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Maratona do Rio movimenta 200 milhões de reais

Com 26 000 participantes de 61 países, a mais importante corrida de rua do Brasil revigora a economia da cidade

Por Cibele Reschke e Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 12h32 - Publicado em 18 jul 2015, 01h00

São muitos os motivos que levam uma pessoa a participar de uma maratona, a prova mais extenuante do atletismo, em que os corredores têm pela frente exatos 42,195 quilômetros. O empresário João Traven, 53 anos, decidiu encarar a Maratona de Nova York no fim dos anos 80 como um desafio pessoal. Enquanto suava e resfolegava ao percorrer as ruas e avenidas de Manhattan, só pensava na incrível aglomeração de atletas e em quanto dinheiro aquela prova deveria render aos organizadores e à própria cidade. Desde então, a ideia de fazer algo semelhante no Brasil não lhe saiu da cabeça. Hoje, Traven, ao lado de seu sócio Carlos Sampaio, 56, outro corredor diletante, está à frente da organização da Maratona do Rio, a mais importante prova de rua do Brasil. No próximo domingo, dia 26, cerca de 26 000 esportistas vão desfrutar um dos cenários mais bonitos do planeta — a orla entre o Pontal e o Aterro do Flamengo — e deverão movimentar quase 200 milhões de reais na economia da cidade. Sob o comando de Traven e de Sampaio nos últimos doze anos, a prova esbanja vigor e gera negócios em setores distintos como artigos esportivos e cosméticos, passando por aplicativos para smartphones. “Acreditamos que essa prova tem um potencial imenso, principalmente por acontecer em uma cidade que dentro de um ano vai sediar uma Olimpíada”, diz Traven, dono da empresa Spiridon, que organiza a disputa. 

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O otimismo dos organizadores é sustentado por dados robustos, sobretudo em um momento de marasmo econômico, como o que vivemos hoje. De acordo com um levantamento do Ministério do Esporte, a corrida é o quinto esporte mais praticado no país, com cerca de 6 milhões de adeptos. Profissionais da área, no entanto, estimam que o número seja pelo menos três vezes maior. Outra pesquisa da consultoria internacional Crowe Horwath RCS mostra que cerca de 70% dos praticantes têm entre 35 e 59 anos e alto poder aquisitivo, com salário médio acima de 5 000 reais. Neste ano, 65% dos atletas que participarão da maratona virão de fora da cidade. Entre eles, mais de 1 000 são estrangeiros, provenientes de 61 países. As inscrições para o evento, que inclui ainda a Meia Maratona (21 km) e a Family Run (6 km), esgotaram-se há seis meses. Não por acaso, grandes empresas enxergaram na prova uma vitrine única para seus produtos, como acontece com a fabricante de isotônicos Gatorade e a de artigos esportivos Olympikus, que têm contratos fechados até 2016 e já manifestaram a vontade de manter o apoio a partir de 2017. “É importante estar no Rio neste momento. É um acontecimento de visibilidade internacional, que reúne nosso público-alvo e tem um enorme potencial”, diz Paulo Mündel, diretor de marketing da maior fabricante brasileira de tênis.

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O apelo da Maratona do Rio se deve, em parte, a um esforço estratégico dos organizadores. Entre os parceiros da Spiridion na empreitada está a Dream Factory, empresa de marketing responsável pelo Carnaval de rua do Rio, pela árvore de natal da Lagoa e por festivais musicais como o Sónar, de São Paulo. Como acontece em grandes eventos de entretenimento, a prova reserva novidades a cada edição. Neste ano, os atletas contarão com um aplicativo de celular que permite a torcedores acompanhar a localização dos maratonistas. Os participantes também poderão ter fotos postadas no Facebook, em tempo real, ao longo do percurso. E quem quiser correr com uma trilha sonora especialmente criada para o deslumbrante cenário carioca disporá de um canal de música exclusivo no Spotify para os participantes. “A maratona mexe com o sonho das pessoas o ano todo, e os investimentos seguem o mesmo caminho”, ressalta Duda Magalhães, diretor da Dream Factory.

