A anfitriã das estrelas
Com decoração impecável e convidados famosos, as recepções romovidas pela mineira Anna Vitória Motta Zammit em São Conrado hoje são as mais disputadas da alta-roda carioca
Pergunte a qualquer carioca bem relacionado, que costume frequentar os agitos das altas-rodas, sobre quem promove hoje as festas mais badaladas da cidade. A resposta quase certamente recairá sobre um nome até bem pouco tempo atrás desconhecido na sociedade: o de Anna Vitória Motta Zammit. Loura, bonita, 40 anos, a empresária mineira do ramo de joias, que adora roupas de grifes importadas, como o sofisticado modelo Herve Leger da foto ao lado, tem chamado atenção pela suntuosidade e pelo espalhafato de suas recepções. Debruçada sobre o mar de São Conrado, a cobertura de 1?000 metros quadrados onde mora é palco frequente de celebrações regadas a Moët & Chandon, com a presença estrelada de artistas, empresários e jovens bem-nascidos da cidade. A lista, não raro, inclui celebridades internacionais, como o americano Jamie Foxx, ganhador do Oscar de melhor ator, ou o cantor Lenny Kravitz, que, há três semanas, foi direto do Rock in Rio para a casa dela. Enquanto ele se esbaldava em uma farta mesa de comida japonesa, na sala, coberta com piso de mármore travertino e obras de arte, 200 convidados se divertiam, entre eles o senador Aécio Neves, a atriz Ildi Silva, o cantor Gabriel O Pensador e a socialite paulista Ana Paula Junqueira. “Para dar festas, você precisa de tempo, amigos, disposição e dinheiro. Felizmente estou numa fase da vida em que tenho tudo isso”, diz.
Recursos financeiros, como ela mesmo admite, não são o problema. Para comemorar os seus 40 anos, completados em março, ela gastou cerca de 500?000 reais, em uma estimativa para lá de conservadora. Foram 700 convidados, com uma decoração caprichada e detalhes de superprodução cinematográfica. O terraço da cobertura ganhou sofás com tecido de oncinha, luzes rosa, cortinas vermelhas e orquídeas em profusão. A sala foi transformada num bistrô para 120 pessoas (vinte lugares a mais do que o Gero em Ipanema). No comando das carrapetas, dois DJs internacionais: o francês Michael Canitrot, que costuma tocar no Festival de Cannes, e o português Pete Tha Zouk, um dos mais cultuados no mundo. O agito contou ainda com um pocket show do brasileiro Seu Jorge. Para dar uma dimensão do desembolso, só o cachê do cantor, para uma apresentação de 40 minutos, custa em torno de 100?000 reais. Já a empresa de festas mineira Verde que Te Quero Verde, contratada para a ocasião, cobra a partir de 500 reais por convidado. “Não há dúvidas de que as melhores festas da cidade agora são dela. Bota todo mundo para balançar o esqueleto até de manhã”, afirma a socialite Narcisa Tamborindeguy. “Não falta nada. Ela recebe em grande estilo e com um serviço impecável”, completa a estilista Lenny Niemeyer.
Criada na Pampulha, bairro nobre de Belo Horizonte, Anna Vitória habituou-se a ter sempre muita gente em casa. Seus pais, o empreiteiro Jorge Motta, já falecido, e a designer de joias Elizabeth de Athayde, costumavam dar jantares a rigor para a sociedade mineira. Quando se casou, aos 19 anos, com o administrador Sérgio Cardoso Motta, ex-secretário estadual em dois governos de Minas Gerais, foi ela quem passou a organizar as recepções familiares ? mas nada parecido com as festanças atuais. Sua história começou a mudar há quatro anos, quando se separou do primeiro marido. Logo depois do divórcio, engatou um namoro de quinze meses com o empresário Germano Gerdau, 79 primaveras, vice-presidente do Conselho de Administração da empresa que leva seu sobrenome, o 12º maior grupo privado do país, que faturou 38 bilhões de reais em 2010. Além de um apartamento tríplex em BH, ela ganhou do amado a cobertura de São Conrado, que tem cinco amplos quartos ? na planta original eram dez dormitórios. Embora Anna Vitória negue, comenta-se que o ex-namorado a presenteou com 50 milhões de reais. Alguns apostam no dobro. “Ele foi muito generoso comigo, mas, ao contrário do que dizem, eu não sou uma gata borralheira que virou cinderela”, argumenta. “Só não posso ser hipócrita e negar que minha vida tenha ficado mais tranquila depois do nosso relacionamento.”
Com 1,62 metro e 52 quilos, corpo sarado e aparentando bem menos idade do que tem, a anfitriã mais badalada da cidade se divide hoje entre Belo Horizonte e Rio, para onde vem a cada quinze dias. Na capital mineira, ela se dedica basicamente aos três filhos, Felipe, 19 anos, Eduardo, 16, e Vitória, 8, e a sua empresa, a Fiamma. A fábrica de joias vende apenas no atacado, exportando peças para os Estados Unidos, a Europa e o Oriente Médio. A faceta travessa de Anna Vitória só desabrocha por aqui. “Festa com carioca é sempre mais animada”, dispara. Que o digam os que foram ao seu enlace com Mark Zammit, nascido na pouco conhecida República de Malta, no Mediterrâneo, 37 anos, ex-diretor de marketing da L?Oréal no Brasil. Há dois anos, Anna alugou o espaço de eventos do Forte de Copacabana por um mês e construiu ali, durante três semanas, uma estrutura gigantesca para celebrar seu matrimônio. Com 3?500 metros quadrados, a área tinha capela, salão de jantar, boate e lounges para 1?000 pessoas. Inspirada na Ilha de Santorini, na Grécia, a decoração ganhou vasos de murano, lanternas marroquinas, paredes de água (duas lâminas de vidro com líquido corrente) e milhares de rosas e tulipas brancas. Para animar a pista de dança, foram contratados quatro DJs, dois deles estrangeiros, e a cantora americana Michele Weeks. Calcula-se que a recepção, que se estendeu por doze horas, tenha custado cerca de 3 milhões de reais. “Hoje posso me dar ao luxo de festejar quando eu quero. Já tive meu tempo de trabalhar, criar filhos pequenos e formar uma rede de relacionamentos”, comenta. “Em todas as suas festas, há um mix interessante de pessoas do Rio e de outros estados”, diz o empresário mineiro Henrique Pinto, um dos presentes na inesquecível noitada, ao lado do ex-ministro Sérgio Amaral, do empresário Alexandre Birman, da ex-modelo Angelita Feijó e das atrizes Paola Oliveira e Alinne Moraes.
