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Cercado de polêmica, campo de golfe olímpico vira oásis verde na Barra

Apontado como ameaça ao ecossistema da região, o campo de golfe olímpico volta a atrair espécies nativas

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 2 jun 2017, 11h58 - Publicado em 17 set 2016, 01h00

Primeiro foram as capivaras que viraram celebridade internacional pelas lentes da imprensa estrangeira. Depois, jacarés, preguiças, cobras e pássaros extasiaram os torcedores e jogadores no Campo de Golfe Olímpico, na Barra. Na falta de atletas renomados, como o australiano Jason Day, número 1 no ranking mundial, os bichos roubaram a cena durante a Rio 2016. Placas espalhadas no gramado, planejado especialmente para a Olimpíada e fruto de um projeto de recuperação ambiental, avisavam sobre possíveis encontros entre homens e animais. Bancado com recursos privados, no valor de 60 milhões de reais, o espaço agora receberá a 63ª edição do Aberto do Brasil, um dos mais importantes torneios do continente. O campeonato, que acontecerá entre 22 e 25 de setembro, com entrada grátis, reunirá os melhores golfistas da América Latina — e mais uma porção de convidados que se instalaram na propriedade sem cerimônia alguma. “Conseguimos mais do que dobrar a presença da fauna no local desde junho de 2013, quando começamos as obras”, afirma Carlos Favoreto, engenheiro-agrônomo responsável pela consultoria ambiental na área. Hoje, segundo ele, há registros de 263 espécies, contra as 118 catalogadas há três anos por ali.

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Concebido inicialmente pelo arquiteto americano Gilbert Hanse, referência no setor, com dezoito buracos e dois lagos artificiais, o projeto original do campo de golfe foi reformulado e adaptado de forma a seguir os parâmetros ecológicos. Tal tarefa coube a um time formado por sessenta especialistas, com vasta experiência em restauração ambiental, que também tem no currículo as obras do Parque Olímpico, do novo Elevado do Joá e da ecorrodovia RJ 165, construída para ligar as cidades de Paraty e Cunha. No lugar, com 1 milhão de metros quadrados, dos quais 58 000 estão dentro do Parque de Marapendi, os profissionais plantaram 35 espécies nativas — seis delas ameaçadas de extinção —, totalizando 900 000 mudas. As sementes foram cultivadas com adubo natural e sem agrotóxicos. Uma grama especial, vinda do Texas, nos Estados Unidos, foi usada na área de competição. Tolerante à seca, ela consome até 40% menos água, economizando na irrigação, feita a partir de aquíferos naturais. O oásis verdejante recriado na Barra permitiu, por fim, o resgate da fauna local, atraída pelo aumento de 167% da cobertura vegetal da região. Passaram a dar o ar da graça, por ali, até mesmo animais ameaçados de extinção no estado, como a rara borboleta-da-praia (veja o quadro). “Foi o maior programa de recuperação de vegetação de restinga já realizado no país”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz.

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campo de golfe olímpico barra
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Reconhecido como um dos melhores do mundo, o campo carioca recebeu da revista americana Golf Digest, a mais importante do segmento, o prêmio anual Green Star Award 2016. Pela primeira vez, um campo fora dos Estados Unidos conquistou a premiação, que avalia o cuidado ecológico no projeto. Ainda assim, o empreendimento continua sob fogo cerrado dos ativistas, contrários à instalação. Eles criticam o fato de a obra ter sido feita em um trecho da Área de Preservação Ambiental (APA) de Marapendi e por envolver também a construção de um luxuoso condomínio de edifícios residenciais dentro do complexo. A instalação do gramado e sua licença ambiental também são questionadas pelo Ministério Público Estadual, que move uma ação civil pública contra a construtora do empreendimento e a prefeitura. No entanto, para o professor e geógrafo Marcos Freitas, do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais, da Coppe UFRJ, trata-se de uma iniciativa bem-sucedida. “Às vezes é preciso ter a presença de uma atividade econômica para ajudar na preservação da natureza”, avalia. “É melhor regularizar a ocupação do que ter um parque abandonado como o Chico Mendes, no Recreio.” Cabe agora à Confederação Brasileira de Golfe, responsável pelo local nos próximos dez anos, cuidar dessa nova área verde da cidade, aberta ao público.

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