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Vamos fugir

Seja para ganhar um troco, seja para escapar do caos anunciado, cariocas alugam seus imóveis no Mundial

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 13h09 - Publicado em 30 abr 2014, 17h38

A um mês e meio do início da Copa do Mundo, o Rio prepara-se para encarar quatro semanas intensas. Dependendo do ponto de vista, pode ser uma boa ou uma má notícia. No caso de Fernanda Leite, pesquisadora de mercado residente em Ipanema, trata-se das duas coisas ao mesmo tempo. Temerosa do caos que pode se instalar na cidade, ela vai aproveitar o período da competição para excursionar pela Europa. “O bairro já está confuso com as obras do metrô. Imagine como vai ficar quando aqui estiver superlotado”, preocupa-se. Ela embarca no começo de junho e só retorna 45 dias depois, um prazo seguro para encontrar o Rio com seu cotidiano retomado. Mas a balbúrdia também tem seu lado postitivo. A viagem dela será toda bancada com o dinheiro do aluguel do seu imóvel ao longo do torneio.

Fernanda faz parte de um grupo expressivo de cariocas que enxergou no Mundial uma ótima oportunidade de faturar um bom dinheiro com a locação de seu próprio teto. Fechado o negócio, resta ao proprietário fugir para o exterior ou para a casa de um parente em busca de abrigo temporário. Moradora da Avenida Atlântica, a arquiteta Teresa Ferreira deixará vago o amplo apartamento com vista para a Praia de Copacabana. Em seu lugar, um grupo de chineses ocupará o endereço. “Tive uma procura enorme. Os estrangeiros ficam abismados com a vista daqui”, conta ela, que vai se hospedar na casa de uma amiga. O sacrifício não será em vão. Com a diária de 1000 reais que receberá dos inquilinos, Teresa planeja comprar um carro zero-quilômetro.

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No movimento contrário de quem sai, uma legião estimada em 420?000 turistas deve desembarcar no Rio durante a Copa, com a expectativa de injetar na economia doméstica mais de 3,5 bilhões de reais. Essa enxurrada de visitantes é a principal responsável pelo extraordinário aquecimento no mercado de aluguel de imóveis para curta temporada, numa cidade de reconhecido déficit no sistema hoteleiro para dar vazão ao afluxo dos megaeventos. Referência no assunto, o AirBnb, site internacional de locação de quartos e apartamentos, espelha a agitação do setor. Há 9?000 endereços anunciados no Rio, num salto de 50% de janeiro para cá (veja o quadro). Para efeito de comparação, São Paulo, a segunda cidade no ranking, não ultrapassa 3?500 unidades disponíveis. Seis de cada dez negócios fechados pelo site nas cida­des-sede se referem ao Rio. “O mercado carioca hoje se equipara aos de Paris, Nova York e Londres”, afirma Samuel Soares, gerente de marketing do AirBnb.

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Atividade até pouco tempo restrita a apartamentos acanhados e, na maior parte das vezes, sem grandes atrativos, o aluguel por temporada atualmente difere de tudo o que já se viu. Endereços de alto padrão na Zona Sul têm diária a mais de 7?000 reais, e um três-quartos perto do Maracanã alcança a inacreditável cifra de 80?000 reais de mensalidade. Em um caso extremo, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno embolsou 1,5 milhão de reais ao disponibilizar sua cobertura no Leblon para o presidente da Fifa, Joseph Blatter. Diante desses apelos financeiros, cariocas que nunca pensaram no turismo como forma de renda aderem à modalidade, impulsionados pelas facilidades do serviço on-line. “Se fosse alugar da forma tradicional, demoraria um ano para lucrar o que ganharei só no mês da Copa”, diz o empresário Fábio Nahon, referindo-se ao imóvel na Rua Siqueira Campos, em Copacabana, onde mora com a mulher, Andreia Rezende, que vai render ao casal a bagatela de 50?000 reais. “Acho muito caro, mas há demanda para isso”, afirma. Atento ao que aconteceu na Olimpíada de Londres, quando a disparada no preço dos aluguéis acabou provocando diversos encalhes, o administrador Eduardo Serrado, do site House in Rio, faz um alerta. “Criou-se a ideia de que qualquer apartamento será facilmente alugado, e não é bem assim”, diz. “O hóspede quer preços justos.”

O repentino desapego dos moradores, no entanto, requer cuidados. Afinal, deixar um apartamento vazio nas mãos de estranhos pode trazer dinheiro, mas também muita dor de cabeça, como aparelhos eletrônicos quebrados e o sumiço de peças. Uma precaução fundamental por parte do proprietário é checar na internet a reputação do interessado. Os sites disponibilizam perfis em que é possível comentar e avaliar as experiências com o locatário. Uma vez esclarecidas as dúvidas, resta a essa turma aproveitar a competição com muito dinheiro no bolso. Ainda que distante de casa.

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