Sob nova direção
Há catorze anos no Jornal Nacional, Fátima Bernardes deixa a bancada do principal telejornal brasileiro. Patrícia Poeta, apresentadora do Fantástico, assume o posto
Foi uma operação cercada de sigilo. Na noite de 8 de maio de 2008, num endereço neutro no Rio, longe dos estúdios, Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, encontrou-se com a jornalista Patrícia Poeta. Foi montado um esquema para que ninguém visse a bancária, uma exigência da mãe da menina brutalmente morta em São Paulo em 29 de março, e para que nada vazasse. Até chegar aquele momento, quase quarenta dias de negociação haviam se passado. Patrícia tinha conversado mais de vinte vezes por telefone com Ana Carolina para convencê-la a dar o depoimento. “Enquanto ela falava, eu ouvia o choro da equipe atrás. Tive de me segurar”, lembra. “Cheguei às 2 da manhã em casa, dei um longo abraço no meu filho e fui tomar banho. Ali desabei.” A entrevista exclusiva seria exibida três dias depois no Fantástico e ficaria no ar por longos quarenta minutos. Foi a maior audiência da atração dominical – 43 pontos – em 2008. O relato daquela mãe não só comoveu o país como consolidou a posição de Patrícia Poeta à frente do programa. Nesta semana, a jornalista gaúcha recebeu um novo convite. Assumir a bancada do Jornal Nacional, a principal atração jornalística da TV Globo, no lugar de Fátima Bernardes.
A jornalista teve a possibilidade de de criar, produzir, editar e cobrir notícias quentes durante sua passagem pelo Fantástico.E de grande repercussão. Foi assim quando Ronaldo Fenômeno se envolveu naquela confusão com travestis. Nos dias seguintes, ligou insistentemente para assessores do jogador. Na sexta à tarde veio o o.k., e no sábado ela madrugou em Angra dos Reis, onde Ronaldo se refugiava. “Não caiu do céu, teve muito empenho”, ressalta. “Patrícia emplacou matérias importantes, mostrou que é boa repórter e ganhou credibilidade”, analisa o companheiro de programa, Zeca Camargo. “Até podia, mas não chegou aqui em cima de um pedestal. É generosa, cativante, e o público percebe.” Se em alguns casos ela mostrou empenho, em outros precisou de fôlego. Como quando entrevistou o milionário sueco Johan Eliasch, no mês de junho, em Londres. O maior comprador de terras da Amazônia só aceitou falar numa sexta-feira. Para isso, ela precisou fazer uma viagem internacional rapidíssima: saiu às pressas do Rio, passou menos de cinco horas na Inglaterra e no domingo, já de volta, estava no ar apresentando o programa.
Em um ambiente como o da TV, povoado de competição e maledicências, Patrícia conquistou uma imagem positiva entre os colegas. “Sua dedicação sempre chamou atenção”, diz a jornalista Carla Vilhena, que a conheceu quando ela anunciava as previsões meteorológicas nos Bom Dia Brasil e Bom Dia São Paulo e, logo depois, o noticiário paulistano. “Na maquiagem, enquanto todo mundo fofocava, ela estudava as matérias que iria apresentar sem dar um pio”, lembra. Filha de advogados – o sobrenome Poeta veio da mãe -, ela se formou na PUC de Porto Alegre e foi direto para a TV Bandeirantes de lá. “Já demonstrava ter todos os ingredientes de uma jornalista de TV: perseverança, inteligência, voz e beleza”, afirma sua ex-professora Ligia Tricot, então gerente de jornalismo daquela emissora. Dois anos depois, em dezembro de 1999, deixou uma fita com alguns trabalhos na TV Globo de São Paulo. Foi chamada para um teste. “Ela gravou rapidamente porque estava quase na hora de pegar o avião de volta. Impressionou pela naturalidade e beleza”, conta Fernando Gueiros, gerente de operações do jornalismo na capital paulista. Semanas depois, era contratada.
Foi então que, enquanto anunciava frentes frias e pancadas de chuva, conquistou dois fãs. O primeiro foi Luis Fernando Verissimo, que passou a citá-la em várias crônicas. Na ocasião, Patrícia recebeu um telefonema do apresentador Jô Soares, que entrevistaria o escritor em seu programa e pedia que ela aparecesse de surpresa. “Foi o encontro de dois tímidos”, diverte-se ela. “Patrícia faz bem aos olhos e aos ouvidos, é inteligente e para ser perfeita só falta… Olha, acho que não falta nada”, derrama-se Verissimo. O segundo foi o então diretor de jornalismo da Globo em São Paulo, Amauri Soares. “Antes do seu teste, um jornalista gaúcho comentou que ela era uma excelente candidata, mas havia um problema: quando eu a visse iria me apaixonar e querer casar”, lembra Soares. Foi o que aconteceu. Logo começaram a namorar e casaram-se em julho de 2001. É claro que virar a mulher do chefão provocou um certo tititi. “Mas eu só podia encontrar um namorado no trabalho. Estava sempre trabalhando”, diz ela, que na época em que apresentava a previsão do tempo chegava à emissora às 4h30.
Em maio de 2002, com Patrícia grávida de sete meses, mudaram-se para Nova York. Ele virou diretor da TV Globo Internacional, ela correspondente. A primeira entrevista de Patrícia nos Estados Unidos foi com o ator Tom Cruise, que até então não tinha sido pai e se encantou com aquela morena de barrigão. Depois vieram reportagens com os astros Tom Hanks, Julia Roberts e Leonardo DiCaprio, o diretor Steven Spielberg e o roqueiro Mick Jagger, coberturas do Oscar, notícias da Casa Branca, entre outras. “Costumo dizer que Nova York é um ótimo lugar para exercitar o anonimato e a humildade”, comenta. “É tanta gente brilhante, interessante, criativa… Você se sente desafiada.” Ao fim de três anos na cobiçada posição de correspondente, surpreendeu a todos ao pedir demissão e voltar para a sala de aula. Decidiu fazer pós-graduação em cinema digital na Universidade de Nova York. Um de seus curtas acabou sendo exibido num cinema de Manhattan. Sonha em ser cineasta? “No futuro, por que não experimentar?”, responde, com outra pergunta.
Não é preciso dizer que o programa preferido de Patrícia é ir ao cinema. Por falta de tempo, a mãe coruja de Felipe Pipoca – apelido do menino, que adora pular – assiste a mais filmes infantis do que adultos. “Alguns deles, quatro vezes”, confessa. O menino já viajou com os pais por quase toda a Europa e ficou com eles na Alemanha enquanto o casal trabalhava na Copa do Mundo de 2006. “Meu filho tem mais milhas do que dias de vida”, brinca Patrícia, que planeja ter pelo menos mais um herdeiro. Foi durante a temporada nova-iorquina que se tornou amiga da família do novelista Manoel Carlos, cronista de Veja Rio. “Patrícia tem uma rara combinação de inteligência e beleza, temperada com charme e personalidade, o que faz dela presença marcante onde quer que apareça: na televisão, numa festa…”, derrete-se o autor. “Seu sucesso não nos surpreende. E prestem atenção: ela está só começando.” Por sugestão de Manoel Carlos, de volta ao Brasil, em 2007, ela foi morar no Leblon. “Como em Nova York, continuo fazendo muita coisa a pé”, conta. “A diferença é que ganhei a praia. Não tem como acordar de mau humor.” Morar aqui era seu grande sonho.