Como se fosse verdade
O documentarista Andrew Jarecki estreia na ficção com um drama baseado em fatos reais
AVALIAÇÃO ✪✪✪
É gratificante quando um documentarista ultrapassa as barreiras para fazer um filme de ficção. Andrew Jarecki, diretor de Na Captura dos Friedmans – um dos melhores documentários da década, sobre o caso de um professor judeu acusado de pedofilia por seus alunos -, acaba de entrar para esse vitorioso time. O drama Entre Segredos e Mentiras, sua primeira empreitada longe do cinema-verdade, foi inspirado em fatos reais e traz uma história intrigante, além de dois ótimos atores.
A trama cobre cerca de quarenta anos da vida de David Marks (Ryan Gosling, de Namorados para Sempre). Em 1971, o jovem playboy conhece a meiga Katie (Kirsten Dunst, do recente Melancolia) e se apaixona por ela de imediato. A família dele não aprova a união. Seu pai (papel de Frank Langella), ricaço do ramo imobiliário de Nova York, pretendia ter para sempre o filho ao seu lado nos negócios e uma nora mais adequada ao estilo de vida grã-fino. David dá de ombros e vai morar com a amada num sítio, onde abre uma loja de produtos naturais. O comércio não prospera e eles voltam para Manhattan. David reassume o trabalho com o pai e, dia após dia, a relação do casal vai ficando insustentável. Para desgosto dele, a moça quer liberdade e entra na faculdade de medicina. David surta, espanca Katie e, em 1982, ela desaparece misteriosamente.
Uma das grandes virtudes da fita: distanciar-se do gênero policial e focar, sobretudo, os desgastes dramáticos do casamento. Jarecki havia feito algo similar em Friedmans, no qual importava mais o tormento familiar após o caso do que o crime em si. Com a narrativa absorvente de antes, o cineasta consegue de novo fisgar a plateia, embora, aqui, o desfecho aponte para um caminho obscuro.
Entre Segredos e Mentiras, de Andrew Jarecki (All Good Things, EUA, 2010, 101min). Cinemark Downtown 5, Estação Vivo Gávea 2, Kinoplex Fashion Mall 3, Roxy 3.