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Inimigos íntimos

Rivais no passado, França e Alemanha iniciam projeto inédito que visa a compartilhar espaço e serviços diplomáticos

Por Carolina Barbosa
Atualizado em 5 dez 2016, 13h49 - Publicado em 26 fev 2014, 20h54
Tomás Rangel
Tomás Rangel (Redação Veja rio/)
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Conhecido pelos cariocas como Maison de France desde sua inauguração, em 1956, o edifício 58 da Avenida Presidente Antônio Carlos exibe seu novo nome na recepção: Casa Europa. A mudança tem a ver com o inquilino re­cém-chegado ao local, como escancara o brasão amarelo, preto e vermelho agora exposto na fachada, ao lado da bandeira em bleu, blanc, rouge. Antigo reduto gaulês no Rio e endereço do consulado-geral e de empresas do país da Marselhesa, o imóvel passou a acolher também a representação diplomática da Alemanha, que migrou de um prédio em Laranjeiras, onde funcionou durante mais de trinta anos, para o agitado Centro da cidade. Não foi mera coincidência. Oponentes em diversos conflitos ao longo da história, França e Alemanha, no entanto, vêm estreitando a relação desde o fim da II Guerra. A iniciativa de se tornarem vizinhos faz parte de um projeto piloto de cooperação que prevê, a princípio, ações de âmbito cultural. Mais adiante, a ideia é dividir custos administrativos, compartilhando motoristas e secretárias e, possivelmente, a emissão de documentos. “França e Alemanha são países motores da União Europeia. Estar no mesmo lugar facilita a atuação em conjunto”, diz o cônsul francês, Brice Ro­que­feuil.

Como sinal de boas-vindas, o Teatro Maison de France ? cujo nome foi mantido ? programa para julho uma temporada do musical Marlene Dietrich ? As Pernas do Século, com Sylvia Bandeira no papel da cantora e atriz alemã (1901-1992). Está em tratativa a inclusão de títulos germânicos nas edições do Cinemaison e também no acervo digital e na biblioteca da casa. Como estamos no país do futebol, a ideia é alugar um campo para entrosar os funcionários das duas nações, que ocupam nove dos treze andares do prédio ? existe ainda uma representação finlandesa em parte de outro pavimento. Já há quem veja nessa coabitação uma oportunidade de negócios. “No inverno, vou incluir chucrute e folheado de maçã no cardápio”, conta Béatrice Mesnard, dona de um bistrô na Aliança Francesa.

Apesar do empenho em esquecer rivalidades, um resquício do passado belicoso resiste no hall do consulado francês, onde um painel homenageia os soldados fran­co-bra­si­lei­ros mor­tos na I Guerra. Não há dúvida, porém, de que os tempos são outros. “Temos uma concorrência saudável”, diz o cônsul adjunto da Alemanha, Tarmo Dix. “É claro que sempre vai haver competição no setor empresarial e no futebol, e podemos ter divergências políticas. Mas funciona como em todo bom casamento: a gente discute, mas continua junto.” Que sejam felizes para sempre.

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