cilantro, y sorbet de maíz. Dos principales, destaco o ossobuco de ternera (vaca) con puré de papas trufado, espinacas salteadas, cebollas caramelizadas y gremolata (acompanhamento tradicional do ossobuco, à base de alho, salsa e limão), e o linguini con mejillones y calamaretti salteados en caldo de tomates ahumados (defumados) en madera de cítricos. Como postres, opções criativas com doce de leite, como a cheesecake de dulce de leche, ou o crème brûlée de dulce de leche. A partir das 23h, a casa fica muito movimentada, e, se você chegar aqui lá pelas 2h da manhã, mais uma surpresa: ainda pode jantar.”
Libertad 1.161, Retiro, tel. +54 11 4811-1108.
9 – 878 Bar
“Sabe aqueles filmes em que o personagem cruza uma porta e passa para outra dimensão? Foi assim que me senti ao entrar pela primeira vez no 878 Bar. Um senhor de terno abriu a pequena porta, e, ao entrar, um outro mundo, um outro universo. Parecia um filme cult, com iluminação intimista, decoração underground, som perfeito, e vários ambientes com mesas baixas, sofás, lounge e um bar que se destaca, com gente tomando um trago, dentre as mais de duzentas opções de drinques e coquetéis ou dos mais de cem rótulos de vinhos e espumantes que fazem parte da carta de tragos e bebidas. Além disso, um bom menu oferece entradas y tapeos, principales y postres a preços bem em conta. Descobri também outro universo, mais uma dimensão: para clientes antigos e cativos, há um bar escondido nos fundos da casa, secreto e de acesso restrito. Só entra quem tem um cartão magnético. É mais um bar, com sofás, mesinhas e uma barra simpática, tudo muito íntimo e exclusivo, além de uma carta de charutos habanos. Ao sair da casa, mais um choque, só que, dessa vez, ao voltar para o meu planeta.”
Thames 878, Villa Crespo, tel. + 54 11 4773-1098.
10 – Pagano Club Social
“Uma das experiências gastronômicas imperdíveis na cidade, é sem dúvida uma refeição em um dos puertas cerradas, como são chamados os restaurantes dentro da residência das pessoas. Jeronimo Bergada, sua irmã, Federica, e sua mãe, Patricia, sempre foram ótimos anfitriões. A residência deles sempre foi palco de jantares e reuniões com muitos amigos. Até que se deram conta de que haviam transformado seu lar em um clube social. O sucesso foi tão grande que decidiram abrir três dias na semana. Aqui não existe cardápio, apenas uma carta de vinhos, que varia entre 90 e 150 pesos. O endereço e o menú de 4 pasos, com direito a café ou chá, só são divulgados por telefone, quando é feita a reserva – o que é imprescindível, pois são apenas vinte lugares. Jeronimo, em geral, prepara uma entrada, uma sopita, um prato principal e uma sobremesa. Para quem tem alguma restrição alimentar, podem ser feitas alterações, como uma refeição vegetariana, por exemplo. Na hora da conta, Federica circula de mesa em mesa com uma gorra (boné) na mão e pergunta: “Nós abrimos a casa para vocês, digam quanto querem pagar ou quanto acham que valeu.” É a chamada cobrança a la gorra, com as bebidas cobradas à parte. Qual o valor? Bem, algo entre 20 e 30 dólares, dependendo do quanto você gostou da comida. Os pratos que são servidos no Pagano eu não revelo. É preciso ligar para lá, reservar um lugar e, quem sabe, fazer novos amigos em Buenos Aires.”
Recoleta, tel. + 54 15 6688-1919, de quarta a sexta, às 21h.
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