[—FI—]
Sua aceitação entre os nomes mais reluzentes da vida social carioca deu-se aos poucos, mas hoje Anna Vitória está totalmente assimilada. Por ironia do destino, algumas das peças que decoram seu belíssimo imóvel pertenceram a Carmen Mayrink Veiga, outrora uma das mais conhecidas hostesses da capital. Elas foram arrematadas por Gerdau em um leilão e oferecidas à então namorada. Entre os mimos estão quatro telas de Milton Dacosta, dois quadros chineses da dinastia Qing (1780-1830) e um aparelho de jantar Imari, porcelana japonesa feita desde o século XVI na região de Arita. A maioria dos objetos do apartamento, que incluem ainda dois desenhos de Candido Portinari e telas de Beatriz Milhazes e Burle Marx, é mantida durante os embalos. “Até hoje, só tive pequenos problemas”, conta Anna Vitória. No início do ano, ela abriu a casa para uma festa de promoção da Mokai ? boate de Miami com filial em São Paulo ?, e desapareceram uma escultura de madeira e um abafador da cozinha. O jovem larápio, um dos 400 convidados, foi flagrado pelas câmeras do prédio e acabou devolvendo tudo com um buquê de flores. Na festa em homenagem a Lenny Kravitz, sumiu justamente a dedicatória do cantor, que estava em um livro de presença posto na entrada do apartamento. “Para os convidados, corre tudo sempre perfeito. Ela recebe como poucos”, observa o empresário Rico Mansur, que, além de usar a cobertura para o evento da Mokai, comemorou ali seu aniversário.
No universo dos festeiros cariocas, há celebrações de perfis variados. A socialite Andrea Dellal, por exemplo, faz o estilo intimista, com poucos mas nobres convidados. Não raro, seu apartamento no Arpoador recebe membros da realeza europeia. O empresário paraibano Ricardo Rique gosta de misturas mais heterodoxas, recepcionando de artistas a garotas em busca de ascensão, seja social, seja na carreira. Anna Vitória se destaca pela opulência. Suas festas seguem a receita de excelente comida, bebida farta e gelada, música de qualidade e, sobretudo, uma lista poderosa. Além de bem relacionada, ela costuma recorrer em certas ocasiões a profissionais, como a promoter Isabela Menezes, para cuidar da organização. Foi assim nas duas festas que ofereceu a Jamie Foxx quando ele esteve na cidade para lançar a animação Rio, da qual era um dos dubladores. O ator e cantor americano, que a mineira conhecera num hotel em Miami, queria ser apresentado a brasileiras “com curvas”. Chamado para a noitada, o astro gostou tanto que marcou presença mais uma vez. “Adoro conhecer pessoas novas. A minha cobertura está sempre aberta aos amigos dos amigos”, diz Anna Vitória. É a mais pura verdade. A cada ribombante festejo, ela abre as portas para os vizinhos de prédio, como Priscila Szafir, irmã de Luciano Szafir, e os pais do prefeito Eduardo Paes. Costuma mandar uma cartinha em que se desculpa antecipadamente por qualquer transtorno e os convida sempre. “Fiquei impressionado com a quantidade de gente famosa”, lembra o ex-jogador Edmundo, que aceitou um desses convites na época em que morava no edifício. Detalhe: em qualquer festa, a mineira brinda os presentes com champanhe em abundância ? calcula uma garrafa por pessoa, o dobro da média dos bufês. “Não consigo barrar ninguém. Às vezes, nem atendo o celular para não ter problemas”, confessa.
[—FI—]
Tamanha dedicação à cartilha da boa anfitriã já lhe rendeu, além de fama no grand monde, uma proposta para participar do reality show Mulheres Ricas, da Rede Bandeirantes, ao lado da amiga Narcisa Tamborindeguy e de Val Marchiori, uma espécie de Anna Vitória de São Paulo. Ela respondeu que não, obrigada. Não porque lhe faltem requisitos compatíveis com o título do programa. Pelo contrário. Ela anda de carro importado ? usa no Rio um BMW X5 zero-quilômetro, que custa na faixa de 350?000 reais ? e vive com roupas de marcas estrangeiras, como Dolce&Gabbana, Pucci e Cavalli, suas preferidas. Relógios e joias são outras de suas paixões. Na sessão de fotos para esta reportagem, ela usou inicialmente um brinco de turquesa com água-marinha, trocou por um de brilhantes na forma de uma espiral e, por fim, optou por um par com esmeraldas. “Eu não sou uma pessoa pública, não tenho por que me promover num programa de TV”, justifica. Roubar a cena, para ela, só mesmo numa festa.