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Joãozinho King torra 3 milhões de reais em camarote no Sambódromo

Dono de uma empresa de blindagens, o empresário investiu em um espaço de 1 000 metros quadrados no setor 8

Por Alessandra Medina
Atualizado em 4 mar 2017, 11h30 - Publicado em 4 mar 2017, 11h30

João Carlos Martins Maia nunca fez novela nem participou de reality show, mas na noitada do Rio ele é tratado como uma celebridade. Por onde passa, sempre acompanhado de sua entourage — pelo menos dois seguranças e um séquito de belas mulheres —, o empresário de 43 anos faz questão de ser fotografado com artistas, sambistas e jogadores de futebol. Fissurado pelo oba-oba do Carnaval, em 2017, Joãozinho King, como é chamado pelos amigos, resolveu inovar e apostar numa farra monumental em plena Marquês de Sapucaí. Batizado de Camarote do King, o espaço ocupou 1 000 metros quadrados do setor 8, próximo ao segundo recuo da bateria. Tinha capacidade para 1 000 pessoas em cada uma das quatro noites de festa — incluindo o desfile das campeãs —, mas ele optou por só receber 800 — 300 convidados e 500 pagantes, com ingresso cotado em 2 000 reais por dia. Uma vez lá dentro, o folião era mimado com open bar, que contava com champanhe e bufê de canapés e de comidinhas chiques. “É tudo top aqui, muito top! É para ninguém sair falando mal. Você sabe, né, se o cara paga 250 reais, ele quer beber 5 000”, diz ele.

Tudo muito “top”: o espumante com o nome do empresário
Tudo muito “top”: o espumante com o nome do empresário (Daniel Ramalho)

Dividido em três andares, o camarote consumiu 3 milhões de reais, valor que até a Quarta-Feira de Cinzas ninguém sabia ao certo se seria coberto ou não pela venda de ingressos, e era composto de cinco ambientes, todos batizados com o nome do dono. O King’s Spa, por exemplo, reunia maquiador e massagista, enquanto o espaço King’s Night funcionava como boate. Já o cercadinho vip ficava no King’s Second Floor. Foi ali que Joãzinho recepcionou seus convidados (os pagantes tinham de se contentar com o First Floor mesmo). Na porta, um segurança só permitia a entrada de amigões do chefe. Passaram por lá os cantores Mr. Catra e Ludmilla, a musa do camarote Mirella Santos e seu marido, o humorista Ceará, ex-Pânico, a socialite Narcisa Tamborindeguy e Nina Stevens, viúva do ex-CEO da Rolex Patrick Heiniger. Entre uma baforada e outra de charuto Montecristo Open, um clássico cubano de 160 reais a unidade, o anfitrião recebeu ainda os jogadores de futebol americano Julio Jones e Justin Hardy, do Atlanta Falcons, que perdeu de virada a final do Superbowl 2017 para o Patriots, equipe liderada por Tom Brady, marido de Gisele Bündchen. “Festa para ser boa tem de ter um mix de convidados tops e mais mulheres do que homens, é claro. Caso contrário, homem vai dar em cima de mulher acompanhada e vai acabar em briga”, explica o anfitrião. Para garantir que o contingente feminino ficasse sempre acima do masculino, King contratou um grupo de modelos vindas de Porto Alegre, para as quais pagou passagens aéreas e hotel.

Múltiplos ambientes: além de spa, havia uma boate no camarote de 1 000 metros quadrados
Múltiplos ambientes: além de spa, havia uma boate no camarote de 1 000 metros quadrados (Daniel Ramalho)

João Maia virou King depois de bater ponto todas as noites na Nuth, casa noturna da Barra da Tijuca. Ali se portava como o rei da boate, esbanjando pequenas fortunas em bebidas de primeira linha. Um dia, alguém disse que ele era o King do pedaço, e o apelido ficou. A fama cresceu a partir de 2010, quando o empresário começou a promover a Feijoada do King, toda terça de Carnaval, também na Barra. Hoje, o evento atrai 2 500 pessoas a cada edição a um custo, totalmente bancado por ele, de 90 000 reais. “Essa é minha festa, porque aniversário já nem comemoro mais. Em casa, então, nem pensar! Iam mais de setenta pessoas nas ‘prés’ que eu fazia no meu apartamento. Quando começaram a quebrar copo e a esconder embaixo do sofá, parei, né? Minha casa não é botequim!”, afirma.

