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Cientistas do Impa ganham mais espaço para pesquisa de ponta

Projeto será em terreno doado pela família Marinho e com arquitetura bancada pelo clã Moreira Salles

Por Saulo Pereira Guimarães
Atualizado em 2 jun 2017, 12h24 - Publicado em 10 out 2015, 01h00

Corria o ano de 1966, e em quatro minutos o estudante César Camacho ia, a pé, da pensão onde morava, na Rua das Palmeiras, em Botafogo, ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que ficava na transversal São Clemente. Peruano, ele fazia mestrado ali, e a biblioteca era uma das grandes atrações daquele pequeno prédio de três andares. Quase quarenta anos depois, muita coisa está diferente, a começar pelo próprio aluno, que agora é diretor-geral da instituição. Mas a maior novidade é que o Impa, que já teve endereço no Centro e desde 1981 está instalado no Jardim Botânico, vai passar por uma virada histórica: será ampliado. A obra, que se inicia em outubro de 2016, será financiada por clãs de muito nome e peso.

Para começar, a família Moreira Salles vai pagar pelo projeto arquitetônico, que será desenvolvido pelo escritório paulistano Andrade Morettin. A expansão, orçada em 100 milhões de reais (fornecidos pelo Ministério da Educação), tomará um terreno anexo ao prédio atual, doado pelo Grupo Globo e pela família Marinho. Localizado no Horto, ele é composto majoritariamente de mata intocada. Ali, entre muitas bananeiras, lagartos e borboletas convivem com gambás e até jiboias. São cerca de 250 000 metros quadrados (a ser acrescidos aos 30 000 atuais) de natureza pura, tão pura como a matemática gaba-se de ser. Mas apenas 8 000 metros quadrados de verde devem ser futuramente substituídos pelo concreto. Planeja-se criar gabinetes para pesquisadores, um auditório para pequenas reuniões e, principalmente, residências para mestrandos, doutorandos e cientistas visitantes. O restante mantém-se como está, e a floresta agradece. Se tudo der certo, o espaço ficará parecido com os cenários do filme Homem Irracional, de Woody Allen, no qual o ator Joaquin Phoenix vive um professor que mora numa belíssima vila universitária americana.

Concentração nas mesas de estudo: a biblioteca será preservada no novo projeto
Concentração nas mesas de estudo: a biblioteca será preservada no novo projeto ()

O objetivo da ampliação é fortalecer o Impa como centro de referência da matemática no país e, por que não dizer, na América Latina. Com oito áreas de pesquisa, o instituto, fundado em 1952, conta com mais de 200 alunos, quase metade deles de fora do Brasil. Dos cinquenta professores, dezoito são estrangeiros e todos recebem salários que variam de 16 000 a 22 000 reais. Tudo isso só é possível porque,  em 2001, a escola deixou de ser pública, transformando-se numa organização social, que permite uma gestão com menos entraves burocráticos e a entrada de investimento privado. Entre os colaboradores, há gente como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. E é o dinheiro de mecenas do conhecimento, como ele, que financia, por exemplo, as atividades do jovem Arthur Avila, premiado em 2014 com a Medalha Fields. “É o maior prêmio da matemática, já que não existe um Nobel na área”, explica Camacho. Aliás, esse modelo incomum de gerenciamento, combinado a mais de meio século de experiência, tem gerado resultados únicos no Brasil. No ano passado, artigos do instituto foram mais citados em pesquisas do que aqueles produzidos nas renomadas universidades de Berkeley, nos Estados Unidos, e Cambridge, na Inglaterra.

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Infografico
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Apesar disso, o Brasil ainda escorrega quando o assunto é somar, diminuir, dividir e multiplicar. Fomos o 58º colocado no ranking de matemática da última edição do Pisa, uma avaliação internacional de educação que envolve 65 países. Situações como essa vêm levando o Impa, que inicialmente era voltado apenas para a pesquisa em nível superior, a dedicar alguma atenção à educação básica. Desde 2005, o órgão promove a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, na qual 18 milhões de alunos realizam o mesmo teste, do Oiapoque ao Chuí. Além de estimular o interesse dos estudantes pela área, o concurso funciona como uma seleção de talentos. Muitos dos vencedores hoje seguem carreira no próprio instituto. Outro mérito desse tipo de iniciativa é gerar visibilidade para uma escola que, apesar de todo esforço e sucesso, ainda é mais conhecida dos pesquisadores gringos do que do carioca comum. Com a reforma de agora, a torcida é para que a instituição cresça em tamanho, é claro, mas especialmente em visibilidade e reconhecimento.

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