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Um palácio no Rio

Dez motivos para conhecer o Palácio Gustavo Capanema, construção histórica repleta de detalhes curiosos e onde já foram rodadas cenas de filmes como Tropa de Elite, mas que passa quase despercebida no centro da cidade

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 5 jun 2017, 14h34 - Publicado em 23 abr 2012, 21h57
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Divulgação (Redação Veja rio/)
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Conhecido mundialmente como marco da arquitetura moderna brasileira, o Palácio Gustavo Capanema, construído entre 1936 e 1945 para ser a sede do então Ministério da Educação e Saúde, caiu no esquecimento. Tombado pelo Iphan em 1948, ele é conhecido por (poucos) cariocas como o prédio do MEC, pois ali funcionou o Ministério de Educação e Cultura até 1960, quando o Rio ainda era a capital do Brasil. A construção segue os postulados do famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier e marcou o início da carreira de Oscar Niemeyer, então chefiado por Lúcio Costa, com quem viria a trabalhar na construção de Brasília.O edifício revela, ainda, o compromisso de um homem, Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde do governo de Getúlio Vargas, cujo objetivo era entrelaçar a educação com a cultura brasileira – por isso as obras de arte ornamentando o prédio inteiro.

Trata-se de uma verdadeira galeria de arte a céu aberto, com pinturas, afrescos, painéis e azulejos de Cândido Portinari, jardins desenhados pelo paisagista Roberto Burle Marx, bem como obras de outros artistas. Além disso, o local abriga exposições itinerantes e peças de teatro. Até dia 4 de maio, por exemplo, está em cartaz no mezanino a mostra Pneumática, em que o artista Paulo Paes exibe nove grandes esculturas feitas de papel de seda, resultado de uma pesquisa sobre balões de papel junto às zonas Norte e Oeste da cidade. Mais do que a sua importância arquitetônica, o palácio é, portanto, um legado histórico e cultural. Visita obrigatória. Conheça a seguir outros 10 bons motivos para conhecê-lo.

1 – Símbolo de uma época

O Palácio Gustavo Capanema foi construído no aterro do Morro do Castelo enquanto Getúlio Vargas promulgava leis trabalhistas e dava direito à educação e à saúde pública para toda a população. “Foi um momento único na história do Brasil, e o palácio é um marco disso”, afirma a professora Jandira Motta, assistente do Ministério da Educação (MEC) no Rio e consultora da Unesco. Grandes nomes da cultura passaram por lá, ajudando a estudar novos caminhos para a educação e cultura brasileiras. Entre eles o poeta Carlos Drummond de Andrade, à época chefe de gabinete do ministro.

Capanema, aliás, foi responsável pela criação da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apesar da mudança da capital para Brasília, o palácio abriga, desde a sua inauguração, instituições como Biblioteca Euclides da Cunha, Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional, Biblioteca Noronha Santos e Arquivo Central do Iphan. Hoje, funcionam no prédio seis instituições federais onde trabalham cerca de 650 servidores.

2 – Cenas de cinema

Em Tropa de Elite 2, o ator Irandhir Santos, que interpreta o marido da ex-mulher do capitão Nascimento (Wagner Moura), aparece dando aula no Salão de Conferências Gilberto Freyre, no mezanino do prédio. Nele encontram-se painéis do artista plástico Cândido Portinari que retratam o início da educação no Brasil, com os jesuítas. No Salão Jogos Infantis, no mesmo andar, foi rodada uma cena do filme O Divã em que a atriz Lilia Cabral se diverte em uma boate. Na sala, é possível ver o Tapete de Oscar Niemeyer, que fica estendido no chão logo abaixo do mural Jogos Infantis, de Portinari.

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3 – Detalhes arquitetônicos imperdíveis

Com 16 pavimentos, o palácio ocupa uma área de 27 536 metros quadrados e está suspenso por colunas de 10 metros de altura. Como uma espécie de espinha dorsal, elas atravessam o edifício até o último andar. O pilotis deixa um grande pátio aberto ao público, onde a sensação é a de estar dentro do prédio, mas sem as paredes. “O edifício foi projetado não apenas para abrigar segmentos administrativos do governo, mas também para se integrar à vida cultural da cidade e do país”, conta André Muniz, representante do Ministério da Cultura (MinC) no Rio.

Trata-se, portanto, de um espaço simbólico onde o povo pode transitar pela educação e pela cultura sem obstáculos. A estrutura de cada andar também é livre de divisórias internas no intuito de promover a interação, o debate. O palácio é, ainda, um dos primeiros edifícios no mundo a fazer o uso do recurso brise-soleil nas janelas da fachada norte. O dispositivo evita a incidência direta do sol nos ambientes.

4 – Hall do palácio

“O ensino é matéria de salvação pública”. Esta inscrição está presente logo na entrada do hall, à direita, acima de uma porta. Também há um busto de Getúlio Vargas ao lado da escada helicoidal, esculpida por Celso Antônio em mármore branco. Em forma de hélice, a escadaria leva ao mezanino do palácio, onde fica a Mulher Reclinada, escultura de Celso Antônio em granito cinza.

