Musical As Bodas de Fígaro sobressai na cena teatral carioca
Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, a peça com modesto orçamento tornou-se forte concorrente ao Prêmio Cesgranrio
Na capital dos musicais a divisão é clara. Há os palcos da Broadway, maiores, com suas montagens grandiosas e disputadas, os off-Broadway e até os off-off-Broadway, esses dois voltados para atrações com capacidade e orçamento mais modestos. Hair, Rent e Avenida Q são alguns sucessos que chegaram aos principais teatros nova-iorquinos depois de fazer carreira no circuito alternativo. Vale ficar de olho, portanto, quando uma produção humilde sobressai em meio a pesos-pesados. É o caso de As Bodas de Fígaro. Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, a peça que funde a comédia do francês Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (leia o quadro) e a ópera homônima de Mozart custou 400 000 reais — ninharia diante dos 12 milhões de reais investidos em Chacrinha, o Musical, por exemplo. Mesmo assim, a trama tornou-se forte concorrente ao Prêmio Cesgranrio, o mais valioso do teatro brasileiro (25 000 reais para cada vencedor). Está na disputa nas categorias espetáculo do ano, diretor (Daniel Herz), atriz em musical (Solange Badim e Claudia Ventura) e direção musical (Leandro Castilho). O tributo cênico ao Velho Guerreiro foi lembrado nas categorias figurino e ator em musical (Leo Bahia).
Idealizadora do projeto, a dupla Castilho e Herz acertou ao escolher intérpretes com timing de comédia, dotes vocais e capacidade de tocar um instrumento. “Os atores ficaram apreensivos quando entenderam quanto isso exigiria deles, mas no fim deu certo”, lembra Castilho. Na trilha sonora, uma ousadia a mais: a sofisticada partitura de Mozart ganhou arranjos bem brasileiros. Em cena, o personagem do título (interpretado por Castilho) anda preocupado às vésperas de seu casamento com Susana (Carol Garcia). Os dois são criados do conde e da condessa de Almaviva (Ernani Moraes e Solange Badim), e o patrão quer fazer valer seu direito de ter uma noite com a empregada antes do marido. Decidido a impedir o desastre, o malandro Fígaro elabora um plano, prato cheio para confusões que conquistaram público e crítica.
A história de um clássico
Escrita em 1778 pelo francês Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, As Bodas de Fígaro é a parte do meio de uma trilogia, composta ainda de O Barbeiro de Sevilha (1773) e A Mãe Culpada (1791). Na primeira peça, Fígaro se vale de suas artimanhas para ajudar o conde de Almaviva a se casar com a jovem Rosina. Na última, uma traição dela deflagra a trama. Presente em todo o trabalho, a sátira à elite francesa não passou despercebida no tempo do rei Luís XVI: o primeiro texto foi censurado, e a solução do autor foi transferir a história de seu país natal para a Espanha. A última das três obras não chegou a alcançar a notoriedade de suas antecessoras, que também ganharam consagradas versões para ópera — a primeira e a segunda peças deram origem a famosas composições de Rossini e Mozart, respectivamente.