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No mundo inteiro, corridas com grande poder de atração como a do Rio deixaram de ser eventos meramente esportivos. É comum os organizadores aproveitarem a aglomeração de atletas na retirada dos kits (camiseta, número de inscrição, entre outros brindes), que acontece durante os três dias que antecedem a prova, para promover uma feira temática no local. “É igual aos parques dos Estados Unidos. Você sai dali e cai direto no irresistível paraíso do consumo de artigos esportivos”, diverte-se a cantora Zélia Duncan, que está inscrita na maratona da cidade e já participou das tradicionais provas de Chicago, Berlim e Tóquio. Criada no ano passado, a Rio Run Market, feira paralela à maratona carioca, movimentou mais de 2 milhões de reais em sua estreia e a previsão é que cresça pelo menos 25% neste ano. O público esperado é de 35 000 pessoas, 10 000 a mais do que na primeira edição. Entre os expositores confirmados está a Pink Cheeks, marca de cosméticos para esportistas criada por três maratonistas. Em 2014, durante os três dias da feira, a empresa vendeu o equivalente a 40% do seu faturamento médio mensal. “Corredor anda em bando. Não compra um livro só para ele, mas também para o amigo, o pai e o treinador”, brinca o médico Drauzio Varella, 72 anos, maratonista há vinte, que acaba de lançar o livro Correr. Ele teve a ideia após participar da prova do Rio em 2013. Além de divulgar a obra no evento, Drauzio dará uma palestra aos participantes.

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As características geográficas da cidade, que incluem longos trechos à beira-­mar e percursos íngremes cercados de verde, são um convite à corrida. Só no ano passado foram registradas no município 85 provas oficiais — uma média de sete por mês. A Maratona do Rio, de longe a que demanda o maior esforço logístico, requer um planejamento de quase um ano e envolve números grandiosos (veja o quadro abaixo). O processo de confecção das medalhas distribuídas a todos os participantes, feito por uma fábrica de Caxias do Sul (RS), leva seis meses e inclui catorze etapas de produção. Em eventos dessa proporção, a cidade inteira é mobilizada. Mais de seis meses antes de sua realização é difícil encontrar um quarto para a data nos principais hotéis do Centro, Flamengo e parte de Copacabana. Há até estabelecimentos que se especializaram em receber o turista-corredor, como o Mar Palace, em Copacabana. Queridinho dos atletas, o hotel freta vans para levar os competidores até o local de retirada do kit das provas, serve café da manhã a partir das 4 horas (as competições começam muito cedo) e não cobra nenhum valor extra pelo check-out tardio. “O que eu faço é investimento. Os empresários deveriam valorizar mais o filão do esporte, que é uma das nossas principais vocações”, diz Rafael Passos, 40 anos, triatleta e dono do estabelecimento.

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Popularizadas na década de 70, as maratonas contabilizam mais de 500 provas em todo o mundo. Das mais tradicionais, como a de Boston, que tem 118 anos, às mais exóticas, como a da Grande Muralha da China e a do Círculo Polar da Groenlândia, disputada sob temperatura de 10 graus negativos. Além de ser uma grande festa do esporte carioca, a versão deste ano da Maratona do Rio funcionará como uma prévia daquela que será uma das disputas mais emocionantes da Olimpíada de 2016. Embora os 42 quilômetros olímpicos tenham um percurso diferente — saída do Sambódromo, passando por pontos turísticos do Centro, Aterro, Enseada de Botafogo, e retorno à Marquês de Sapucaí —, os dois eventos produzirão efeitos semelhantes. Não apenas mexem com a rotina da cidade, como engajam a população e servem de estímulo à prática esportiva. “Várias pessoas vão para a rua assistir. Minha família vê o meu exemplo e fica com vontade de correr também”, comenta a apresentadora de TV e nutricionista Cynthia Howlett, 38 anos, que participou pela primeira vez da maratona carioca no ano passado e repetirá a dose no próximo domingo. Como ela, estarão presentes o corredor brasileiro Giomar Pereira da Silva, campeão da maratona em 2013, e os astros-corredores quenianos David Bowen e Willy Kimutai. Os três, entretanto, têm um objetivo bem claro ao disputar a prova: acumular pontos para garantir uma vaga na Olimpíada, já que a corrida é chancelada pela Federação Internacional de Atletismo. Com cerca de sessenta atletas de elite confirmados, a maratona será um saboroso aperitivo para 2016. ■

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