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5 – Obras de Portinari

Dois painéis de azulejos assinados por Cândido Portinari e fabricados por Paulo Rossi, da Osiarte, decoram o palácio. Um fica voltado para a Avenida Graça Aranha, e o outro no pilotis, de frente para o hall de entrada. Ambos foram pintados pelo artista plástico com motivos marinhos como conchas, estrelas-do-mar e peixes. Reza a lenda que, depois de parcialmente colocados, vários azulejos foram retirados a pedido de Capanema por apresentarem um resultado estético insatisfatório. As peças retiradas mostravam, supostamente, o desenho de um peixe que caricaturava o rosto do ministro.

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O Salão Jogos Infantis, no segundo andar, ganhou este nome em homenagem ao mural em têmpera Jogos Infantis, de Portinari. Ele representa brincadeiras como peão e gangorra, típicas da infância simples no interior do Brasil. O salão dá acesso, ainda, a salas onde se encontram as telas da série Os Quatro Elementos, também de Portinari. No antigo gabinete de Gustavo Capanema, hoje da ministra Ana de Hollanda quando em visita oficial ao Rio, encontra-se a tela Ar. Já no gabinete que foi de Carlos Drummond de Andrade, hoje ocupado por André Muniz, o representante do MinC no Rio, está a tela Água. Os quadros Fogo e Terra estão em outros dois gabinetes ao lado.

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No Salão Portinari, no mesmo andar, encontram-se ainda doze afrescos do artista homônimo que, juntos, formam um grande mural representando os ciclos econômicos do Brasil: pau-brasil, cana de açúcar, gado, garimpo, fumo, algodão, erva-mate, café, cacau, ferro, carnaúba e borracha. “O mural foi uma homenagem aos trabalhadores rurais. O trabalho no campo, afinal, era o que sustentava o Brasil. Até a década de 40 vivemos basicamente da exportação de matéria-prima”, conta a professora Jandira.

6 – Jardim externo

Projetado por Burle Marx, ele abriga espécies exclusivamente brasileiras, como as palmeiras que se confundem com o pilotis do palácio. As linhas orgânicas do jardim, que imitam ondas, guardam relação com os azulejos de mesmo tema. Mas o que chama a atenção é o Monumento à Juventude Brasileira, esculpido em granito por Giorgi Bruno e voltado para a entrada do prédio. Jandira Motta explica a metáfora: “O casal de estudantes da obra caminha em direção à entrada do palácio antevendo um futuro melhor para a juventude do Brasil, com base na educação”.

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7 – Jardim suspenso

Localizado em uma área ao ar livre no segundo andar, ele também foi criado por Burle Marx. Trata-se de uma espécie de teto-jardim, estrutura presente entre os mandamentos arquitetônicos de Le Corbusier, expoente da arquitetura moderna. O jardim guarda semelhanças com o externo, à exceção das palmeiras. Mas o destaque fica por conta da Mulher Sentada, escultura de Adriana Janacopoulos em granito vermelho. “Carlos Drummond chegou a escrever crônicas sobre as obras de arte do palácio. Em um dos textos ele menciona os passarinhos bebendo água no colo desta escultura”, afirma Jandira Motta.

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8 – A vista deslumbrante do terraço

Apesar de mal conservado, o terraço do 16º andar é um ponto de observação da riqueza cultural do Rio. É possível avistar a Ilha Fiscal, a Igreja de Santa Luzia, o Monumento aos Pracinhas, o Hotel Glória, a Biblioteca Nacional, a cúpula dourada do Theatro Municipal, a Assembleia, os aviões aterrissando no Aeroporto Santos Dumont e até mesmo parte do Pão de Açúcar. De lá se aprecia, ainda, o jardim suspenso projetado por Burle Marx.

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9 – Livraria Mario de Andrade

Localizada no térreo do palácio, ela dispõe de publicações editadas pela Funarte nas áreas de literatura, teatro, dança, cinema, artes plásticas, fotografia, música e folclore, como partituras do maestro Heitor Villa Lobos. Em suas prateleiras, há também LPs editados nas décadas de 70 e 80 sobre música erudita, folclórica, popular e contemporânea. Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. Tel.: (21) 2240-8007 / 2279-8071.

10 – Futuro promissor

Foi iniciado, em 2003, um movimento para que o Palácio Gustavo Capanema se torne o primeiro prédio brasileiro a ostentar o título de Patrimônio Histórico da Humanidade da Unesco. Além disso, está sendo estudada pelo MEC a criação do Centro de Memórias e Cultura no local. O objetivo é convidar a população a refletir sobre a cidadania a partir de visitas guiadas.

Palácio Gustavo Capanema. Rua da Imprensa,16, Centro. Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 10h às18h. Entrada franca.

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