Ex-atletas atuam nos bastidores da organização da Rio 2016
Giovane Gávio e Ricardo Prado são alguns dos grandes nomes que batem ponto na sede do comitê, na Cidade Nova
O que Giovane Gávio e Ricardo Prado têm em comum? Até há pouco tempo, o ex-jogador de vôlei e o ex-nadador compartilhavam apenas a honra de ter conquistado medalhas olímpicas para o Brasil. Giovane foi campeão em Barcelona (1992) e Atenas (2004). Prado faturou a prata nas piscinas de Los Angeles (1984). Mas, nos últimos tempos, os dois ganharam uma nova afinidade: ambos trabalham nos preparativos da Rio 2016. E não são os únicos ex-atletas que fazem parte do time. Outros dez esportistas do passado foram selecionados para bater ponto na sede do comitê organizador do evento, na Cidade Nova. Entre eles, há até uma estrangeira: a remadora Collen Osmond, da África do Sul. Todos são responsáveis por áreas importantes. Se repetirem na organização o desempenho bem-sucedido que obtiveram nas disputas, nossos Jogos certamente estarão entre os melhores do mundo.
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Giovane cuida do planejamento das partidas de voleibol e vôlei de praia da Olimpíada e do voleibol sentado da Paralimpíada. Basicamente, repassa as instruções da federação internacional do esporte aos organizadores da Rio 2016. Prado, por sua vez, é o gerente dos esportes aquáticos. Seus e-mails e conferências dizem respeito aos últimos ajustes para natação, saltos ornamentais, polo, nado sincronizado e maratona na água. A ex-judoca Mariana Mello trabalha para dar visibilidade aos Jogos Paralímpicos. Medalhista de ouro na canoagem no Pan de 2007, no Rio, Sebastián Cuattrin é o responsável pelas provas dessa modalidade no evento do ano que vem. Sua labuta inclui visitas semanais às instalações de Deodoro, Zona Oeste, e idas quase diárias à Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul. Percebe-se que a cidade, como um todo, está no radar deles.
Se a rotina atual desses ex-atletas não varia muito, as preocupações de cada um são bem diferentes. A altura da rede, a calibragem da bola e até a duração da comemoração de cada ponto constam das planilhas de Giovane, que vai ter de administrar até seis partidas por dia no Maracanãzinho. “A gente deve manter tudo sincronizado, senão estoura o tempo e os jogos vão acabar muito tarde”, explica. Problema maior teve Cuattrin. Mandou trazer da Europa 150 embarcações para as disputas da canoagem, já que no Brasil não haveria tantos barcos assim para alugar. Além disso, ele providenciou 47 000 parafusos para as instalações da Lagoa. De todos os desafios, porém, parece ser o de Mariana o mais instigante. Ela precisa orientar a logística do Aeroporto do Galeão para uma movimentação sem precedentes. Durante os Jogos Paralímpicos, 2 000 cadeirantes vão passar por lá e tudo precisa estar no ponto, com a acessibilidade posta à prova. “Será algo que nunca aconteceu”, afirma.
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Nem ela, nem Giovane, nenhum deles foi escolhido pelo histórico de pódios. Todos os pretendentes às vagas passaram por um processo de seleção, aberto a qualquer pessoa, que incluiu entrevistas presenciais. Cuattrin, por exemplo, disputou a vaga com outros 54 candidatos. E, no dia a dia, todos eles vêm sendo submetidos a avaliações de desempenho.
Não é algo inédito ex-atletas participarem da organização dos Jogos. O hábito é uma tradição que vem se consolidando nos últimos tempos. Na Olimpíada de 2012, em Londres, Sebastian Coe (ouro nas corridas de fundo em 1980 e 1984) e Jonathan Edwards (ouro no salto triplo em 2000) figuraram, respectivamente, como presidente e integrante do comitê que preparou as competições. No time que começa a cuidar da Olimpíada de 2020, em Tóquio, velhos esportistas também já marcam presença, como Saburo Kawabuchi (jogador de futebol em 1964) e Tomiaki Fukuda (campeão mundial, em 1965, na luta greco-romana).
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Os ex-atletas envolvidos na Rio 2016 costumam afirmar que o salário é secundário no trabalho que escolheram abraçar. “Meu emprego anterior me pagava mais, e eu saí dele para vir para cá”, revela Prado. E conta que seu irmão e seu sobrinho também estão participando dos preparativos, mas como voluntários. “Com crise ou sem crise, a gente vai entregar os melhores Jogos Olímpicos da história”, garante Cuattrin. A tirar pela animação desse pessoal, vem por aí mais uma medalha (essa, simbólica, é claro) no currículo de cada um deles: ouro na organização.