Criado em Bonsucesso, subúrbio do Rio, desde pequeno King gosta de festejar. Na adolescência, as comemorações eram bancadas pelo tio de consideração, Kiko, guitarrista da banda Roupa Nova. A hiperatividade, que não lhe permite ficar parado na mesma posição por mais de cinco minutos, já foi problema nos tempos de colégio. Para fugir da sala e matar aula, ele dizia às professoras que precisava ir ao banheiro ou beber água. “Por causa desse comportamento dele, eu cheguei a ser chamada no colégio. Perguntaram se ele tinha problema nos rins. Era sem-vergonhice mesmo. Eu disse que lhe daria uma surra se ele continuasse a fazer isso”, lembra a mãe, a ex-escrivã da Polícia Civil Eliane Martins. O pai de King, também conhecido como João Doido, era dono de alguns pontos de jogo do bicho no subúrbio e morreu quando ele tinha 10 anos. Depois disso, a família passou por dificuldades. “Havia dias em que só tinha dois bifes, e eu comia ovo. E, quando a situação apertava para valer, eu corria para a casa do meu pai”, lembra Eliane.

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Atualmente, King é dono da MG Tech Blindagem, empresa recomendada pela concessionária AGO para blindar os carros Mercedes-Benz que revende. Para a polícia, o negócio da família é outro: exploração de máquinas de caça-níqueis. “Não tem nada disso. As pessoas falam demais, falam sobre o que não sabem. Sou empresário”, critica. Em agosto de 2011, King foi acusado de participar do assassinato de um policial. De acordo com o processo, a confusão começou na área vip da boate The Week, no Centro, quando outro policial, apontado como seu segurança, disparou contra o PM. Um ano e meio depois, João e o amigo foram absolvidos pela Justiça. Por pouco King escapou de ser preso, ao conseguir uma liminar de revogação da prisão e responder ao processo em liberdade. Em compensação, não podia frequentar boates, shows nem casas noturnas. “Foi o pior momento da nossa vida. Era muito difícil mantê-lo em casa depois das 10 da noite”, lembra a mãe. Na época, ele chegou a pedir à Justiça autorização para comemorar o réveillon em uma boate, alegando que isso fazia parte “da tradição brasileira”, mas o pedido foi negado. A irmã Lilian Martins Maia também já foi alvo da polícia. Em 2007, a empresária — que foi presidente da escola de samba Estácio de Sá — teve seus sigilos fiscal e bancário devassados pela Justiça do Rio na Operação Hurricane, que investigou as quadrilhas de máquinas de jogos de azar. Em 2015, o nome de Lilian voltou ao noticiário, dessa vez porque ela tinha vendido uma cobertura de luxo na orla da Barra por um preço abaixo do valor de mercado ao encrencado presidente da CBF, Marco Polo Del Nero.

Adepto inveterado das noitadas, King é solteiro e não pensa em se casar. Seu último relacionamento sério foi há oito anos, com a modelo Laudy Salame, mais famosa por ter se candidatado — sem sucesso — a uma vaga no reality show A Fazenda, da Record. Ela chegou a engravidar de gêmeos, mas perdeu os bebês. Antes disso, King havia sido noivo da empresária Vivian Trindade. “Como vou casar, ter filhos e ir me divertir em Ibiza? Não tem como”, diz esse amante do badalo, que viaja pelo menos duas vezes por ano para a agitada ilha espanhola. Nesses passeios, como não fala uma palavra em espanhol, inglês ou outra língua que não seja o português, costuma ser ciceroneado por Flávio de Goes Barra, um moreno alto, simpático e musculoso. “Ele é top! Já morou em Mônaco, Paris. Hoje está em Ibiza. Fala francês, inglês e recebe príncipes. É meu concierge no mundo”, define. Numa dessas escapadas para a Europa, King conheceu o estilista francês Christian Audigier, que fez sucesso à frente de marcas como Ed Hardy e Von Dutch e morreu em 2015. Eles ficaram tão amigos que, por sugestão de King, Audigier resolveu criar um espumante e virar sócio do brasileiro na comercialização da bebida. “É top! Custa 89 reais a garrafa, porque é feita pelo método champenoise. Mas não gosto. Meu negócio é vodca, que combina com guaraná, suco, com tudo”, diz ele.

King mora num apartamento no Edifício Saint Tropez, um dos mais requintados da Praia da Barra, o mesmo onde fica a cobertura que a irmã vendeu ao cartola encrencado da CBF. Hoje, ele não conta mais com a marcação cerrada da mãe. Durante anos, ela, da sua casa, ao lado do prédio, monitorava o apartamento do filho. “Eu acordava e via a casa dele cheia de mulher. Ia lá e botava todas para correr. Imagina se uma menina bebe e se joga da janela? Quem vai levar a culpa é o Joãozinho”, conta ela. King chegou a reclamar da vigilância da mãe, mas as coisas melhoraram muito quando ela se mudou para uma casa no condomínio Novo Leblon. “Ele reclamou de falta de privacidade. Falta de privacidade é minha mão na cara dele”, diverte-se dona Eliane, que recebe o filho todos os dias para o almoço. “Somos muito família: Páscoa, Dia das Mães, Natal… passamos sempre todos juntos”, afirma ela. E é com a ajuda da família — a mãe, a irmã e o cunhado — que ele pretende continuar com a empreitada do Camarote do King no ano que vem. Em seus planos, a área terá o dobro do espaço. “Vai ficar mais top ainda!”, promete.

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