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À caça de campeões

UFRJ e Gama Filho vão ajudar a garimpar talentos para a Olimpíada de 2016

Por Renan França
Atualizado em 5 jun 2017, 14h54 - Publicado em 5 ago 2011, 16h59
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A falta de apoio é a mais antiga, repetitiva e previsível queixa dos atletas brasileiros. É também o principal argumento para explicar o mau desempenho do país numa competição. Salvo no futebol, no vôlei e em uma ou outra modalidade em que há planejamento consistente, quase todos choram, quase todos se lamentam. Para começar a enxugar esse vale de lágrimas, duas universidades do Rio desenvolvem projetos de vulto que visam a formar talentos para a Olimpíada de 2016. Dona de um passado intimamente ligado ao esporte, a Gama Filho (UGF) se associou ao Botafogo e vai construir novas instalações no complexo do Estádio João Havelange. Além de acolher os cursos de educação física, fisioterapia e nutrição da UGF, o Engenhão funcionará como um laboratório para peneirar e lapidar promessas mirins e juvenis. Também multidisciplinar é o projeto que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz em parceria com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Um grupo selecionado de nadadores passará a ser monitorado por especialistas da área médica da UFRJ: cardiologistas, neurologistas, hematologistas e psicólogos. Em seguida, a ideia é usar o setor de biotecnologia para fazer o mapeamento genético desse pessoal. “Nosso objetivo é encontrar gente com potencial de alto rendimento”, diz Márcio Costa, reitor da Gama Filho.

Ao menos no discurso, o projeto olímpico da UGF nasce audacioso. Estão previstos gastos na faixa de 25 milhões de reais para a construção de uma quadra poliesportiva coberta, uma piscina olímpica, 32 salas de aula e catorze laboratórios de pesquisa. A universidade usará ainda as duas pistas de atletismo do complexo, uma ao redor do campo de futebol e outra na área externa do estádio. Até o fim deste mês, os três cursos deverão ser transferidos por completo para o Engenhão. Numa segunda etapa do processo, prevista para setembro, a Gama Filho vai recrutar crianças a partir dos 10 anos que demonstrem aptidão esportiva. Essa seleção será feita por técnicos da universidade e do Ministério dos Esportes, que circularão pelas vilas olímpicas existentes na cidade. Ao todo, o programa contemplará até 2?000 alunos, que poderão se aperfeiçoar em doze modalidades: atletismo, ciclismo, basquete, handebol, hóquei na grama, judô, tae kwon do, natação, vôlei, polo aquático, nado sincronizado e até bad­minton, um esporte de raquete e peteca pouco difundido no Brasil. Os escolhidos treinarão com os estudantes e professores da UGF e terão seu desempenho acompanhado de perto por nutricionistas, psicólogos e dentistas. Eles receberão uma ajuda de custo até poder postular uma bolsa. Desse time de apoio farão parte Bruna Figueiredo, Carla Silva, Eveline Moreno e Rodrigo Pellegrino, do 8º período de educação física. “Como profissional da área, quero muito encontrar e treinar um campeão”, diz Eveline, 24 anos.

satiro sodré/agif
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Ao investir na área desportiva, a UGF vai ao encontro, ou melhor, reencontro, de sua vocação, em baixa desde que perdeu sua vila olímpica, na Piedade, para a especulação imobiliária, há seis anos. Nas décadas de 70 e 80, ela foi uma referência ao acolher competidores de alto nível em diversas modalidades. Da seleção fizeram parte, por exemplo, o judoca Flávio Canto, bronze nos Jogos de Atenas em 2004, o velocista Robson Caetano, que subiu ao pódio em duas Olimpíadas consecutivas, e o campeão Joaquim Cruz (veja o quadro).

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Formar uma geração vitoriosa de atletas é um desafio e tanto para qualquer nação. Embora a história tenha mostrado maneiras diferentes de atingir esse objetivo, sabe-se que qualquer das alternativas exige tempo para frutificar. Na China, o regime ditatorial começou uma maciça garimpagem de talentos cerca de quinze anos antes da realização da Olimpíada de Pequim. Por determinação governamental, os alunos do 1º ano letivo, ali pelos 7 anos, passavam por avaliação física para identificar quem tinha potencial para o esporte de alto rendimento. Os que demonstravam capacidade técnica eram encaminhados para núcleos onde se submetiam a rigoroso treinamento. Assim, a ferro e fogo, o projeto chinês de potência olímpica vingou.

[—FI—]

Como felizmente não vivemos em uma ditadura, existem exemplos mais saudáveis ? e muito bem-sucedidos ? que podem servir de inspiração. O mais vitorioso deles é o americano. Por lá, são as instituições de ensino privado os maiores pilares de formação de esportistas. Trata-se de um sistema permanente de produção de atletas, em que as universidades competem entre si na busca de talentos dos mais variados esportes. Os campeonatos têm transmissão pela TV e os melhores competidores são selecionados para equipes profissionais ou mesmo para a delegação olímpica. As empresas, claro, ajudam no patrocínio desses cam­peões, e uma espiral virtuosa se forma.

Por aqui, o esporte vive de iniciativas isoladas. Mas não deixam de ser uma boa notícia os projetos da Gama Filho e da UFRJ. Esta última planeja entrar com força na garimpagem. Inicialmente, o programa vai trabalhar com 200 nadadores de variadas idades, que serão submetidos a minucioso check-up e contarão com acompanhamento médico. Claro, o objetivo é encontrar medalhistas do porte de um Cesar Cielo. “As potências olímpicas têm sempre um sistema educacional caminhando ao lado do esportivo”, afirma Lauter Nogueira, especialista em atletismo. “Essa é a melhor fórmula.” Ao que parece, aqui e ali já se trilha esse caminho. Mas, a apenas cinco anos dos Jogos do Rio, a revelação de competidores será, a exemplo da maioria das provas, uma dura corrida contra o relógio.

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